sábado, 30 de abril de 2011

HISTÓRIAS DE AMOR E TRAGÉDIAS (Cristóvão Tezza)


      A felicidade amorosa continua fiel ao destino de ser uma chama incerta e misteriosa.

      A mais célebre história de amor do Ocidente termina em tragédia. Romeu e Julieta se amam perdidamente, fruto de uma atração irresistível que sobrevive contra tudo e contra todos, mas não contra as forças do acaso. Por um pequeno mal-entendido,  ambos se envenenam e morrem. A moral da história imortalizada por Shakespeare vem exercendo um fascínio sobre nosso imaginário desde sempre. A lendária Guerra de Troia, há mais de 3 mil. anos, teve como gatilho uma história de amor: o rapto da princesa Helena por Paris, que se apaixonou por ela quando a conheceu em Esparta. O cerco a Troia que se seguiu durou uma década, gerando uma imensa cosmogonia literária, a partir da Ilíada e da Odisseia, de Homero, que marcou profundamente nossa civilização.
       Amor, tragédia e morte parecem assim interligadas pela história, pelo destino ou pelas circunstâncias. A percepção do que seria o inexorável fracasso das histórias de amor variou naturalmente ao longo do tempo. Para o mundo antigo, a ideia de destino costumava cobrir a totalidade das ações humanas - as coisas não dão certo porque estamos nas mãos dos deuses,  cujos desígnios são incompreensíveis e é inútil lutar contra eles. A partir da Renascença (e a tragédia de Romeu e Julieta é  uma referência),  começa a se desenvolver a ideia de que o homem pode, quem sabe, ser dono de seu nariz, ou investindo contra os deuses ou contra as circunstâncias. Seria preciso entretanto que a "sociedade dos indivíduos" que hoje nos define triunfasse completamente para que esse mantra mais ou menos absurdo - cada um faz o que quer e ninguém tem nada com isso - se tomasse uma espécie de senso comum, e até mesmo um direito, e o amar faria parte desse pacote moderno. O surgimento do conceito de amor livre - que tinha um sentido muito preciso nas comunidades hippies dos anos 60, a implosão de todas as amarras sociais - seria u ápice dessa suposta libertação.
          Utopias, entretanto, têm vida efêmera, e assim o amor continuou. digamos, com sua clássica rédea curta, por mais amplos que sejam os direitos do cidadão na sociedade ocidental contemporânea, A popularização do divórcio deu uma flexibilidade extra às manobras do amor, mas a felicidade amorosa, que parece gostar do escuro, continuou fiel ao destino de ser uma chama incerta e misteriosa De Shakespeare até nossos dias, as histórias de amor mais famosas tem sido também as mais desgraçadas. No século 19, Madame Bovary é destruída, com requintes de crueldade, pelo seu próprio sonho amoroso, Anna Karenina se joga debaixo de um trem. No Brasil, a atração de infância de Bentinho por Capitu deu no que deu - aquele filho com a cara do Escobar. Na grande literatura, o amor parece um empreendimento destinado ao fracasso. como se não tivéssemos aprendido nada nos três milênios anteriores.
          E não aprendemos mesmo. Histórias de amor¸ tentando explicar o que não compreendo -  são encontros tensos sonhando com a eternidade, o desejo do prazer perene sempre a um fio de desabar. Para entendê-las meio aos pedaços, temos de desembarcar do papel de amantes, colocar os óculos e pensar do lado de fora.
           Abri este texto assumindo o papel de "professor", que  é sempre confortável
- começamos por situar o problema na história e descobrir suas variáveis, e encerra-se o assunto. Poderia também representar o papel do "cientista", e aqui os pratos são cheios, porque o amor parece nascer, florescer e morrer exatamente na fronteira entre natureza e cultura. O "natural" é esse bicho do desejo que todos sabemos bem o que é - mas ele só existe sob uma forma cultural, um terrível complicador da felicidade. O século 20, principalmente pelo cinema, universalizou uma pílula suavizadora da tragédia amorosa, que é a comedia romântica. Nela, aconteça o que acontecer, acabaremos felizes para sempre. Sabemos que isso é, de fato, urna mentira, mas, enquanto isso, nos divertimos.
          A atração amorosa talvez seja o sentimento mais indócil dos primeiros 30 ou 40 anos de nossa vida. Mas, mesmo sob controle, não desaparece nunca - até o fim, continuará respirando, à espreita. Às vezes é muito difícil lidar com ela. Acho que a ficção continua sendo o melhor e mais produtivo modo de tentar entender o amor. É como se ela lançasse os dados criptografados dessa misteriosa atração e deixasse ao leitor a tarefa, ou antes o prazer, de interpretá-los.
                                        (Seção Filosofias da revista Lola, nº 7, abril 2011)

sexta-feira, 29 de abril de 2011

DEUS SALVE A RAINHA


                    Texto  de Walter Hupsel, publicado hoje no Yahoo:
                   

