sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

PARA TODOS OS NOSSOS AMIGOS!

      Ano  Novo...vida  nova.  É assim que  a maioria das pessoas se sente ao começar um novo ano. Mas é necessário que reflitamos sobre o fato de que não adianta mudar o ano, se nós não estivermos dispostos a mudar. Mudar aquilo que está  nos incomodando, que está impedindo a nossa felicidade, que nós sentimos que poderia ser diferente.De nada adianta esperar que a  mudança do ano  nos traga a felicidade, se nós não estivermos dispostos a lutar por ela. E, principalmente, enxergá-la a cada dia nas pequenas coisas boas que temos  e, muitas vezes, não valorizamos: a família, os amigos, o trabalho, o pão de cada dia. Saber desfrutar até de um chimarrão no final da tarde, de uma cervejinha gelada, um papo amigo, já é uma arte de ser feliz que muitos não sabem apreciar.
     Portanto, neste ano que se inicia, saibamos primeiro fazer uma avaliação do que fizemos, agradecendo o que foi bom, e refletindo sobre o que precisamos melhorar, ou modificar, para que 2012 seja melhor. Mas sempre com a certeza de que os anos mudam e também nós precisamos mudar. Mudar para melhor, para acompanhar o mundo que evolui, a idade que avança, aceitar os ganhos e também as perdas. Aliás, nenhuma perda é totalmente perda, sempre podemos aproveitá-la como lição para algo futuro. Para isso é preciso aprender a ter "perdas com ganhos" e não só "perdas e ganhos".  Olhe para a frente  e  busque  o  que deseja, com a certeza de que vai chegar lá.
                        FELIZ  ANO  DE  2012!   
QUE ELE SEJA O ANO DA SUA VIRADA, SE VOCÊ PRECISA MUDAR  ALGUMA COISA!


quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

SAÚDE É UM PERIGO !

Esta é uma crônica humorística da conhecidíssima atriz Denise Fraga, em que ela aborda, de maneira bem-humorada,  as dificuldades que temos em escolher entre o que se deve fazer para manter-se em forma e com saúde e aquilo que gostaríamos de fazer porque dá prazer à vida.

