domingo, 27 de março de 2011

DREAM SHOW

        Nestes dias de final da edição 2011 do Big Brother, achei interessante colocar aqui uma crônica de   Zeca Baleiro, cantor e compositor, publicada na edição 2063 da revista ISTO É: 
        As revistas de fofocas de celebridades  começaram a proliferar entre os anos 60 e 70, época em que a palavra "celebridade" ainda não era popular, mas a fofoca sim. Na carona do sucesso arrasador da recém-chegada televisão, ali pelo final dos anos 50, algumas revistas, como as clássicas Revista do Rádio e InTerValo, viraram manias nacionais, plantando boatos ou relatando rumores de casos amorosos, separações, processos e picuinhas de e entre famosos, especialmente gente que punha a cara na tevê, cantores e atores à frente.      
        Naquela época, ninguém, nem mesmo o mais visionário cidadão, poderia imaginar que, décadas depois, essa mesma tevê escancararia seu horário nobre para anônimos em busca de fama e dinheiro, onde exporiam não só sua intimidade, mas também suas partes íntimas, mazelas e anseios tacanhos, à vista de todos, em tempo real, em programas de um gênero chamado reality show.
         Curioso pensar que a tevê, assim como toda a indústria cultural, nasce do desejo por fantasia, pelo sonho, como um antídoto contra a dura e embrutecedora realidade. Era a alegria do circo
em contraponto à dureza da luta pelo pão de cada dia. Pois a primordial sede de ilusão deu lugar à mórbida curiosidade pelo cotidiano mais mesquinho, que vemos através de programas policiais que exploram a miséria sem pudor, outros que expõem a vida dos casais ou seus conflitos com filhos  drogados, rotina de obesos, duelos de performance  sexual, etc., um verdadeiro circo de horrores.
        Foi a febre por "realidade" que fez com que milhões de espectadores legitimassem a fábrica de aura e fama Big Brother, um  modorrento programa estrelado por um bando de mequetrefes cuja maior aspiração na vida é a fama, e cujo maior talento é a cara de pau para atingi-la. Esse público ávido, não só pela vida privada dos outros como pela própria privada destes, começa a dar mostras de cansaço, e oxalá isso seja sinal de uma real mudança (a ultima edição, a nona, teve o menor índice de audiência desde o início do programa, em 2001). Portanto, em vez da aridez humana dos reality shows, proponho às tevês que façam um  dream show, um show de sonhos, produto hoje tão em falta no mercado.
        P.S.: Há dez anos uma amiga compositora me disse, em tom profético, que a fama, tal como é, uma instituição da modernidade, tinha seus dias contados. Para ilustrar seu discurso, ela elegia a pop star Madonna como a heroína deste novo tempo, que, com sua postura iconoclasta, ensinaria despojamento, despindo-se do figurino da fama e da celebridade. Ao longo dos últimos anos, porém, Madonna fez de sua vida privada um grande espetáculo de efeitos visuais - casamento, separação, nascimento dos filhos,  adoção de crianças africanas - tudo está sob holofotes e à vista de espertos paparazzi, com o que, aliás, ela deu novo sopro á sua carreira, que já parecia em declínio. A última noticia sobre a cantora é risível de tão aparentemente íntima: Madonna teria contratado uma professora para melhorar o  precário inglês de seu novo namorado, um modelo brasileiro ironicamente batizado de Jesus. É , cada era teM a Madona (e o Jesus) que merece.