            A história se repete: o filho do príncipe Charles, que casou com Lady Di – uma pessoa de fora da realeza (como me lembrou Antônio Luiz Costa) – no tal casamento do século, que acabou em traições e na trágica morte da princesa num túnel em Paris, William, se casou também com uma plebeia, e também no “casamento do século”.
            A imprensa não fala de outra coisa, analisa os vestidos, o menu, a lista de convidados, a lista dos não-convidados. Fala também de custos da festança e do impacto econômico que o casamento terá. A Inglaterra foi tomada por uma epifania real-nacionalista. Todos, ou quase todos, esperando o grande momento de ter uma nova sucessora ao cargo de Elisabeth 2ª, Kate, para poderem cantar o hino britânico, “Deus Salve a Rainha” (God Save the Queen).É a imagem, o símbolo.
                 A monarquia britânica, desde quando Guilherme de Orange desembarcou em solo inglês, vindo da Holanda, e destronou James 2º, a Inglaterra adotou uma forma esquisita de governo, uma forma mista, a monarquia parlamentar na qual a “Rainha reina, mas não governa”.A despeito de ter sido uma saída estratégica numa Inglaterra que passava por um século de convulsões e guerras civis, os mais otimistas hoje apontam para o caráter simbólico da monarquia britânica, em que a Rainha seria, digamos assim, uma entidade que mantém unidos os diversos países que compõem a Grã-Bretanha, os menos crédulos chamam atenção para o anacronismo de se manter uma realeza que faça alguns banquetes e cace raposas.
                  Para estes uma sociedade moderna e democrática teria que prescindir de qualquer titulo nobiliárquico (o senado inglês é, até hoje, chamado de “Casa dos Lordes”), de qualquer menção a súditos. Sim, na Inglaterra existem súditos do rei e não cidadãos.Para quem se não lembra, aqui mesmo no Brasil tivemos um plebiscito, em 1993, (que tinha sido previsto pela Constituição de 1988), no qual o povo deveria decidir sobre monarquia ou república parlamentarista ou presidencialista.
                Ao lado da monarquia, estiveram figuras públicas como Hugo Carvana, Sandra de Sá e o antropólogo Roberto da Matta. Este justificava sua opção pela restauração da monarquia dizendo que o brasileiro a adora e, como explicação para sua posição, citava a forma que nos referimos ao “Rei” Roberto Carlos, “Rainha” Xuxa e “Rei” Pelé (?!?!?) .
              Segundo Da Matta, este era um sinal claro que somos órfãos de Orleans e Bragança.Malograda a opção de termos nossa própria dinastia, de termos nossos casamentos suntuosos em Petrópolis, voltamos os olhos pra a velha Inglaterra. Sublimamos nossa vidinha republicana, olhamos com uma certa aura para esse casamento, da Família Real mais cara da Europa. Para a mulher, plebeia, que encarnará novamente o arquétipo feminino dos contos de fada, e casará com um príncipe.
                 Agora, ela terá a obrigação de gerar um herdeiro para os Windsor (e rápido, segundo manda a tradição), um novo futuro rei que também se casará no “casamento do século”, que também deve atrair a atenção mundial. Ela, a futura princesa e rainha, será um símbolo da Inglaterra e da submissão feminina. Apenas uma figura.
                 A ela meus mais sinceros desejos de boa sorte. Para ela, e para todos os ingleses, mando um “Deus Salve a Rainha”, mas na voz de Johnny Rotten:

God save the queen                              ( Deus salve a rainha
She ain't no human being                     Ela não é nenhum ser humano
There is no future                                    Não há nenhum futuro
In England's dreaming                           Na Inglaterra a sonhar.)

segunda-feira, 25 de abril de 2011

BONO É LEGAL

                 Bono Vox está muito além do clichê do astro politicamente correto. É um ícone pop com duas estranhas capacidades: manter uma grande banda unida por mais de 30 anos e realmente trabalhar duro pelas causas nas quais acredita.

