sexta-feira, 2 de setembro de 2016

GAFE OLÍMPICA

   Dos 42 esportes olímpicos em disputa na Rio 2016, o que mais me intriga é o golfe. Eu sei que gosto não se discute, mas minha cultura futebolística de torcedor não se adapta a um jogo em que você passa quatro dias vendo atletas vestidos como almofa-dinhas tentando acertar uma bolinha num buraco. Um não, são 18 os buracos do golfe. Os competidores têm de acenar todos eles com o menor número possível de tacadas.
    O que, na minha ignorante opinião, tira um pouco da  monotonia desse esporte são os obstáculos do circuito. Um campo de golfe tem sempre pequenos lagos, colinas, depressões e barrancos por onde a bolinha tem de cruzar em tacadas de longa distância. Mas, pelo menos, na parte da competição que eu assisti, o que deu, de fato, alguma emoção ao jogo, foi o comportamento de espectadores neófitos como eu.
    Como a área é muito grande, são 970 mil metros quadrados, o público fica circulando a pé pelas margens do circuito. Têm umas cordinhas delimitando o acesso do público, mas não é incomum ver alguém desavisado andar onde não deve. Uma senhora, trazendo um poodle numa coleira, causou o maior alvoroço ao passear com o bicho, tranquilamente, perto do buraco onde o americano Matt Kuchar, que viria a ganhar a medalha de bronze, tentava acertar sua bolinha.
     Eu não sei por que as velhinhas gostam tanto de campos de golfe, mas o fato é que o jogo teve de ser interrompido de novo quando outra senhora, provavelmente cansada de andar sob o sol forte do descampado, resolveu sentar em um barranco e balançar as pernas. Enquanto um irritado golfista suíço aguardava, um batalhão de voluntários partiu em desabalada carreira para retirá-la.
    Não a culpe, leitor. Pode acontecer com qualquer um. Eu li as regras e me informei satisfatoriamente para não fazer besteira. Mesmo assim fiz. Eu sabia que a bolinha pode ser alçada para fora da área do circuito, e que mesmo assim a jogada vale. Não se pode tocá-la. Mas foi mais forte do que eu.
    Quando vi, no meio da estrada, uma bolinha branca tão bonitinha, cheia de alvéolos, não resisti e me abaixei para apanhá-la. Quase fui linchado por uma multidão de aficionados enfurecidos.
    Quando  vi na televisão, que uma mulher fez o mesmo que eu, logo perto do desfecho da grande final, com a bolinha do golfista que ganhou a medalha de ouro, o britânico Justin Rose, senti um alivio imenso por minha gafe ter sido com um golfista retardatário e sem chances de vitória, pouco afortunado pelo interesse das câmeras. Pior do que mico ao vivo, via satélite, só mesmo aguentar um jogo tão chato.


(MARCELO  CANELLAS – Diário de Santa Maria, 21/08/2016)