quinta-feira, 24 de março de 2011

OLHOS COR-DE-VIOLETA


       Morreu ontem uma das “divas” mais famosas de Holywood, Elizabeth (LIZ) Taylor, aos 79 anos. Sempre foi reverenciada como uma das mulheres mais bonitas de todos os tempos; sua marca registrada foram os traços delicados e osolhos de cor azul-violeta, emoldurados por sobrancelhas espessas de cor negra. Celebridade cercada por intenso glamour e diva eterna dos anos de ouro do cinema norte-americano, era uma compulsiva colecionadora de jóias.
        Ficou famosa também pelos inúmeros casamentos (oito ao todo). Seu primeiro casamento foi em 1950, aos 18 anos, com Conrad Nicholas (Nicky) Hilton, mas durou apenas 1 ano. 
         O segundo foi aos 20 anos, com o ator Michael Wilding, com quem teve dois filhos (Michael e Christopher). 
        Seu terceiro casamento foi com o produtor de cinema Mike Todd, com o qual teve sua terceira filha (Isabel). MIke morreu num acidente aéreo.
        O quarto casamento foi com o cantor Eddie Fisher, na ocasião marido de sua melhor amiga Debbie Reynolds, o que gerou um escândalo.   
       O quinto casamento foi com o ator inglês Richarde Burton, que conheceu nas filmagens de Cleópatra, o qual seria seu grande amor, apesar das constantes brigas e escândalos, que ocasionaram divórcio(1974), novo casamento(1975) e novo divórcio(1976). Com Burton, adotou mais uma filha (Maria). 
        Seu sétimo casamento foi com o senador John W. Warner, com quem teve um casamento infeliz, que a levou ao alcoolismo.
         Por último, casou-se com Larry Fortensky, um construtor, do qual se divorciaria em 1996.
        Liz começou a carreira cinematográfica ainda criança, quando foi descoberta aos dez anos. Contratada pela Universal Pictures, revelou talento participando de filmes infanto-juvenis, como na estréia, em 1943, num pequeno papel da série Lassie. A partir de então, apaixonou-se pela profissão.Evoluindo como atriz talentosa e respeitada pela crítica, filmaria dramas, como Um Lugar ao Sol), Assim Caminha a Humanidade),  Quem tem medo de Virgínia Wolf?. Uma vez no Último Verão, Gata em Teto de Zinco Quente, e vários outros.
       Foi pioneira no desenvolvimento de ações filantrópicas, levantando fundos para as campanhas contra a AIDS a partir da década de 1980, logo após a morte de Rock Hudson, seu grande amigo
       A despeito de ter nascido fora dos EUA, em 2001 recebeu do presidente americano Bill Clinton a segunda mais importante medalha de reconhecimento a um cidadão norte-americano: a Presidential Citizens Medal, oferecida pelos seus vários trabalhos filantrópicos. Nessa época se agravaram os problemas de saúde, ganhando peso e sendo levada a internações recorrentes em hospitais.
       Foi  grande amiga do cantor pop Michael Jackson, que dedicou-lhe vários de seus trabalhos, inclusive a canção "Liberian Girl".
       Em 1997 a atriz passou por uma delicada cirurgia para remover um tumor do cérebro. No passado, a estrela Taylor tratou vários problemas de saúde ao longo dos anos, incluindo as questões relativas à insuficiência cardíaca crônica. Em 2009, foi submetida a uma cirurgia para substituir uma válvula defeituosa no coração. Ela usava uma cadeira de rodas havia mais de cinco anos, para lidar com sua dor crônica.
        Em fevereiro de 2011, apareceram novos sintomas relacionados à sua insuficiência cardíaca, o que a levou a ser internada no Centro Médico Cedars-Sinai, em Los Angeles, para tratamento, onde morreu na manhã do dia 23 de março, após uma cirurgia, aos 79 anos de idade. A morte foi anunciada pela rede ABC e confirmada pelo filho da atriz, Michael Wilding, e pelo seu assessor.O assessor de Taylor declarou que ela morreu “cercada por seus filhos: Michael Wilding, Christopher Wilding, Liza Todd e Maria Burton. Tinha ainda dez netos e quatro bisnetos.
          Para mim, seu filme mais marcante foi Assim Caminha a Humanidade, pois nele contracenou com dois atores inesquecí8veis: Rock Hudson e James Dean.  


Liz e Rock
James Dean

                                            
                                                                                 
         