                 Durante a década de 80, alguns destaques da música pop  começaram a luta por causas  causas assistenciais, aproveitando-se da sua grande exposição pública decorrente da carreira. Em 1984, Bob Geldof, ex-cantor da banda Boommtown Rats, resolveu empreender uma cruzada de ajuda a Etiópia, cuja população sofria do flagelo da fome generalizada. Um time de grandes estrelas pop da época foi escalado para gravar uma música, com o total da vendagem do compacto simples sendo usado em favor da nobre causa. E um dos destaques da gravação de Do They Know it's Christmas? foi Bono Vox, cantor do U2. Dessa turma reunida para gravar o tema, muitas estrelas já definharam sua luz. Mas Bono Vox continua vivíssimo. Tanto pela longevidade do U2 - são quase 30 anos de estrada - quanto por suas atuações filantrópicas fora dos palcos e estúdios de gravação. Bono construiu uma reputação de grande defensor de causas de interesse global e ganhou enorme reconhecimento par suas empreitadas.
               Antes mesmo de gravar um disco, 0 U2 era uma banda formada por amigos de escola em Dublin, capital da Irlanda, e vivendo sob a conturbada fricção entre católicos e protestantes. O grupo se formou sem maiores ambições além de ser uma banda de pub para tocar covers de grandes sucessos. Com o passar do tempo, trilhou um caminho de êxito, num crescente aprimoramento das temáticas das letras, da incomum harmonia e da capacidade musical de seus integrantes.  Um tema constante nas canções do U2 era a guerra. Depois veio a crítica a um sangrento atentado a bomba realizado pelo IRA). E veio a épica Pride (In the Name of Love), homenagem ao mártir da luta pela igualdade racial, Martin Luther King. 0 U2 despontou, foi reconhecido como uma banda fortemente engajada nas temáticas sociopolíticas que compunham a realidade ao seu redor. Eles  ganharam o mundo.
                 Já no fim dos 80 e começo dos 90, na medida em que o U2 partia para experimentalismos e se distanciava dos enfoques políticos para abordagens mais existenciais nas letras, Bono Vox começou a dedicar grande parte de seu tempo extrabanda para apoiar causas e ajudar organizações não governamentais. Diferentemente da forte crítica que muitas estrelas da musica pop dessa época recebiam quando resolviam fazer suas ações filantrópicas, Bono era cada vez mais reconhecido por seu empenho nessa área.
                   Mas de que vale a filantropia se não se enxerga quem está ajudando e quem está sendo ajudado? Bono aproveitou sua popularidade para ir mais além das críticas e dos protestos tão comuns na música do U2: resolveu agir. Virou figura constante nas mesas do Fórum Econômico Mundial de Davos, onde lutou pela moratória da dívida externa dos países africanos ou contra o desmatamento da Amazônia e o aquecimento global. Contribui para a Product Red - que reúne várias marcas de produtos cuja vendagem vai parcialmente para fundos anti-aids e outras doenças. Também trabalha contra as minas terrestres e demais empreitadas de fundo sociopolítico em andamento nos países pobres, especialmente na África. Em decorrência disso, já foi recebido por  alguns dos políticos mais influentes do mundo nos últimos anos - e todos aproveitaram para lhe outorgar comendas, medalhas e prêmios em reconhecimento por sua luta filantrópica. E Bono ganhou até uma indicação ao Premio Nobel da Paz.
                     Chama atenção o fato de Bono Vox ser poupado do patrulhamento empreendido contra o bom-mocismo, num mundo onde a grande mídia parece aguardar a hora em que a celebridade vai escorregar na passarela. Talvez porque Bono é tudo que não se espera de um líder de banda de rock: nunca se envolveu em escândalos, baixarias e intrigas comuns na cena viI das celebridades fúteis. Poderia bem ser comparado a uma espécie de Marisa Monte do rock, sempre passando ao largo dos paparazzi e dos gossip makers. Podemos até aceitar vê-lo figurando com sua esposa em um anúncio para uma famosa e requintada grife francesa de bolsas de madame - o cachê foi doado a fundos assistenciais na África... Ele consegue, depois de tantos anos, manter sua respeitável posição de ícone pop, sem pagar mico, nem receber os canhonaços que muitas celebridades menos preparadas atraem da mídia.
                   Bono está num patamar muito além do clichê do astro pop politicamente correto. Não é um "Mr. Nice  Guy" qualquer que se aproveita de causas nobres para aparecer. Não cria polêmicas vazias para se promover. Ele nem precisaria disso, já que aos 30 anos de estrada o U2 continua arrebatando multidões ao redor do mundo. Chega a ser estranho ver um cara que já conseguiu ir tão longe se dar ao trabalho de lutar por  tantas causas e conflitos que abalam, ameaçam e incomodam o ser humano comum no mundo de hoje. Já não seria uma grande tarefa manter ligados os canais para que uma banda consiga continuar com os mesmos integrantes na ativa depois de tanto tempo juntos? Se o U2 já era um dos principais referencias dos Paralamas do Sucesso no seu início, continua sendo hoje, tanto tempo depois.
                     Bono Vox é um contraponto para a anacrônica e desgastada imagem do roqueiro com cara de bandido. Tiro o chapéu para você, Mr. Bono!
                     (Condensado de João Barone, revista Lola, nº7, abril de 2011)

sábado, 23 de abril de 2011

O INCONFIDENTE MAL-AMADO


             Nesse 21 de abril último , data em que se homenageia Tiradentes, o herói da Inconfidência Mineira, lembrei de Cláudio Manuel da Costa, o inconfidente sobre o qual pairam dúvidas  a respeito  do que realmente aconteceu com ele após ser preso. Assim, resolvi postar aqui algumas observações sobre ele, resultantes de uma pesquisa para um trabalho.