      Fazemos parte de um grupo de amigos que se encontram toda semana para jantar, e é quando ela acaba nos falando de suas novas descobertas. Por muito tempo, ríamos um pouco do poder nutricional dos brócolis, optando por nossas picanhas no cardápio, mas, lentamente, fomos sendo seduzidos por essa fada alquimista dos nutrientes e acabamos caindo, um a um, como num livro de Agatha Christie, na cadeira de seu consultório. Nesta semana, soube que o mais resistente de todos, o último dos moicanos, aquele que adorava torresmo e pinguinha, começou a comer arroz integral.
     Estamos perdidos! Ou, melhor, achados! Pois o fato é que tudo melhora, da pele ao colesterol.O que me faz crer que temos mesmo que cuidar do que colocamos na boca. É fato. Mas também é fato que nossos deliciosos jantares de antes caem agora em questão de segundos numa consulta coletiva. Vamos nos policiando, mas a síndrome não é só de nossas mesas. Palavras como fibras, serotonina, ômega, probiótico, etc. andam por aí a todo o vapor em bocas leigas. Agora, até aquela sua tia que faz a melhor feijoada da face da Terra anda chamando batata de carboidrato!
    Se nossas avós trocavam receitas de bolo, hoje trocamos receitas de baixar colesterol.
      O que a gente quer? Se sentir bem, creio eu.
      Mas me sinto tão bem quando como aquele pastel da feira perto da minha casa! Ainda não conseguimos resolver o dilema entre a pequena e a grande felicidade. O que é bom fazer e o que é bom de fazer. Viver saudável não significa viver feliz.
     Queremos ser saudáveis, mas a disciplina exigida para a mudança dos hábitos nos deixa infelizes, e o número de coisas que achamos que devemos fazer pela nossa saúde acaba sendo insalubre, desumano e criando uma ansiedade danada.
      Confesso que morro de saudade do tempo em que minha nécessaire era uma escova de dentes, um xampu, um condicionador e um desodorante e tudo parecia estar bem. Comia arroz com feijão em quase todas as refeições e a vida andava. O mundo parecia simples, até eu descobrir que não dá para existir sem creme hidratante. Tempos depois, que não basta hidratar o rosto, tem que hidratar o corpo também e, mais tarde, que é quase impossível a existência de uma mulher sem leave-in. Como pude, Deus meu, viver tanto tempo sem leave-in?!
      Enquanto eu faço tudo para não engordar, o sobrepeso de minha nécessaire vai ocupando espaço na minha mala. Mais produtos e mais afazeres. Só na questão hidratação, agora é necessário que eu tome oito copos d'água por dia, caramba! E a bola de neve não para de crescer, porque, a cada dia que passa, mesmo que eu não pesquise, acabam me contando mais alguma coisa que devo fazer pelo meu cabelo, minha mente ou meu estômago.
     A medicina preventiva está fazendo a gente viver mais tempo, mas ainda não conseguiu solucionar nossa qualidade de vida para os anos extras. Confesso que muitas vezes desanimo e acabo até colocando 20 e tantas das tais gotinhas homeopáticas no copo d'água por simplesmente estar de saco cheio de contá-las, de comer o que é preciso comer, fazer o que é preciso fazer, do número de coisas que é bom que façamos, mas que não nos dá exatamente prazer. Ao contrário, é chato pra caramba, sem nenhum sabor, mas a gente sabe que faz bem. Na verdade, tenho pensado muito no que é fazer bem.
       Fiz um filme há pouco tempo em que precisava fazer várias cenas fumando. Não sei tragar direito, nunca fumei e nunca aprendi. Minha mãe fumou por todos nós lá em casa. Resolvi aprender a fumar para não fazer vergonha no filme e traguei alguns cigarros verdadeiran1ente pela primeira vez. Entendi tudo. Entendi minha mãe, o prazer dos fumantes e a dificuldade de quem não consegue parar de fumar. Minha mãe parou, graças a Deus. Mas confesso que tenho saudade daquela sensação de paz que me dava quando ela falava "agora eu vou fumar o meu cigarrinho" e ficava ali saboreando o seu pito.
Cigarro faz mal, paz faz bem. Ô, dilema!
    Não sou como Roberto Carlos, pois não é tudo o que eu gosto que é ilegal, imoral ou engorda, mas também não me arrisco a dizer que tudo o que me apetece é saudável e politicamente correto. Acho que evoluímos muito em vários sentidos. Temos gôndolas de orgânicos no supermercados, separamos o lixo, economizamos água, temos vagas para cadeirantes, ciclovias e cidade limpa. Os acidentes de trânsito devem ter diminuído com a lei do bafômetro e nossos pulmões agradecem os restaurantes e shoppings sem cigarros, mas sinto que existe uma assepsia qualquer em nossos dias.
     Uma amiga minha disse, outro dia, diante de outra que insistia para que provasse o tal doce da padaria: "Por favor, não me apresente nada mais que eu tenha que evitar!". Melhor mesmo. Já temos que evitar coisas que nos eram tão cotidianas e inofensivas, como uma xícara de café com leite ou um bife com batata frita, imagine se vamos aumentar nossa lista de tentações. Precisamos estar fortes e atentos para não comer brigadeiro nem demorar no chuveiro.
     Vamos combinar? Tá chato. Vai deixar de se cuidar? Não. Não dá mais pra chutar o pau da barraca quando você tem consciência das coisas.O que você viu está visto e não se apaga da memória. Mas dá para relaxar um pouco, instituir um dia da semana para pecar e contar gotinhaiS diárias de criatividade para inventar coisas divertidas pra fazer no meio de tanta coisa chata. Acho que, de tanto evitar pequenos prazeres, corremos o risco de nos acostumar, inconscientemente que seja, com uma vida insossa e de acabar esquecendo de nos divertir. Ômega 3 faz bem, cantar também. Coma frutas e legumes, mas, por favor, não esqueça de ir ao cinema. Dançar, cantar, ir ao teatro, ao cinema, rir com os amigos, viajar, piquenique e paraquedas ainda são os melhores antioxidantes que existem.
     Pronto! Cá estou eu dando mais uma receita de bem viver. Que seja, pois acho que, se vivemos um tempo em que temos que fazer grande esforço para o que devemos, necessitamos fazer o dobro pelo que queremos. Ponha na lista. Vale a pena!
                                                    ( Revista LOLA,  nº 13)