quarta-feira, 23 de março de 2011

LINGUAGEM E APRENDIZAGEM


      Que a maioria das crianças e jovens têm dificuldade de se expressarem oralmente e, mais ainda, por escrito, é uma constatação feita há muito tempo pelas pessoas que com eles convivem. Usam uma tal variedade de gírias, gestos, maneirismos, que os leva a não “alinhavarem”  uma frase coerente e inteligível. Fico arrepiada quando, por acaso, tenho oportunidade de ler  alguma conversa dos meus netos com os amigos no MSN, ou leio mensagens trocadas por eles no Orkut!
       Isto causa uma enorme dificuldade na aprendizagem e na realização dos trabalhos escolares, porque , possuindo um vocabulário reduzido, não conseguem entender o que os livros didáticos e os textos dos sites da internet  contêm e, muito menos, colocarem suas idéias por escrito. Por que isto ocorre?
      O economista Cláudio de  Moura Castro aborda esse problema da competência, partindo, inclusive, do conhecido conto de Rudyard Kipling, "Mogli, o menino-lobo", em que o personagem foi criado por uma loba, em meio a uma alcateia, e só foi aprender a fala humana depois de grande.  Ele analisa o tema, a partir de conclusões de antropólogos e faz interessantes colocações.            
         "Vivemos em um mundo de palavras", diz o celebrado antropólogo Richard Leakey. "Nossos pensamentos, o mundo de nossa imaginação, nossas comunicaçõess e nossa rica cultura são tecidos nos teares da linguagem ... A linguagem é o nosso meio ... É a linguagem que separa os humanos do resto da natureza." Para o neuropaleontólogo Harry Jerison, precisamos de um cérebro grande (três vezes maior do que o de outros primatas) para lidar com as exigências da linguagem.
          Portanto, se pensamos com palavras e com as conexões entre elas, a nossa capacidade de usar palavras tem muito a ver com a nossa capacidade de pensar. Dito de outra forma, pensar bem é o resultado de saber lidar com palavras e com a sintaxe que conecta uma com a outra. O psicólogo Howard Gardner, com sua tese sobre as múltiplas inteligências, talvez diga que Garrincha tinha uma "inteligência futebolística" que não transitava por palavras. Mas grande parte do nosso mundo moderno requer a inteligência que se estrutura por intermédio das palavras. Quem não aprendeu bem a usar palavras, não sabe pensar. No limite, quem sabe poucas palavras ou as usa mal, tem um pensamento encolhido.
           Talvez veredicto mais brutal sobre o assumo tenha sido oferecido pelo filósofo Ludwig Wingensstein: "Os limites da minha linguagem são também os limites do meu pensamento. Simplificando urn pouco, o bem pensar quase que se confunde com a competência de bem usar as palavras. Nesse particular não temos dúvidas: a educação tem muitíssimo a ver com o desenvolvimento da nossa capacidade de usar a linguagem. Portanto,  o bom ensino tem como alvo número um a competência linguística.
           Pelos testes do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, (Saeb), na 4ª série 50% dos brasileiros são funcionalmente analfabetos. Segundo o Programa lnternacional de Avaliação de Alunos (Pisa), a capacidade linguística do aluno brasileiro corresponde a de um europeu com quatro anos a menos de escolaridade. Sendo assim., o nosso processo educativo deve se preocupar centralmente com as falhas na capacidade de compreensão e expressão verbal dos alunos.
            Ao estudar a Inconfidência Mineira,  a teoria  da Evolução das Espécies ou os afluentes do Amazonas, o aprendizado mais importante se dá no manejo da língua. É ler com fluência e entender o que está  escrito. É expressar-se por escrito com precisão e elegância. É transitar na relação rigorosa entre palavra e significados.
           Nossa juventude estará mal preparada para a sociedade civilizada se insistirmos em uma educação que produz uma competência linguística pouco melhor do que a de meninos-Iobo.
            E o problema é agravado porque, com as modernas tecnologias, as nossas crianças e jovens, estão o tempo todo envolvidos com celulares, computadores e outros recursos, nos quais empregam uma linguagem reduzida, abreviada, simplificada, sem observância mínima de regras, que só limitam cada vez mais sua capacidade de pensar, entender e escrever.
            Então, se os governos não investirem muito mais em técnicas, recursos e pessoas qualificadas para uma educação de qualidade, a escola nunca poderá competir com essa tecnologia massificante que aí está absorvendo o interesse das crianças e jovens.
             É preciso insistir muito na leitura, interpretação e produção de textos. Quem é capaz de ler e entender o que leu, é capaz de aprender qualquer coisa depois. O problema maior, na minha opinião é que os alunos não entendem a linguagem dos textos dos livros didáticos e dos textos que pesquisam na internet. Então, apenas copiam e nada fica do conteúdo em suas memórias. E o pior é que a maioria dos professores não se preocupa (ou não quer ter trabalho, ou não se interessa ou não tem tempo) em “traduzir” para eles o conteúdo, em colocar em “linguagem de gente” (expressão minha) o que eles precisam entender. A partir daí se configura todo o problema.
             Outro aspecto que preocupa, é esta aparente incapacidade de memorizar, de reter na memória o que estudam, que parece grassar no meio estudantil    de alguns anos para cá. No tempo em que eu cursei o que hoje corresponde ao Ensino fundamental e ao Ensino Médio, nós éramos treinados para a memorização. Nós tínhamos que decorar e decorávamos! E aí me fica esta interrogação: se nós éramos capazes de memorizar, por que os alunos de hoje não retêm o mínimo que seja daquilo que aprendem?   Gostaria de ler uma pesquisa sobre este tema!