             Considerado um dos maiores poetas brasileiros do período colonial, Cláudio Manuel da Costa cursou Filosofia no Rio de Janeiro e Cânones em Coimbra (Portugal). Foi lá que entrou em contato com as ideias iluministas e compôs seus primeiros poemas, todos de influência ainda do Barroco seiscentista.Foi influenciado pela Arcádia Lusitana, fundada em 1757, na cidade de Lisboa. Os seus membros propunham-se combater o espírito barroco e orientar a produção poética para uma estética neoclássica, com fundo na razão e no culto do natural.
             O objetivo da criação desta Academia era, fundamentalmente, combater o "mau gosto" que imperava no século XVII relativamente à obra literária poética e implantar um novo gosto estético. Os seus impulsionadores - os Árcades - eram defensores da ideia de que a razão deveria ser colocada em primeiro plano relativamente ao sentimento.
              A Arcádia Lusitana viria a extinguir-se em 1764,  mas continuaria a influenciar gerações posteriores de artistas, porque foi através da ação dos Árcades que Portugal se preparou para entrar no Romantismo, principalmente no âmbito da obra literária, cujo seu mais importante discípulo foi Almeida Garrett.    
               Regressando ao Brasil, Cláudio Manuel da Costa passou a trabalhar como advogado, depois juiz e chegou a ser secretário do governo de Minas Oerais. Mas continuou sua ligação com a literatura, sua grande paixão, chegando a criar uma academia, a Colônia Ultramarina.
                  Foi um poeta de técnica apurada, procurou equilibrar a sua forte vocação barroca com o estilo neoclássico (arcadismo), introduzindo nos seus textos elementos locais, descrevendo paisagens e expressando um forte sentimento nacionalista.
                  Acumulou fortuna, tinha uma fazenda e uma bela casa em Vila Rica.
                  Talvez por ser o mais velho do grupo dos intelectuais do lugar,por sua credibilidade de doutor e autor com obras já publicadas, exercia uma espécie de liderança entre os seus companheiros, pois todos liam para ele suas obras e escutavam seus conselhos. Era uma das principais figuras da Capitania.
                   Até que sobreveio a rebelião, a chamada Inconfidência Mineira, que destruiu o grupo dos árcades mineiros.
                   Nesta época, compôs o clássico poema "Vila Rica", pronto em 1773, mas publicado somente em 1839, em Ouro Preto, 50 anos após a sua morte. A poesia descreve a saga dos bandeirantes paulistas no desbravamento dos sertões e suas lutas com os emboabas indígenas, até a fundação da cidade de Vila Rica. 
                    Cláudio Manuel foi preso como os outros. Interrogado e acusado de ser um dos líderes do movimento, pois em sua casa havia reuniões das quais participavam todos os envolvidos. Muito nervoso e apavorado, dizem que comprometeu alguns amigos em seu depoimento.  Morreu na prisão, em 4 de julho de 1789. Segundo as declarações oficiais, cometeu suicídio por enforcamento. Mas ainda hoje há suspeitas de que tenha sido assassinado.
                     Sua memória ficou prejudicada porque ainda paira sobre ele a suspeita de ter sido um delator covarde e que, por isso, teria se suicidado. Existem até os que negam a importância da sua participação na Inconfidência, dizendo que teria sido apenas um expectador privilegiado.

Morte: assassinato ou suicídio? *

                      O ponto mais crítico da biografia de Cláudio Manuel da Costa é a suspeita sobre seu suicídio. Sua morte está cercada de detalhes obscuros. Há mais de duzentos anos esse assunto suscita debates e há argumentos fortes, tanto a favor como contra a tese do suicídio. Os partidários da crença de que Cláudio Manuel da Costa tenha se suicidado se baseiam no fato de que ele estava profundamente deprimido na véspera da sua morte.
                     Isso está estampado no seu próprio depoimento, registrado na Devassa. Além disso, seu padre confessor teria confirmando seu estado depressivo a um frade que trouxe o registro à luz. Os partidários da tese de que Claudio tenha sido assassinado, contestam a autenticidade do depoimento anexado aos autos da Devassa, quanto à honestidade do registro do frade.
                    Quem acredita na tese do assassinato se baseia em um argumento principal: o próprio laudo pericial que concluiu pelo suicídio. Pelo laudo, o poeta teria se enforcado usando os cadarços do calção, amarrados numa prateleira, contra a qual ele teria apertado o laço, forçando com um braço e um joelho. Muitos acreditam ser impossível alguém conseguir se enforcar em tais circunstâncias.
                    O historiador Ivo Porto de Menezes relata que ao organizar antigos documentos relativos à Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto, em 1957 ou 1958, encontrou no livro de assentos dos integrantes da Irmandade de São Miguel e Almas, a anotação da admissão de Cláudio Manuel e à margem a observação de que havia "sufragado com 30 missas" a alma do falecido, e "pago tudo pela fazenda real". De igual forma procedera a Irmandade de Santo Antônio, que lançou em seu livro: "Falecido em julho de 1789. E feitos os sufrágios.” Por que, se na época havia a proibição de rezar missas pelos suicidas?
                  Também Jarbas Sertório de Carvalho, em ensaio publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, defende com boa documentação sobre a tese do assassinato.
                   Há ainda quem acredite que o próprio governador, Visconde de Barbacena, esteve envolvido na conspiração e Cláudio teria sido eliminado por estar disposto a revelar isso. Mas o fato é que somente a tese do suicídio pode se lastrear em documentos, ainda que duvidosos quanto à sua honestidade e veracidade, como bem salientam os adeptos da tese de assassinato.
                       Ainda noutro ensaio "Inconfidência Mineira – As várias faces", Júlio José Chiavenato lança um dado que reforça a tese da farsa montada do suicídio de Cláudio Manuel da Costa. Na tarde do mesmo dia em que o advogado foi preso, foram assassinados, no sítio da Vargem, a filha, o genro e outros familiares do poeta,  bem como alguns escravos, e roubados todos as seus bens. O Visconde de Barbacena só informou Lisboa da morte de Cláudio Manuel da Costa em 15 de julho, onze dias depois de ter ocorrido. E quando dera conhecimento a Lisboa do seu interrogatório em 11 de Julho não comunicou a sua morte. Por quê? Possivelmente porque, se a morte do alferes Tiradentes não causaria embaraços em Lisboa, a de Cláudio e da sua família poderia causar. Daí a necessidade da farsa ser  montada.
                 (*In Wikipédia, a enciclopédia livre <pt.wikipedia.org/wiki/>)