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A CORAGEM DE SE APAIXONAR

Esta é uma crônica muito  interessante, publicada na revista Lola, nº 15, por Hilda Lucas.
    A paz é respiro e refrigério, mas enjoa. Precisamos da paixão, que é movimento e animação. Pode ser por alguém, por uma ideia, um projeto. Mas melhor ainda quando é pela própria vida. Não adianta, a paz não é suficiente. Já se perguntava Riobaldo: "Se a paz é boa? Então, como é que ela enjoa?".
     Acho que os corajosos e os lúcidos deveriam rezar assim: Senh01~ protege-1ne das prisões do comodismo, da platitude e da estagnação. Dáme coragem, loucura e tesão para viver se?n medo de mim e dos meus sonhos. Dá-me asas e ventos, insônias e angústias, inquietações e algum sofrimento, para que eu possa dizem "sim" à Vida.
     Coragem é a maior das virtudes. É preciso muita coragem para esse viver tão perigoso, principalmente quando o perigo está na acomodação e na segurança. Sim, existe grande risco para a alma  quando nos sentimos aprisionados por nossas conquistas, nosso cotidiano tão bem organizado, nossos scripts engessados. É como olhar o oceano por uma pequena janela, ver apenas uma nesga do horizonte, e acreditar que a imensidão está dentro das paredes e não explodindo fora delas. É como traçar voos dentro de gaiolas luxuosas, e tentar se convencer de que o brilho das coisas tangíveis é mais bonito que o das estrelas ermas no céu.
     Se, por um lado, queremos tranquilidade, proteção e prospelidade, por outro, queremos plenitude, renovação e vertigem. Somos híbridos, feitos de muitas matérias e vocações: parte, como os minerais e vegetais, que se confundem com a terra e nos fazem assentar, e outra parte, como os sonhos e os deuses, que nos arrancam das nossas vidas previsíveis e nos elevam. Somos alternância entre escassez e abundância, lacuna e transbordamento, assentamento e desassossego. Somos inconstantes, graças à vida!
    De repente, sua vida está perfeita como num anúncio de margarina, mas você se sente desmotivada e desperdiçada. É como se a vida de verdade estivesse acontecendo lá longe, e você estivesse à margem, assistindo de camarote, sem dançar. De repente, você chega "lá", mas não está satisfeita De repente, você se lembra daquele mestrado que você adiou; do ano sabático que você sempre quis tirar; ou, simplesmente, tem uma ideia louca, e pensa: "Por que não?". 
      De repente, você percebe que sua vida envelheceu ou estagnou, que você até gosta da sua vida, mas sente uma incompletude, uma vontade de gostar dela mais ainda. Não há nada errado com você. Muito pelo contrário. É pura sanidade. Se a paz é respiro e refrigério, a paixão é movimento e animação. Pode ser paixão por alguém, por uma ideia, um projeto, mas melhor ainda quando é pela própria vida. A paixão pela vida nos dá coragem, nos transforma em quem queremos ser, nos arranca da mediocridade, da mesmice e nos convoca a reescrever novos capítulos.
   Acho que os sonhadores e os atrevidos deveriam rezar assim: "Desperta-me, Senhor! Sopra-me palavras inéditas, inspira-me com lampejos e intuições. Tira-me do sério, dos trilhos, da forma. Dá-me sobressaltos e suspiros, desvarios e fome. Dá-me plena posse de mim mesma, para o bem e para o mal.
      O inconformismo é como uma canção interna, que faz você lembrar quem você realmente é; é como um rio, que, mesmo represado, intui o mar.
    É esse anseio, essa borbulha na alma, que nos faz buscar o novo, o movimento, o entusiasmo; que nos faz t~car a monotonia das horas e a opacidade do olhar pela aventura das novas escolhas e a ousadia de dar guinadas no caminho.
       Gosto de pensar que, quando assumimos chamados, aceitamos desafios, viramos a mesa ou apenas invertemos a ordem das nossas rotinas ou trocamos a cor dos nossos cabelos, estamos dizendo sim à vida, beijando a vida na boca, apaixonadamente. São pequenos ou grandes gestos, mudanças profissionais, rompimentos, ajustes de rota, faxinas, decisões de Ano-Novo, quebras de parâmetro, loucuras, alforrias. O que você ganha? Brilho no olho, inteireza da sua alma, delícias e agonias de ser dona da sua vida, e poder recitar Henley como o Nelson Mandela: "Sou o mestre do meu destino, o capitão da minha alma".
      Acho que os destemidos e os ávidos deveriam rezar assim: "Assombra-me, Senhor! Não permita que eu me afaste do que me identifica, que eu esqueça o que me alegra ou cale o que me traduz. Insuflame, instiga-me, exige-me, Senhor. Livra-me dos boicotes e adiamentos que eu mesma me imponho. Dá-me paz e paixão, alternadamente, como a chuva e a estiagem - já que uma só existe quando a outra desiste. Faz-me entender que há mais dano no medo de viver que no medo de morrer.
      Cada vez que dizemos sim à vida ou pelo menos, por que não?, fazemos girar a roda da fortuna, expandimos nossos limites, reconhecemo-nos nos espelhos da alma e, depois, exaustas e felizes, sorrimos para nós mesmas. Lá estamos nós, inteiras!
                                                                            