segunda-feira, 21 de março de 2011

SOLIDÃO


          Katie  vivia no interior, numa pequena cidade com a família: pais, primos, tios, avós. Apesar do projeto de cursar uma universidade mais prestigiosa, conseguiu apenas estudar numa local. Mas logo mudou-se sozinha para uma cidade maior. Em seis meses, notou que as coisas não iam bem, como imaginava que seriam: vivia doente, com dores nas costas, e não dormia direito. Por passar seu tempo livre em frente a TV, tomando sorvete, havia ganhado 7 quilos. Sentia-se feia, gorda e infeliz. O que tinha acontecido? Simples: Katie estava sozinha.
              Esta é uma das histórias  contadas no livro Solidão (Record), em que o psicólogo evolutivo John T. Caccioppo apresenta, com a ajuda do jornalista William Patrick, os resultados de pesquisas feitas por ele e outros cientistas, ao longo de anos, com dezenas de estudantes e voluntários de meia-idade, para avaliar os efeitos da solidão no organismo.
           Comparando esses resultados a uma miríade de estudos de antropólogos e primatologistas, Caccioppo concluiu que contato social é uma necessidade física, da mesma forma que se alimentar, beber água e dormir, e que isso est´´ inscrito em nossos genes.
            Mas o que é exatamente a solidão? Não é algo que pode ser medido pelo número de amigos no Facebook ou por quantas vezes se sai com grupinhos. Existe quem viva cercado de pessoas e assim mesmo se sinta solitário, e há quem fique legitimamente satisfeito em ter um ou dois amigos íntimos que vê duas vezes por mês. "Solidão é definida como isolamento percebido. Isolamento objetivo pode certamente ter um efeito, mas as pessoas podem se sentir solitárias na multidão", disse Caccioppo.
            Há pessoas que vivem numa mesma casa com outras pessoas, mas se sentem solitárias por não serem entendidas, por não terem quem as ouça, divida com elas suas alegrais ou suas dores.  Assim como há as que gostam de viver sozinhas porque se sentem bem assim, não gostam de dividir seu espaço, nem abrirem mão de sua privacidade em nome do bom relacionamento.           
           Em termos práticos, solidão causa estresse constante, similar ao sentido diante de ameaças físicas, como um carro vindo em sua direção. Isso leva a uma perda da qualidade do sono, ao envelhecimento precoce e a uma série de problemas cognitivos, como maior dificuldade de autocontroIe.
             Aliás, outra conclusão importante é que a dor da solidão não é apenas uma metáfora Exames com ressonância magnética provaram que a região do cérebro que registra a dor social é a mesma que registra a dor física. Não é à toa que monges que buscam mortificar o corpo passando fome, fazendo voto de pobreza ou usando um cilício também procuram o isolamento social como castigo autoimposto.
            Assim como com a dor física, a sensibilidade para esse sentimento varia entre as pessoas. "A necessidade de inclusão ou a sensibilidade à exclusão de algumas pessoas é baixa o bastante para que possam tolerar sem muito sofrimento um afastamento grande em relação aos amigos e à família Outras foram moldadas por genes e ambientes para precisar de uma imersão diária de contato físico estreito para se sentirem tranquilas", diz Caccioppo. Há pessoas que se casam para viver o tempo inteiro grudadas e há quem prefira viver em casas separadas e se ver no fim de semana - não há o certo e o errado aqui, apenas uma variação natural. Para os autores, é um fator determinante no sucesso do casamento que os dois sejam parecidos nesse ponto.
          Mesmo que alguns sejam mais "na sua", ninguém é monge trapista por natureza. A razão por que a necessidade de estar com os outros está nos nossos genes e na evolução: éramos animais sociais mesmo antes de nos tornarmos humanos. Na sociedade atual, uma pessoa pode tranquilamente viver trancada num apartamento, trabalhando pela internet e vendo apenas o entregador de pizza. Na Idade da Pedra e antes, ser isolado era urna sentença de morte quase certa - não éramos competentes o suficiente para caçar e nos defender sozinhos. Assim, indivíduos que nasciam sem medo de ficar sozinhos acabavam morrendo e não deixando descendentes, vencidos pela seleção natural.