quinta-feira, 21 de abril de 2011

COMPORTAMENTO ELEGANTE


               Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara: a elegância do comportamento.
                   É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado diante de uma gentileza. É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa alguma, nem fotógrafos por perto.
                   É uma elegância desobrigada. É possível detectá-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam. Nas pessoas que escutam mais do que falam. E quando falam, passam longe da fofoca, das pequenas maldades ampliadas no boca a boca. É possível detectá-la nas pessoas que não usam um tom superior de voz ao se dirigir a frentistas, por exemplo. Nas pessoas que evitam assuntos constrangedores, porque não sentem prazer em humilhar os outros.
                   É possível detectá-la em pessoas pontuais.Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece, é quem presenteia fora das datas festivas, é quem cumpre o que promete e, ao receber uma ligação, não recomenda à secretária que pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer se está ou não está.
                  Oferecer flores é sempre elegante. É elegante não ficar espaçoso demais. É elegante você fazer algo por alguém, e este alguém jamais saber o que você teve que se arrebentar para o fazer... Porém é elegante reconhecer o esforço, a amizade e as qualidades dos outros.
                  É elegante não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao outro. É muito elegante não falar de dinheiro em bate-papos informais. É elegante retribuir carinho e solidariedade. É elegante o silêncio, diante de uma rejeição...
                  Sobrenome, jóias e nariz empinado não substituem a elegância do gesto. Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo, a estar nele de uma forma não arrogante. É elegante a gentileza. Atitudes gentis falam mais que mil imagens...Abrir a porta para alguém é muito elegante... Dar o lugar para alguém sentar... é muito elegante... Sorrir, sempre é muito elegante e faz um bem danado para a alma... Oferecer ajuda... é muito elegante... É elegante respeitar o outro.
                  Olhar nos olhos, ao conversar, é essencialmente elegante... Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural pela observação, mas tentar imitá-la é improdutivo. A saída é desenvolver em si mesmo a arte de conviver, que independe de status social: Se os amigos não merecem uma certa cordialidade, os desafetos é que não irão desfrutá-la.
                                                (Mensagem enviada por uma amiga.)Parte superior do formulário

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A SEXUALIDADE FUNCIONA PELA DIFERENÇA

      Entrevista do psicanalista Alberto Goldin,consultor de programas de TV, colaborador em roteiros cinematográficos, autor de livros para crianças, adolescentes e adultos, acabou virando um sujeito familiarizado com os problemas e mistérios das relações conjugais.Também escreve, há 13 anos, a coluna dominical Consultório, na revista do jornal O Globo, na qual responde perguntas de leitores. Estas colunas espelham como as pessoas tentam administrar suas relações amorosas no meio do tsumani das novas tecnologias, da nova estrutura familiar e da ascensão profissional das mulheres.  Nesta entrevista,ele fala de como os papéis de homens e mulheres se embaralharam.

Em todos esses anos como psicanalista. você percebe alguma mudança nas angústias amorosas das pessoas?
Em geral, as angústias são as mesmas - expectativas frustradas em relação aos parceiros, principalmente. Por tudo: porque eles traem, porque as abandonam, não dão atenção ou dão demais ... A única mudança significativa que ocorreu de lá para cá foi que a instituição casamento ficou mais frágil. As pessoas fazem mais o que querem e menos o que se esperam delas. Se não estão satisfeitas, terminam o casamento. O que vejo como um avanço.

Houve algum prejuízo nesse período? Está ocorrendo, por exemplo, uma confusão entre o masculino e o feminino?
Sim. A simetria maior entre homem e mulher, principalmente nas classes mais altas, trouxe enormes benefícios, tirando a mulher do papel de subalterna. Mas há desvantagens. A sexualidade funciona como a eletricidade, pela diferença. O homem mais masculino se dá melhor com a mulher mais feminina - e não se trata apenas do jeito de falar ou de se vestir, mas também da posição que ela ocupa na sociedade. Quando a mulher fica mais independente, a diferença diminui, e aí surgem os problemas. Talvez por isso os homens mantenham secretárias como amantes e procurem prostitutas. É errado, claro, mas de algum modo eles buscam a diferença que não existe mais com a esposa. Alguns, inclusive, simplesmente não querem nem saber dessas mulheres poderosas.

E que conselho você daria a essas mulheres?
É importante não masculinizar-se, não confundir o poder com a masculinidade. 0 homem que cozinha não fica feminino, assim como a mulher que comanda 100 funcionários não precisa ficar machona. A autoridade pode ser perfeitamente exercida dentro do contexto da feminilidade. Então, não estou dizendo que as mulheres devem tirar o uniforme ao chegar em casa e vestir o baby-doll. Não adianta. Tem de ser feminina sempre, inclusive no trabalho. Outra coisa é preservar a humildade: a poderosa de hoje pode ser a desempregada de amanhã.

As mulheres estão confusas com os papéis que desempenham?
 Se elas não estão confusas, a sociedade as confunde. Os próprios subalternos não tratam as poderosas como mulher. A mulher poderosa raramente é paquerada. Os homens têm medo. No erotismo masculino, a proteção pode ser um fator de grande sensualidade. O homem se sente excitado com a ideia de proteger a menina, a mulherzinha frágil. Ele se sente dono da história e dono de um pau enorme, poderoso.