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A IMPORTÂNCIA DA FÉ E DA RELIGIÃO (continuação)

     Na entrevista que concedeu à revista Lola, o filósofo suíço Alain de Botton comenta algumas idéias que apresenta em seu livro “Religião para Ateus”, tais como, embora não creia na existência de Deus, considerar perigoso o fato de se tentar retirar das pessoas a liberdade de ter uma religião.
  Outros perigos que ele aponta é o de colocar o ser humano no centro de tudo; o do perfeccionismo tecnológico, de acreditar que a ciência e a tecnologia podem superar todos os problemas humanos.  Também  aponta que sem uma crença é  mais fácil perder a perspectiva da vida: esquecer a brevidade do presente e deixar de apreciar, no bom sentido, a natureza minúscula de nossas próprias realizações. E, finalmente, sem fé, existe o perigo de negligenciar  a necessidade de empatia e comportamento ético. Agora, é importante ressaltar que é possível não acreditar em nada e lembrar-se de todas essas lições.
      Ele se considera verdadeiramente um ateu. Mas isso não significa que não tenha interesse em sabedoria, consolação, comunidade, rituais ou arte. Na verdade, ama todas essas coisas, e considera a missão do seu livro argumentar que os ateus precisam desses elementos tanto quanto"as pessoas religiosas.O problema do homem sem religião é que ele se esquece. Todos  sabemos, em teoria, o que devemos  fazer para ser bons., mas esquecemos. É aí que entram as religiões. Elas dão lembretes diários do que é preciso fazer, às vezes até de hora em hora. Isso é o que são os rituais: são tentativas de manter vivas as coisas que já sabemos, mas que esquecemos. Religiões também servem para nos vermos como mais do que apenas mentes racionais; somos criaturas emocionais e físicas e, portanto, precisamos ser seduzidos por nosso corpo e nossos sentidos também.
   “Não quero atacar as pessoas religiosas. Eu sou ateu, mas sou gentil. Não sinto a necessidade de debochar de quem acredita. E realmente discordo do tom duro de alguns ateus que tratam a religião como apenas um conto de fadas bobo. Sou profundamente respeitoso em relação à religião, mas não acredito em nenhum de seus aspectos sobrenaturais. Então, minha posição é talvez pouco usual: sou, ao mesmo tempo, muito respeitoso e totalmente irreverente”.
    Segundo ele,  a religião cumpre o mesmo papel que a psicanálise tem para alguns e a filosofia para outros. Todas são maneiras de tentar achar um sentido para a vida.
O ponto de partida da religião é que somos filhos e precisamos de orientação. Mas  muitas pessoas  não aceitam isso, acham que todos são adultos e não precisam de orientação  e instrução moral.  Querem   tratar todos  como seres muito racionais e razoáveis. Na verdade, estamos muito mais desesperados; estamos à beira do pânico e do terror praticamente o tempo todo - e as religiões reconhecem isso.
    “ Para mim, as religiões são fascinantes, porque são máquinas gigantes para tomar ideias vivas e reais na vida das pessoas: ideias sobre bondade, morte, família e comunidade. Hoje em dia, tendemos a acreditar que as pessoas que têm ideias vívidas são artistas e importantes figuras culturais. Mas isso é um pensamento muito pequeno em resposta a um conjunto enorme de problemas. Então, estou profundamente interessado na maneira como, no fim, as religiões são grandes instituições, máquinas gigantes, organizações, empenhadas em gerir a nossa vida interior. Não há nada como isso no mundo secular, e isso é uma pena enorme.”
      As pessoas têm tanta atração por conceitos orientais, como o budismo, o taoísmo porque os filósofos orientais eram particularmente bons em expressar nosso anseio por calma e nossa insatisfação com o materialismo.No mundo moderno, isso é natural e profundamente atraente para muitas pessoas.
     Botton não acredita na existência da alma, mas  acredita que cabe a todos olhar para a religião, ver os pedaços que podemos roubar dela e colocá-los no mundo moderno. Todos nós podemos contribuir para a construção de novos templos. A salvação da alma individual continua a ser um problema sério - mesmo quando rejeitamos Deus. No século 20, o capitalismo realmente resolveu (no Ocidente laico) os problemas materiais de uma parcela significativa da humanidade. Mas a vida espiritual ainda está um caos, e as religiões estão deixando de atender a essa necessidade.
   “ É por isso que eu escrevi meu livro, para mostrar que continua a haver uma maneira nova: uma forma de preencher o mundo moderno com tantas lições importantes da religião, e ainda não precisar retomar a qualquer tipo de espiritualidade ocultista.”
        (Entrevista publicada na revista Lola, nº 15, dezembro de 2011)