          A solidão, entretanto, tem uma particularidade importante. Ainda que a pressão para encontrar pessoas seja uma sensação física e genética, há uma diferença na forma como sede, sono e fome agem em relação a ela. Sentir sede, sono ou fome toma mais fácil beber, dormir ou comer - afinal, essas necessidades nos motivam e facilitam a ir nessa direção. Já o indivíduo sob os efeitos da solidão pode se tornar menos competente em conseguir companhia. O medo da rejeição torna as pessoas defensivas, o que, aliado a diminuição no autocontrole, pode fazer com que elas sejam, efetivamente, rejeitadas. "A triste ironia é que esse comportamento parcamente regulado, motivado por sensações de terror, com frequência produz a rejeição que tanto tememos", afirmam os autores. Solidão, assim, se toma um círculo vicioso, do qual é difícil se escapar.
         Estudos antropológicos, como a escala Geert Hofstede, consideram o Brasil um pais não individualista, o que significa que as pessoas valorizam muito o contato - o abraço e o beijo no rosto como cumprimento diário entre profissionais, por exemplo. Mas isso não quer dizer que não haja solitários por aqui, e talvez eles sofram até mais diante da pressão social por ter amigos.
          Para as pessoas presas nesse labirinto, a maior recomendação que o autor  dá é recuperar o autocontrole: evitar ser defensivas demais em relação aos outros e não cair no extremo oposto de se tomar excessivamente "boazinhas" e acabar sendo abusadas, quebrando a cara e ficando ainda mais rancorosas com as pessoas. Outra coisa importante é não embarcar, por desespero, em relações furadas. O primeiro passo, contudo, é identificar o problema. Isso pode economizar muitos anos de vida.
            Uma série de estudos, testes psicológicos e exames físicos mostra os estragos físicos de estar sozinho num mundo social:
OBESIDADE  - Os pesquisadores notaram que os jovens solitários e acompanhados comiam de maneira semelhante, mas as pessoas de meia-idade mais solitárias tendiam
a consumir aproximadamente 25% a mais de gorduras diárias que os mais sociáveis. Satisfeitos socialmente tinham uma chance 34% maior de fazer exercícios que os solitários.
PROBLEMAS COGNITIVOS - Testes psicológicos efetuados por Caccioppo em estudantes mostraram que as pessoas solitÁrias tendem a ser menos capazes de atenção e autocontrole que as demais. Elas foram piores em provas de matemática e em outros testes psicológicos. Para os cientistas, "é como se a solidão criasse um transtorno de déficit de atenção".
PROBLEMAS CIRCULATÓRIOS - Em um estudo realizado em 1979, a epidemiologista Usa Berkman mostrou que pessoas solitárias tinham entre duas e três vezes mais risco de morrer de doenças circulatórias, câncer ou derrame do que pessoas socialmente incluídas. Uma das causas para isso é o estresse, que libera adrenalina e aumenta a pressão sanguínea, sobrecarregando o coração.
ALCOOLISMO E DEPRESSAO - Na juventude, os solitários costumam beber menos que
os sociáveis, mas a tendência se inverte com a idade. Um estudo sueco de 1992, citado pelos cientistas, mostrou que alcoólatras de meia-idade tendem a ser menos gregários. A depressão, por sua vez, está tão relacionada com solidão que perguntar se alguém se sente só é parte do teste-padrão que os psicólogos fazem para diagnosticar a doença.
SONO RUIM - Caccioppo e sua equipe testaram o sono de 64 jovens classificados pela Escala de Solidão da Ucla. Primeiro, eles dormiram no laboratório, depois em casa. Descobriram que os solitários acordavam 25% mais durante a noite e demoravam 15 minutos a mais para dormir. Isso leva à fadiga ao longo do dia.
ENVELHECIMENTO PRECOCE - O estresse e a sobrecarga de adrenalina cobram seu preço ao corpo. A longo prazo, isso causa maior desgaste e liberação de radicais livres no organismo, o que provoca rugas e outros sinais de idade antes da hora.
                                                          FONTE:  revista LOLA, nº 6, março de 2011.