O homem vem se desvirilizando diante dessas mulheres poderosas?
 Creio que está ocorrendo a virilização da mulher. Portanto e, relativamente, o homem perde o poder da masculinidade, da força e da potência. Não é algo racional. Se a mulher deixa o marido cuidando das crianças no fim de semana quando ela tem uma convenção da empresa, ele fica numa posição diferente. É difícil mesmo, para ele, ficar muito macho trocando fraldas, levando as crianças ao banheiro, dando comida ...

Tem jeito de evitar isso?
 Quando a mulher é bem equilibrada, o beneficio de ser independente é enorme. Tenho uma paciente que é jovem, juíza, casada também com um juiz, com filhos. Há uma simetria boa, eles recebem mais ou menos o mesmo salário. Há sintonia total. Apesar de ela ter urna posição de poder, conserva a feminilidade e a beleza que os homens tanto apreciam. Mas, se o marido tivesse um cargo muito inferior, eles teriam problemas. Quando a mulher ganha mais, manda o homem calar a boca porque é ela quem sustenta a casa. O  inverso não acontece, culturalmente a função de provedor é do homem. Além disso, quando a mulher está nessa posição superior, ela se sente no direito de ter amantes, diz que o marido é um bundão. Mulheres se ligam à inteligência, ao poder financeiro, à personalidade forte deles. Se eles não comparecem nesses requisitos, acabam deixando de ser admirados.

Mas não há saída possível quando ela ganha mais? Quais são as opções?
A separação é uma opção.Outra É arranjar um amante ou ganhar alguma deficiência para compensar sua superioridade - engordar, por exemplo. Mas a mulher pode também ajudar o marido a crescer - ela pode ser casada com um professor que ganha pouco, mas que é um cara admirável, inteligente. Todo casal encontra um ponto de equilíbrio, mesmo numa dinâmica neurótica. A vida social ajuda muito. Há casais que quase não fazem sexo, mas conseguem ficar juntos, porque convivem com amigos, viajam juntos, fazem diferentes atividades. Encontrar prazer nas atividades do dia a dia também ajuda.

E as mulheres bem-sucedidas ainda têm de buscar equilíbrio no resto da vida ...
É preciso ter um objetivo claro na vida, cumprir o que se propôs fazer: ter uma atividade física ou cultural, uma vida social. Sempre lembrando que respeito e admiração são conquistas, não dá para impor nada a ninguém. Quando as coisas são espontâneas, não é complicado, flui. O  homem também é sobrecarregado, a vida moderna sobrecarrega a todos. A mulher não á a vitima especial do momento.

Mas o tempo para essas mulheres é algo muito precioso. A sensação é que ele sempre falta, certo?
Uma boa agenda facilita a vida de todo mundo. Sei que não é fácil para quem tem filhos pequenos, mas planejar é imprescindível. Essa angústia da falta de tempo é um tema recorrente entre os meus pacientes. Normalmente, os homens são mais organizados. Mas insisto que as mulheres podem aprender a se planejar.

E a culpa? É um tema frequente também?
Sim, e aquelas que trabalham  muito são as que se sentem mais culpadas. Às vezes, a culpa tem mesmo fundamento, especialmente quando elas trocam a atividade maternal pela profissional. Os filhos precisam das mães. Não digo uma mãe que fique o dia inteiro lavando roupa. O filho precisa de uma mãe companheira, próxima. E elas se culpam porque o filho não é o melhor aluno,da escola ou porque ele experimenta álcool ou drogas. Um filho problemático, inexoravelmente, gera culpa na família. Mas a culpa é parte integrante do ser humano - para Freud, ela é essencial, faz parte da cultura do ser humano. De algum modo, todos os seres humanos têm aquele sentimento de que fizeram algo errado. Não necessariamente por causa da igreja. É algo que estÁ relacionado com a condição humana.

O que pode servir de alivio para essa culpa intrínseca ao ser humano?
Primeiro, relativizá-Ia, porque, quanto menos culpa sentimos, maior a capacidade de sermos felizes. Se a pessoa faz coisas boas para ela mesma, para a família e para os amigos, não há razão para a culpa Se a pessoa lê, estuda, se dedica à família, a culpa é menor. Uma coisa é certa: fazer o bem faz bem.
                                                                Revista LOLA, nº 7, abril de 2011.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

"FOFOCAS" NO CONTO DE FADAS DO ANO


         Uma letítima representante da classe operária inglesa, a ex-gata borralheira Kate Middleton, está no centro da ‘fofocaiada” que cerca o espetáculo do novo casamento real  inglês e faz a festa do mercado editorial.