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A IMPORTÂNCIA DA FÉ E DA RELIGIÃO

      Na revista Cláudia, do mês  de novembro,  há uma interessante reportagem que trata da importância de os pais, a família, transmitir aos filhos  hábitos religiosos. Baseada em opiniões de filósofos, teólogos e de  algumas mães, a autora faz uma abordagem clara do tema, partindo do fato de que  tradição e doutrina religiosa perderam espaço na maioria das famílias, que vivem a espiritualidade de maneira informal, e afirma que esses rituais vão fazer falta para o futuro das crianças.
      Antigamente, os hábitos religiosos faziam parte do dia a dia das famílias  e os rituais passavam de forma natural de pais para filhos. Quem pensaria, por exemplo, há  anos atrás, em faltar à missa de domingo? Mas, nas últimas décadas, grandes mudanças aconteceram no território da religiosidade. Não há mais  uma obrigatoriedade social de praticar alguma religião, ninguém se sente constrangido  por não participar de algum credo,  ninguém se importa em saber qual é a religião do vizinho.  Os próprios movimentos contra os dogmas e as imposições  favoreceram tal fato. Inclusive a legislação brasileira, que instituiu a liberdade de crenças e abriu a todos a possibilidade de fazer escolhas.  Viver a espiritualidade sem se filiar a uma religião é uma tendência atual.
       Os estudiosos, entretanto, ressaltam a necessidade de os pais falarem a seus filhos sobre o que acreditam, reforçando que se trata de uma crença e não de uma verdade absoluta, para que eles tenham a liberdade futura de fazer suas escolhas. Isto é, é importante que se mostre à criança a importância de acreditar em algo, que se mostre o caminho, sem impor doutrinas. Principalmente, que se passe a elas as noções de respeito e amor ao próximo, sem mostrar preconceito contra as crenças alheias. E, o mais importante, que a criança sinta o valor da espiritualidade vendo a vivência dela por parte de seus pais,como  um legado de amor
     Enfim, é indispensável criar os filhos com noções de espiritualidade? Mario Sérgio Cortella, filósofo e doutor em educação, não tem dúvidas. "É importante, sim. Ela lhes dá a sensação de pertencerem  a algo maior, ao magnífico mistério da humanidade que não se restringe à matéria, ao concreto, que fenece. Isso traz autoestima para a criança, faz com que se sinta elevada, incentivando-a a reverenciar a vida - a dela e a dos outros -, os valores humanos e a beleza da natureza. Também traz noções de esperança, que  combatem o desespero", explica Cortella. Dora lncontri, doutora em educação, concorda. "Confere sentido à existência, auxilia no equilíbrio interno e  traz apoio diante do sofrimento e da morte".
    Completando o assunto, na revista Lola de dezembro, o filósofo pop, e ateu, o suíço Alain de Botton, afirma que é importante recuperar a importância de ideias como o sentido de comunidade, a bondade, a humildade e a empatia que as crenças religiosas proporcionam. Em suma, a religião é importante para a vida das pessoas.  Ele se diz verdadeiramente ateu, mas, em seu livro Religião para Ateus, argumenta que as religiões podem, sim, ser úteis, interessantes e reconfortantes, e que é importante utilizar suas idéias e práticas no mundo secular, laico e descrente. “Eu me interesso por sabedoria, consolação, comunidade, rituais e arte. E minha missão no livro é argumentar que os ateus precisam desses elementos tanto quanto as pessoas religiosas”, disse ele ao ser entrevistado pela jornalista Carol Vaisman.
   Botton sempre nadou contra a corrente de seus colegas filósofos, investindo num pensamento que procura identificar na filosofia, na arte e na literatura o que pode ajudar as pessoas no seu dia a dia. Nessa entrevista, ele explia como imagina ser possível “roubar” pedaços da religião para acrescentá-los ao mundo moderno, ataca os ateus ou debocham da religiosidade e dos crentes. E diz que, por mais que nos nos achemos centrados e racionais, nossa vida espiritual ainda está um caos.
       Na próxima postagem vou falar sobre a entrevista, pois acho o tema da fé muito importante  e considero que todos nós precisamos ter uma crença num ser superior (não importa o nome que lhe deem), para que tenhamos onde buscar forças nos momentos difíceis.
   