quinta-feira, 17 de março de 2011

LITERATURA MILIONÁRIA


          A inglesa J.K. Rawling, a mãe do bruxo Harry Potter, e  a americana Stephenie Meyer, criadora dos vampiros de Crepúsculo, conseguiram fazer a mágica de transformar literatura em uma máquina de fazer dinheiro. Hoje, são as escritoras mais poderosas do mundo
          Ela não são habitués das colunas sociais; não se destacam pela beleza e glamour, nem aparecem em balneários badalados com bonitões a tiracolo. Mas poucas mulheres têm tantos e tão fiéis seguidores ao redor do mundo e construíram impérios milionários sobre os pilares de suas sagas. Em lista divulgada pela revista Forbes recentemente, as duas escritoras aparecem entre os dez autores mais bem pagos do mundo entre junho de 2009 e junho de 2010 - ou melhor, entre os que mais faturam com a literatura.
         Embora pertençam a esferas diversas do mundo sobrenatural, o segredo é o mesmo: nos dois casos, a literatura funcionou como ponto de partida para o surgimento de duas das mais valiosas franquias do mundo, que transcendem em valores o mercado editorial reservado ao restante dos mortais escritores. 
          Ao todo, a série Harry Potter produziu, desde 1997, sete livros e oito filmes - destes, apenas a segunda parte do oitavo não estreou. Somando as vendas dos livros com as bilheterias de cinema, o faturamento total bate em 5,3 bilhões de dólares. Só no "primo pobre" da equação, o mercado editorial, as vendas chegam a 400 milhões de exemplares, traduzidos para nada menos que 67 idiomas. Adicione aí áIbuns de figurinhas, fantasias, camisetas, canecas, cadernos e uma infinidade de tranqueiras e você entenderá como a mágica acontece. Para ser comercializado, tudo isso tem de passar pelo rigoroso crivo da criadora. É por tudo isso que Rowling aparece em outra lista da Forbes, como a segunda mulher mais rica do mundo, atrás somente da multiempreendedora Oprah Winfrey e à frente de gente como Martha Stewart e Madonna. Com uma fortuna estimada em 1 bilhão de dólares, ela é simplesmente a primeira escritora bilionária da história. E isto vai aumentar, pois. em julho de 2010, a Universal Studios abriu, em um de seus parques, em Orlando, O Mundo Mágico de Harry Potter, uma ilha da fantasia digna do castelo de Hogwarts. Foram dez anos entre projetos e obras em 89 mil metros quadrados, totalizando um investimento de 265 milhões de dólares, envolvendo dezenas de arquitetos e designers. A expectativa é que passem por lá, só neste ano, 4,5 milhões de pessoas, gerando lucros que vão muito além dos livros da saga A ideia do parque é fazer com que os fãs se sintam dentro do mundo de Harry Potter, podendo tanto jogar quadribol num radical simulador 3D quanto provar a cerveja amanteigada das historias do livro. Rowling supervisionou tudo bem de perto, fechou contrato com a Universal (dona do parque) e a Warner Bros. (detentora dos direitos para cinema), provou a cerveja e mandou mudar a base de pedra de Hogwarts por achá-la pouco "realista" - se é que essa é uma palavra apropriada para o tema. Sozinhas, as cifras do negócio já são espantosas, imaginem somando-se tudo.
          Já a saga Crepúsculo, de Stephenie Meyer está distante, mas está chegando perto - e é bom lembrar que o fenômeno, iniciado em 2005, é mais recente. Atualmente, a escritora aparece (em outra lista da Forbes) em 59º lugar no ranking das 100 celebridades mais influentes do mundo, lado a lado com o galã George Clooney e a veterana Cameron Diaz. Em seis anos, foram vendidos 100 milhões de exemplares dos quatro títulos da série. Já os três filmes lançados até agora, estrelados pelos queridinhos do público, Robert Pattinson e Kristen Stewart, fazem mais barulho ainda. Somados, Crepúsculo, Lua Nova e Eclipse acumulam quase 800 milhões de dólares. Este último arrecadou 68,5 milhões apenas no dia de estreia nos Estados Unidos. E vem mais por aí: neste ano, sai a primeira parte da adaptação do quarto filme, que, como o último Harry Potter, também será dividido em duas partes.
          Em quase tudo, aliás, Meyer e Rowling se assemelham. A franquia Crepúsculo se espalha, como Harry Potter, pelas lojinhas. Edward Cullen e Bella Swan estampam camisetas, jóias, cosméticos, chinelos, bolsas,bonecos, etc. E o que falta não tarda a chegar - neste mês, por exemplo, será lançada uma versão em quadrinhos dos livros.
          As duas escritoras também são zelosas com suas crias, acompanham as gravações e dão palpites até dizer chega. Meyer esteve no ano passado no Brasil, acompanhando as gravações do próximo lançamento. Rowling, por sua vez, fez questão, desde o início, de que todos os atores escalados para os papéis fossem ingleses, para que os filmes fossem mais fiéis à obra.
         Se na seara dos negócios as autoras trilham percursos semelhantes, elas se mostram diferentes na administração da vida pessoal repentinamente endinheirada. Mórmon, membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, a ex-professora de inglês Stephenie Meyer continua levando uma vida relativamente simples na árida Cave Creek, cidadezinha de 5 mil habitantes nos arredores de Phoenix, no Arizona, onde mora com o marido e três filhos pequenos.                          Com  J. K. Rowling , a história é bem diferente. Também alçada repentinamente ao sucesso, a mulher de 1 bilhão de dólares não se faz de rogada. Entre suas aquisições no período pós-Harry Potter, estão um jatinho particular; uma mansão de 7,2 milhões de dólares em Kensington, Londres; uma casinha para os fins de semana, com seis quartos, na bucólica Perthshire, na Escócia; e uma terceira, de 3,2 milhões de dólares, em Edimburgo, também na Escócia, onde mora a maior parte do tempo com o marido e três filhos. Gosta de vestir Vivienne Westwood, calçar Jimmy Choo e carregar nas mãos bolsas Dior, Prada e Marc Jacobs.
          Como boa celebridade zilhardária, também está no negócio da filantropia - doou 35 milhões de dólares para a organização britânica Comic Relief, que faz trabalhos humanitários em diversas partes do mundo. Nada mal para quem também saiu pobre de cidade pequena, morava em um apartamento infestado de ratos, ganhava 100 dólares por semana, enquanto servia café em um bar, cuidava da filha pequena e escrevia um livro sobre um certo bruxinho.