         Fazia mais de três séculos que a corte britânica não abria as portas para uma plebeia. A última vez que isso acontecera fora em 1660, quando o futuro rei Jaime I casara-se com a camareira Anne Hyde, grávida, estarrecendo os súditos. A própria atual rainha Elisabeth chegou ao trono por causa desse tabu, pois o legítimo herdeiro da coroa, seu tio Edward, precisou renunciar ao trono inglês para se casar com a mulher que amava, Wally Simpson, plebeia americana e divorciada, dando a seu irmão George,pai de Elisabeth, a oportunidade de se tornar rei.  E, no conto de fadas anterior, transformado em pesadelo, a protagonista Lady Di  tinha sangue azul nas veias.
         Então, daqui a quinze dias,  Kate, uma legítima descendente da classe operário inglesa, quebrará um tabu de quase quatrocentos anos, casando-se com o príncipe William, o primogênito de Charles  e  Diana, futuro rei, pois duvida-se que Charles, depois de todos os escândalos em que se envolveu, tenha a chance de vir a subir ao trono inglês.  Além disso, Kate é uma princesa dos tempos modernos, pois será a primeira esposa de um monarca britânico a ter se formado numa universidade e a ter morado com o rei antes do casamento.
         A corte inglesa já está acostumada com os escândalos de sua família real, mas um casamento destes sempre causa rebuliço. E já há escritores se aproveitando do assunto e publicando livros sobre o tema, alguns bastante venenosos.
         A principal “fofoca” é a de que Kate não chegou onde está por acaso.  A jovem, que já sonhava com o príncipe na adolescência, teria sido incentivada pela mãe a trocar de faculdade e ir para St. Andrews, quando se divulgou que William estudaria lá. No que foi imitada por muitas outras, já que o aumento de 44% nas matrículas foi essencialmente feminino (nove em cada dez).  
        E assim Kate conheceu seu príncipe encantado. No fim do primeiro ano, Kate foi convidada a  dividir urn apartamento com ele e dois amigos no centro da cidade. A turma ia de bicicleta para a faculdade e passava várias noites em casa, ouvindo jazz. Depois  a turma se mudou para uma fazenda nos  arredores de St. Andrews, onde moraram até a formatura, Kate e WIllianl namorando. O ano era 2003.
          Mas  Kate ainda tinha de conquistar a família real, meio aos trancos e barrancos desde a morte de Diana, em 1997. E nesse quesito também tirou nota 10. Bem recebida, retribuiu adotando o modus vivendi real. Um empregado da casa de campo da realeza em Balmoral, na Escócia, relata que ela parecia se sentir "em casa" por lá, pescando salmão e truta, caçando raposas. "Diana parecia sempre impaciente para ir embora quando vinha aqui, mas miss Middleton se encaixa perfeitamente. A rainha vai gostar desta aí", disse.
          Coisas assim fazem a festa dos jornais ingleses, que se deliciam com as idas e vindas de sua monarquia. Uma das histórias preferidas, detalhada em William and Kate, é a relação próxima que o casal mantinha com Gary Goldsmith, tio da plebéia. Dono de uma mansão em Ibiza, Gary costumava receber Kate e William em sua casa, batizada de La Maison de Bang Bang, que abrigava festas de arromba com prostitutas ao preço de mil dólares. Conta -se que o tio preferia chamar o lugar de Can Aveline, com a pronúcia de can I have a line ("posso cheirar uma carreira") ou   cumalot  ("goze muito").
           Apesar das fofocas, o casal tem se esforçado para se manter cordial e distante da mídia ao mesmo tempo (aprenderam a lição com o caso Lady Di). É muito irnprovável que Kate se deixe fotografar em momentos como a ida à academia, pois o acontecido com a sogra servirá de lição.
         Mesmo assim, os dois já passaram por momentos difíceis, tais como o acontecido em 2007, quando William foi fotografado bêbado numa festa, agarrando os seios de uma brasileira, causando uma breve separação entre os dois.
          Mas a paciência de Kate durante oito anos parece que será recompensada, num evento que deverá ser o maior do Reino Unido desde o casamento de Charles e Diana. Será uma festa nacional e trará à economia britânica cerca de 1,7 bilhão de reais com a venda de lembranças e outros.
              Kate parece muito á vontade e exibe uma confortável postura para o papel que irá assumir.  Afinal, não foi fácil, deve ter engolido alguns “sapos” para estar onde está!. Ela lutou para chegar lá e não vai desistir de ter o seu príncipe e morar num palácio! 

sexta-feira, 15 de abril de 2011

"REBU" À FRANCESA


            O  escândalo que envolveu a bilionária herdeira da L’Oréal, políticos franceses, muito dinheiro e um  belo e fascinante jovem espertalhão.

