segunda-feira, 25 de abril de 2011

BONO É LEGAL

                 Bono Vox está muito além do clichê do astro politicamente correto. É um ícone pop com duas estranhas capacidades: manter uma grande banda unida por mais de 30 anos e realmente trabalhar duro pelas causas nas quais acredita.

                 Durante a década de 80, alguns destaques da música pop  começaram a luta por causas  causas assistenciais, aproveitando-se da sua grande exposição pública decorrente da carreira. Em 1984, Bob Geldof, ex-cantor da banda Boommtown Rats, resolveu empreender uma cruzada de ajuda a Etiópia, cuja população sofria do flagelo da fome generalizada. Um time de grandes estrelas pop da época foi escalado para gravar uma música, com o total da vendagem do compacto simples sendo usado em favor da nobre causa. E um dos destaques da gravação de Do They Know it's Christmas? foi Bono Vox, cantor do U2. Dessa turma reunida para gravar o tema, muitas estrelas já definharam sua luz. Mas Bono Vox continua vivíssimo. Tanto pela longevidade do U2 - são quase 30 anos de estrada - quanto por suas atuações filantrópicas fora dos palcos e estúdios de gravação. Bono construiu uma reputação de grande defensor de causas de interesse global e ganhou enorme reconhecimento par suas empreitadas.
               Antes mesmo de gravar um disco, 0 U2 era uma banda formada por amigos de escola em Dublin, capital da Irlanda, e vivendo sob a conturbada fricção entre católicos e protestantes. O grupo se formou sem maiores ambições além de ser uma banda de pub para tocar covers de grandes sucessos. Com o passar do tempo, trilhou um caminho de êxito, num crescente aprimoramento das temáticas das letras, da incomum harmonia e da capacidade musical de seus integrantes.  Um tema constante nas canções do U2 era a guerra. Depois veio a crítica a um sangrento atentado a bomba realizado pelo IRA). E veio a épica Pride (In the Name of Love), homenagem ao mártir da luta pela igualdade racial, Martin Luther King. 0 U2 despontou, foi reconhecido como uma banda fortemente engajada nas temáticas sociopolíticas que compunham a realidade ao seu redor. Eles  ganharam o mundo.
                 Já no fim dos 80 e começo dos 90, na medida em que o U2 partia para experimentalismos e se distanciava dos enfoques políticos para abordagens mais existenciais nas letras, Bono Vox começou a dedicar grande parte de seu tempo extrabanda para apoiar causas e ajudar organizações não governamentais. Diferentemente da forte crítica que muitas estrelas da musica pop dessa época recebiam quando resolviam fazer suas ações filantrópicas, Bono era cada vez mais reconhecido por seu empenho nessa área.
                   Mas de que vale a filantropia se não se enxerga quem está ajudando e quem está sendo ajudado? Bono aproveitou sua popularidade para ir mais além das críticas e dos protestos tão comuns na música do U2: resolveu agir. Virou figura constante nas mesas do Fórum Econômico Mundial de Davos, onde lutou pela moratória da dívida externa dos países africanos ou contra o desmatamento da Amazônia e o aquecimento global. Contribui para a Product Red - que reúne várias marcas de produtos cuja vendagem vai parcialmente para fundos anti-aids e outras doenças. Também trabalha contra as minas terrestres e demais empreitadas de fundo sociopolítico em andamento nos países pobres, especialmente na África. Em decorrência disso, já foi recebido por  alguns dos políticos mais influentes do mundo nos últimos anos - e todos aproveitaram para lhe outorgar comendas, medalhas e prêmios em reconhecimento por sua luta filantrópica. E Bono ganhou até uma indicação ao Premio Nobel da Paz.
                     Chama atenção o fato de Bono Vox ser poupado do patrulhamento empreendido contra o bom-mocismo, num mundo onde a grande mídia parece aguardar a hora em que a celebridade vai escorregar na passarela. Talvez porque Bono é tudo que não se espera de um líder de banda de rock: nunca se envolveu em escândalos, baixarias e intrigas comuns na cena viI das celebridades fúteis. Poderia bem ser comparado a uma espécie de Marisa Monte do rock, sempre passando ao largo dos paparazzi e dos gossip makers. Podemos até aceitar vê-lo figurando com sua esposa em um anúncio para uma famosa e requintada grife francesa de bolsas de madame - o cachê foi doado a fundos assistenciais na África... Ele consegue, depois de tantos anos, manter sua respeitável posição de ícone pop, sem pagar mico, nem receber os canhonaços que muitas celebridades menos preparadas atraem da mídia.
                   Bono está num patamar muito além do clichê do astro pop politicamente correto. Não é um "Mr. Nice  Guy" qualquer que se aproveita de causas nobres para aparecer. Não cria polêmicas vazias para se promover. Ele nem precisaria disso, já que aos 30 anos de estrada o U2 continua arrebatando multidões ao redor do mundo. Chega a ser estranho ver um cara que já conseguiu ir tão longe se dar ao trabalho de lutar por  tantas causas e conflitos que abalam, ameaçam e incomodam o ser humano comum no mundo de hoje. Já não seria uma grande tarefa manter ligados os canais para que uma banda consiga continuar com os mesmos integrantes na ativa depois de tanto tempo juntos? Se o U2 já era um dos principais referencias dos Paralamas do Sucesso no seu início, continua sendo hoje, tanto tempo depois.
                     Bono Vox é um contraponto para a anacrônica e desgastada imagem do roqueiro com cara de bandido. Tiro o chapéu para você, Mr. Bono!
                     (Condensado de João Barone, revista Lola, nº7, abril de 2011)

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