                                                                                 FONTE: Revista LOLA, nº  6, março de 2010.

terça-feira, 15 de março de 2011

O CULTO DO EXAGERO

                 Numa época como a de hoje, em que as pessoas fazem qualquer coisa para aparecer, só triunfam realmente os que se jogam sem pudor  e fazem o possível e o impossível para aparecer.

           Prova disso são as Lady Gaga, Paris Hilton, Madonna e, em terras brasileiras, as cantoras baianas. Todas têm em comum o amor pelo artificial e pelo exagero  nas roupas, nas atitudes e até na aparência em geral. Basta olhar em volta e perceber que praticamente tudo o que se enxerga na mídia mundial passa pelo exagero, porque ele deixou de ser uma parte do mercado e virou o próprio mercado. No Brasil o exagero é o primo rico do brega.
           O exagero não é uma coisa nova no mundo da arte, ele sempre apareceu, embora não com a força dos dias atuais. Carmem Miranda, por exemplo, pode ser considerada uma avó de Lady Gaga e das cantoras baianas de hoje. E Elke Maravilha poderia ter sido a mãe delas. 
              Refiro-me às cantoras baianas, porque parece que elas desistiram de competir apenas com a sua voz e passaram a querer mostrarem-se melhores que as outras também na aparência, sendo a mais bonita, a mais gostosa, a mais sarada, a que usa as roupas mais criativas (chegam a ter estilistas exclusivos). 
           As bandas também entraram nessa loucura e mostram integrantes cada vez mais  extravagantes nas roupas e na maneira de dançar. Vejam a Joelma, da Calipso, que chama mais a atenção pela pouca roupa e pelo rebolado do que pela voz que, aliás, é fraquíssima.
         Chacrinha foi considerado brega na sua época, depois virou “cult” e hoje seria perfeitamente normal o seu exagero. Na telinha, por exemplo, Sarah Jessica Parker, em “Sex and the City”, está mais para perua do que para estilosa. E até os estilistas, em seus desfiles de moda, vêm apelando para o exagero nos modelos que apresentam, a ponto de alguns parecerem mais alegorias de passarela de samba do que roupas para   pessoas normais.       
         Este culto do exagero se tornou algo normal e corriqueiro  na atualidade, As pessoas querem se destacar e,  como a concorrência é muito grande, apelam para o excesso, seja na aparência, seja nas atitudes. O que importa é ser visto, ser notado. Nem que para isso se chegue ao ridículo. Todos querem ter os seus 15 minutos de fama a para consegui-los consegui-lo, vale tudo, pagam qualquer preço. Como disse Cícero :"O  tempora, o mores!" (Ó tempos, ó costumes!)