domingo, 11 de dezembro de 2011

OS SEGREDOS DE CHANEL

          Não há quem não saiba quem foi Chanel .Ela se tornou um ícone, um mito. Suas criações, como o vestido pretinho básico, seus “tailleurs”, suas pérolas, suas bolsas, seus perfumes ainda povoam os sonhos de consumo das mulheres, por mais que a moda sofra mudanças. Chanel é um clássico e os clássicos são para sempre.
       Os mitos constituem uma fonte de assunto. Principalmente nos tempos de hoje, em que se tornou moda desconstruir os mitos. Coco Chanel também não escapou a esse destino. Muitos livros foram escritos e vários filmes foram feitos sobre o mito Chanel. Mas agora surgiram novas obras, que mostram um ângulo diferente da Chanel que todos conheciam: uma Chanel que suspeitavam, mas sem muita certeza, uma mulher com muitos amores (rápidos, espalhafatosos, bissexuais), o uso de drogas.
       Um desses livros é Coco Chanel: An Intimate Life, da americana Lisa Chaney, que mostra uma mulher  dada a amores proibidos com homens e mulheres, o vício no uso do opiáceo Sedol, que se autoaplicava todas as noites. Mas o livro mais chocante é Dormindo com o Inimigo – a Guerra Secreta de Coco Chanel, do também americano Hal Vaughan. Ele aborda uma Chanel que, durante a Segunda Guerra, foi amante de um belo oficial alemão, o barão Hans Günther von Dincklage, o que a levou a ser recrutada pela Abwehr, o serviço de informações do Estado Maior alemão, tornando-se a agente F-7124, que usava o nome-código de um de seus outros amantes, o duque de Westminster.
       Chanel foi uma boa agente,  fez vários trabalhos importantes para a espionagem alemã, e se aproveitou disso para tomar o controle do perfume Chanel nº 5, que era na época propriedade de dois judeus, seus antigos patrocinadores, os irmãos Wertheimer, que haviam fugido para os Estados Unidos.  Ela não teve nenhum escrúpulo, pois sempre fora antissemita, tolerava apenas os judeus ricos.
      Estas revelações surpreendem a princípio, mas, pensando melhor, vê-se que têm uma base real, pois como poderia Chanel ter continuado a morar no luxuoso Hotel Ritz, mesmo depois que os alemães o requisitaram para moradia do seu Estado Maior, após terem invadido Paris?
         É claro que estas coisas só poderiam surgir agora, depois de tanto tempo, já que Chanel foi cuidadosa ao deixar vazar somente os seus aspectos que interessavam. Deixava ver apenas a mulher serena, impoluta, a grande senhora, orgulhosa. Mostrava-se independente, ostentava sua liberdade, sua revolta, não ocultava seus amores, declarava-se livre de preconceitos, tinha atitudes provocadoras.. Em outras palavras, divulgava suas audácias chiques, mas cobria com um véu o que poderia ser duvidoso em seus amores ou atitudes.
      Em resumo, Chanel mentia, trapaceava, era hipócrita. Ela se inventava. Era seu próprio romance. Isto teve origem na necessidade que tinha de esconder sua origem humilde, sofrida. Depois de famosa, falava de um pai aventureiro que fora para a América e fizera fortuna por lá, e de duas tias ricas que a ampararam. Nada disso era verdade.  Sua infância foi um romance de Charles Dickens, cheio de abandono, grosseria, brutalidade, humilhações.