           Liliane Bettencourt não é nenhuma jovenzinha. Ao contrário, é uma velha senhora de 88 anos, muito rica, a mais requintada das francesas. Vale 23,5 bilhões de dólares, pois herdou do papai Eugène Schueller a gigante dos cosméticos L’Oréal. Bela e inteligente, casou-se com André Bettencourt e passaram a viver os belos prazeres da vuda: participavam de todas as festas chiques, possuíam propriedades em várias partes do mundo, moravam numa casa de luxo e bom gosto. Mas tudo isso discretamente, nunca aparecendo nas revistas de celebridades.
           André faleceu em 2007 e, num certo dia, estourou o “rebu”. A velha senhora foi parar nos jornais e todos ficaram sabendo o que ela fazia com seu dinheiro, porque sua filha Françoise Bettencourt-Meyers entrou na Justiça, pedindo que a mãe fosse colocada sob tutela, acusando o belo e carismático François–Marie Banier de “abuso de incapaz”. Segundo a filha, a mimada mãe não estava tão lúcida assim e ele a enfeitiçara. O que acontecera, afinal?
           O golpe de  Banier começara há muito tempo, pois ele conhecia Liliane e o marido há mais de 20 anos. Primeiro arrancou de André e, depois, de Liliane cerca de 1 bilhão de dólares! Tudo em presentes: casa na Provença, obras de arte (praticamente um museu particular), um apartamento luxuoso numa rua famosa de Paris, onde se instalou com seu laboratório de fotografias, seu escritório, recebeia seus amantes é homossexual) e hospedava o filho de um deles. E, finalmente, veio o presente das mil e uma noites: uma ilha no oceano Índico, com direito a aeroporto particular!
             Banier hoje está  gordo e feio. Mas há 20 anos era um belo quarentão, um anjo que arrebatava Paris com suas maneiras de príncipe, em seus ternos de um branco imaculado. Fascinava a todos: as mulheres, os homens, os ricos, os mendigos, os intelectuais, os idiotas. Nos grandes salões da moda, chegava e quebrava protocolos: era insolente e charmoso, pérfido e risonho, usava belas e agressivas palavras. E saía leve e faceiro! Ninguém lhe resistia, nem homens, nem mulheres. Era chamado “o homem mais louco, mais generoso, mais engraçado”. Famosos o admiravam e bajulavam: Salvador Dali, Pierre Cardin... Chegaram a compará-lo  ao poeta Rimbaud.
              Até que, naquele dia de 2008, tudo foi pelos ares!  A filha pediu a interdição da mãe e três  longos anos se passaram até que agora ambas anunciaram uma reconciliação. Mas há muitos escombros pelo caminho.  Diz o autor  da reportagem, Gilles Lapouge,  que "Dickens e, até mesmo Balzac, teriam dificuldades para imaginar semelhante imbróglio de paixões e ouro”. E ainda teriam de pedir auxílio a um escritor entendido em política, pois, no meio do escândalo, apareceram envolvimentos com políticos do partido do presidente Nicolas  Sarkozy. Um de seus ministros teria acobertado uma fraude fiscal  da família Bettencourt em troca de doações de campanha.  Sarkozy escapou ileso, mas algumas cabeças rolaram!
              E o “anjo” Banier virou diabo.Os empregados da casa de Liliane começaram a falar sobre ele: na intimidade dos anfitriões era odiosos, arrogante, desprezível, grosseiro, urinava nas preciosas plantas de Liliane, não respeitava a doença de André, tinha ataques terríveis de raiva quando queria dinheiro, chamava Liliane de ‘vagabunda”...
              Cessaram as investigações, mãe e filha se acertaram, mas ninguém sabe o que pode ainda acontecer. Suntuosos e sórdidos espetáculos ainda podem surgir detrás das cortinas!

                                                         Fonte: revista LOLA, nº 7, abril de 2011.

sábado, 9 de abril de 2011

O GRANDE AMOR DE NABUCO


                Sobre a biografia romanceada de Eufrásia Teixeira Leite,  o grande amor de Joaquim Nabuco.

             A amizade entre o diplomata Joaquim Nabuco e Eufrásia Teixeira Leite  começou quando eles tinham,  respectivamente, 13 e 12 anos de idade. As famllias estavam entre as nobres  da corte em meados do século XIX e participavam juntas das cerimônias imperiais restritas  à fina flor da sociedade da época.O primeiro contato enamorado entre os futuros amantes deu-se no verão de 1862, numa regata promovida pela Marinha em homenagem ao Marquês de Pombal, no Rio de Janeiro. Foi o início de uma intensa troca de correspondência entendida pelos dois como um namoro à distância. A relação seria retomada cinco anos depois, quando Joaquim Nabuco já terminava o curso de Direito e Eufrásia se inteirava dos negócios do pai. Passaram a viver um discreto romance, mantido sempre em segredo. A surpreendente história dessa filha da elite cafeeira é agora contada em forma de romance no livro "Mundos de Eufrásia", da escritora Cláudia Lage (Editora Record).
               Eufrásia  ficou conhecida como a "sinhazinha de Vassouras", cidade fluminense onde nasceu. Ainda moça, perdeu a mãe, o pai e depois a única irmã, tornando-se herdeira universal da fortuna da família. Administrou-a com rara competência, especialmente em um mundo em que as mulheres eram educadas para o lar. Mas esse não foi o caso das irmãs Teixeira Leite: elas tiveram anos de estudo e um pai que as incentivava a desen-
volver o pensamento lógico. Ele as queria empreendedoras. "Minhas filhas precisam saber contar dinheiro e ter noção do que lhes pertence", dizia Joaquim Teixeira Leite. Eufrásia multiplicou seu patrimônio e foi uma das .primeiras mulheres a frequentar a Bolsa de Val ores de Paris, onde era investidora.
                Em 1884, ela fazia parte do círculo intimo de amigos da princesa Isabel, que então vivia exilada em Paris. Foi na capital francesa que a sinhazinha e Nabuco viveram a fase mais intensa de seu romance, que durou 14 anos. Eles nunca se casaram. Eufrásia não queria voltar ao Brasil  e  Nabuco, que ganhara notoriedade como abolicionista, tinha planos políticos em sua terra natal. Ela optou por uma vida solitária, voltou ao pais em 1928 e morreu  dois anos depois. Atendendo ao seu desejo, as cartas de amor que recebera de Nabuco foram sepultadas com ela. Sem herdeiros, doou a sua fortuna às instituições de caridade da cidade de Vassouras.