                                                                                                              



  

quinta-feira, 10 de março de 2011

DOIS FILHOS EM UM (por Toninho Cerezo)


           Faço questão de postar aqui a carta  de Toninho Cerezo para sua filha Lea, publicada na revista LOLA, nº 6, de março de 2011.

           Qual pai um dia não pensou desta maneira? Como seria bom se existisse um manual completo, que ensinasse e orientasse como ser pai em todas as etapas da vida dos filhos!
           Por mais que existam livros, manuais, conselhos bem-intencionados, a grande verdade é que exercer a paternidade vai muito além de conselhos e teorias. Todos sabem que cabe à paternidade uma parcela da responsabilidade de cuidar, educar, proteger e preparar os filhos para o ingresso na sociedade.
           Mas a alma humana é muito complexa, e estamos bem longe de saber tudo o que esse ser mutante chamado homem é capaz de fazer, querer e ser...
           Meu menino, minha menina, pra sempre, eternamente, os dois serão meus.
          Ainda no ventre, Leandro foi um filho esperado e amado. Na sua infância, seu sorriso doce e os cabelos cacheados não me indicavam qualquer tendência, era apenas uma criança, era apenas meu filho.
          Com o passar dos anos e a chegada da adolescência, conheci,  na intimidade e nos momentos que passamos juntos, seu jeito diferente - a clara ausência de predileção por brincadeiras masculinas. Percebi interesse por assuntos ligados à arte e ao universo feminino.
          Por conta da minha formação familiar ter sido baseada em respeito, cresci em um ambiente livre e pude escolher jogar futebol e viver apenas com meus dons no campo. Como não tive o tão sonhado manual. "Como Criar Filhos", criei os meus igualmente livres também para suas escolhas, sem cobranças nem imposições.
          Apesar de notar as diferenças, percebi também que nada poderia fazer, e tudo o que poderia dar a ela/ele era o meu amor incondicional, a segurança, o conforto e a certeza de que, em qualquer circunstância, por mais que longe, eu estaria sempre ao seu lado.
          Em alguma entrevista, Lea disse que a  única coisa que gostaria de ter aprendido no futebol eram as embaixadinhas (veja só!), e que até tentou aprender, mas não foi muito bem-sucedida.
          Sei que trabalho em um ambiente teoricamente machista, mas nunca houve influência nem espaço para cobranças, apenas dei oportunidade de estar comigo caso quisesse.
          Pode ser que eu tenha sido negligente como pai, mas não há motivos para frustrações. Não podemos ser bons em tudo. E você, Lea T. Cerezo, sabe muito mais que embaixadinhas. Teve coragem de, elegantemente, tentar quebrar paradigmas e mostrar ao mundo que devemos aceitar, sim, as diferenças, ser tolerantes com a diversidade, entender e não julgar aquilo que não conhecemos. O caminho pode ser longo, mas com certeza não será o mesmo depois de você.
           A paternidade é livre de qualquer padrão, de qualquer critério imposto pela sociedade, filho deve ser aceito na sua totalidade, na sua integral condição de vida, independentemente de sua orientação sexual.
          Como diria o poeta Cazuza, "0 tempo não para, não para, não, não para", e filho crescido não cabe mais aos pais educar. Sendo assim, aqui ou lá, torço por você, Lea.
           Menino ou menina, Leandro ou Lea, não importa mais, sempre serei seu pai e você, orgulhosamente, um pedaço de mim.