      Chanel nasceu em 1883, num vilarejo da época da Idade Média. Seu pai era um camelô que trabalhava de feira em feira e que desapareceu quando a mulher, uma costureira em domicílio, morreu. Ela e suas duas irmãs menores foram parar em um orfanato numa abadia cirsterciense, num fim de mundo. Lá viveu por 6 anos, até completar 18 anos, quando foi mandada  para um lugar onde aprenderia o ofício de costureira, para fazer os vestidos das grandes  damas. Mas Chanel não fora feita para tal vida e tratou de conseguir um contrato num musical. Passou a cantar todas as noites para os soldados do 10º Regimento de Caçadores a Cavalo. Um das suas cançonetas, “Quem viu Coco no Trocadero”, levou os militares apaixonados pela bela  senhorita a apelidarem-na de Coco. E, é claro, com eles Chanel aprendeu também os truques do amor e do sexo.
       Eis aí a fonte das mentiras: dessa infância esfarrapada, ela extraiu seu talento, sua dureza, sua revolta, sua frieza, sua avidez pelo sucesso. Mas, por vergonha, escondeu os anos terríveis e fabricou outra história para si. Todavia, as influências do ambiente onde fora criada refletiram-se nas suas criações: o “logo" da Chanel  (dois C entrelaçados) veio dos vitrais da abadia onde viveu; os vestidos simples, sem enfeites, refletem a nudez das paredes do convento e a própria roupa das religiosas que lá viviam: retas, sem marcar formas, a preferência por cores suaves e neutras.
  Sua convivência íntima com os militares, na juventude, levaram-na a interessar-se, provavelmente, pelos arrogantes e soberbos oficiais alemães, que despertaram sua paixão pelos uniformes, a qual se refletiu também nas suas criações: bonés copiados dos marinheiros, o uso de malhas, pelicas, casacos de couro. Fez um verdadeiro desvio do masculino para reinventar o feminino.  Na época da guerra, em vez de fechar seu ateliê, Chanel levou-o para outra cidade, Deauville, e depois Biarritz. Com a escassez de tecidos, pelo confisco, comprou estoques do jérsei destinado às roupas íntimas dos soldados e com ele fez roupas para a as mulheres. Um sucesso.
      Em 1944, correu perigo, quando, aos 60 anos, após a libertação de Paris e expulsão dos alemães, foi interrogada pela Resistência francesa sobre suas relações com os alemães, especialmente o barão  von Dincklage. Mas foi salva pela intervenção de Winston Churchill, que gostava muito dela e interveio em seu favor. Assim, viu-se livre e pôde ir morar na Suíça, onde ficou por 10 anos.
     Em 1954, retornou, reabriu sua“maison”, instalou-se no Ritz e reatou sua amizade com os irmãos Wertheimer, seus antigos patrocinadores. A princípio, suas criações não foram bem recebidas, dizem que por influência d o ciumento Christian Dior. Mas, algum tempo depois, inventou um ‘tailleur” de  tweed, cujo casaco de quatro bolsos era decorado com botões-joias e completado por uma blusa  do mesmo tecido de seda do forro do casaco.  Sucesso total.
    Já bastante idosa, atormentada, era tratada por todos como um ídolo, mas conservava-se distante, seca, exigente, de péssimo humor. E continuou assim até o final.
    Chanel foi a elegância do mundo. De 1913, quando seus primeiros vestidos foram lançados, até sua morte, aos 88 anos, em 1971, ela reinou absoluta. E ainda hoje continua escolhendo nossas roupas e nossos perfumes, visitando os sonhos das mulheres que apreciam a moda.





terça-feira, 6 de dezembro de 2011

MACAQUICES E OUTRAS COISAS

      Olhando  esta gravura que vi no Facebook, que  satiriza aquela famosa  linha de evolução do homem,  lembrei do querido Mário Quintana e de uma colocação sua no livro “Na Volta da Esquina”, na qual ele dizia que, ao ver um macaco não se sentia impressionado pelo fato DE que ele tenha sido o nosso ancestral, mas sim com o pressentimento de que ele viria a ser o nosso futuro.
      Associando  a isso a crônica de Roberto Pompeu de Toledo (postada  abaixo, sob o nome de “Mundo que vai, mundo que vem”),  em que ele comenta o provável  desaparecimento da escrita cursiva (já que hoje todos preferem usar o computador) e as possíveis consequências de tal  fato,  penso que o nosso futuro possa vir, sim, a ser o macaco. Mas um macaco da era moderna, cheio de luzinhas piscantes, botões e teclas para os mais diversos usos imagináveis!
       Por que não? O homem de hoje  adora copiar os modelos do momento, as celebridades, o que vê na televisão, no computador. E se for estrangeiro, americano principalmente, melhor ainda. E quando mais bizarro, violento, esquisito, então é um sucesso!  Copia-se, copia-se, copia-se. Originalidade pra quê? A  mídia nos diz tudo que devemos fazer,  pensar, dizer, ter.  Não estão aí as ditaduras da magreza, das  musiquinhas cretinas, das roupas malucas, das atitudes pré-determinadas pelo que os famosos fazem? A TV mostra e as redes sociais disseminam.  Pensar pra quê? Para que vamos cansar nossos neurônios?
      Quanto à  escrita, esta torna-se cada vez pior. Esse “internetês”  que a maioria usa nas suas comunicações virtuais já virou um arremedo de Português mesmo! Ninguém quer saber mais do correto, do por extenso. É preciso ser rápido, o tempo urge, nesta corrida desenfreada não sei  para onde e nem para quê!  Escrever à mão, em letra cursiva, pra que esta perda de tempo? E quem quer perder o tempo escrevendo algo caprichado, usando a velha caneta?   Puristas como Bilac e Machado devem estar tontos de tanto dar voltinhas em seus caixões, se puderem ver o que se escreve por aí!
      Por isso, acho que o Quintana estava certo. Nossa linha de evolução vai descer  em direção ao bom macaco, que só queria caçar, comer, brigar com os vizinhos e arrastar sua macaca para a caverna ( será que o macaco do futuro vai querer caverna?) Agora, como será essa caverna, como ele andará e o que irá fazer, são outros quinhentos! Com o pouco uso do cérebro, que é a tendência cada vez maior, não podemos prever  onde  a ”m...” da gravura lá de cima  vai chegar!  Ainda bem que eu não vou estar aqui para ver!

domingo, 4 de dezembro de 2011

LIÇÕES DO MESTRE VERÍSSIMO









DEZ  COISAS  QUE  LEVEI  ANOS  PARA  APRENDER

1.Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa.

2.As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas dela com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com ela.

3.Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.

4. A força mais destrutiva do universo é a fofoca.

5. Não confunda nunca sua carreira com sua vida.

6.Jamais, sob qualquer circunstância, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite.

7.Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria “reuniões”.

8.Há uma linha muito tênue entre “hobby” e “doença  mental”.

9. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito.

10.Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca.Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.
                                                          
                        Luis  Fernando Veríssimo