segunda-feira, 14 de novembro de 2011

HOMENAGEM A UM L ÍDER

      " Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra. Se um torrão é arrastado para o mar, o continente fica diminuído, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio. A morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano.
      E, por isso, não perguntes por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti."
               
              (John Donne, no prefácio do livro "Por quem os Sinos dobram", de Ernest Hemingway.)

          José Francisco Gorski, o Chicão, partiu deixando atrás de si uma trajetória que poucos líderes políticos de Santiago tiveram.  Homem carismático, que sabia tratar a todos como amigos, fossem pobres ou ricos, conquistou uma legião de admiradores.  Destacou-se como incentivador do esporte  e, após, como político atuante, o que o levou a ser prefeito por duas legislaturas. Os projetos que criou,  suas ideias inovadoras, sua simplicidade no trato para com todos, garantiram a ele a credibilidade para ser eleito deputado estadual  com um excelente percentual de votos. E já estava demonstrando a que viera, ao lutar pelos interesses da nossa região nesse pouco tempo de mandato na Câmara Estadual.
       Podia se considerar  um homem realizado: era popular, famoso, admirado. Estava subindo cada vez mais no cenário político e não tenho dúvidas de que iria longe. Mas a morte, esta  “indesejada das gentes”, estava à sua espreita aqui bem pertinho de sua gente, escondida  na margem da 287 e o colheu de súbito, quando ninguém  sequer poderia imaginar.
         E o que nos resta agora que o inexorável aconteceu?  Apenas torcer para que os partidos políticos, especialmente aquele  a que pertencia, mantenham  e  desenvolvam cada vez mais os projetos que deixou atrás de si, que tenham suas idéias e seu exemplo de líder político como  uma meta  a ser atingida.
          É certo que ele não era perfeito, que tinha  seus senões, como qualquer ser humano os tem.  É certo que havia os que não o apreciavam, como acontece com todo político, devido às picuinhas político-partidárias. É certo que muitas “lágrimas de crocodilo” rolaram em seu velório. Mas este não é o momento para apontar dedos, nem  trazer  à tona mágoas adormecidas. O  instante é de reflexão sobre a  brevidade da vida, sobre o porquê  de estarmos  aqui  e, sobretudo, de homenagear o líder que partiu.
         Santiago está de luto, nós todos estamos enlutados. Só nos resta desejar que Deus o acolha em seus braços e lhe dê a recompensa pelo bem que realizou, esquecendo os possíveis erros cometidos.
      Vai em  paz, Chicão. Que Deus, em Sua infinita bondade, conceda paz a tua alma e a         lembrança perene dos que te admiram.







domingo, 13 de novembro de 2011

A DISCRETÍSSIMA LAURENE JOBS

    Ela  viveu  21  anos  ao lado  de Steve  Jobs. Exatamente desde o dia em que se conheceram, em 1990, até o último dia de vida dele: 05 de outubro  de 2011. Mas poucas pessoas sabiam de sua intimidade, pois o casal era cioso de sua privacidade e extremamente discreto sobre sua vida particular.
        
    Num certo dia de 1990, Steve Jobs  foi dar uma palestra  na Universidade de Stanford, na Califórnia, e encontrou  Laurene Powell. Terminada a palestra, deveria ir a uma reunião com executivos, mas, interessado na bela loira da plateia, fez a si mesmo uma pergunta:”Se  aquele fosse o meu último dia na Terra, eu gostaria de passá-lo em uma reunião ou com esta mulher?”  Decidido, foi até ela e convidou-a para jantar. A partir daí não se separaram mais.
     Casaram-se no ano seguinte e  passaram a viver juntos  uma vida natureba e sem ostentação, no meio de uma reserva natural da Califórnia, em Palo Alto, epicentro tecnológico dos Estados Unidos, numa casa de ambientes simples, sem badulaques, apenas o essencial. Tiveram três filhos: Reed  (20 anos), Erin (16) e Eve (13). Adeptos da dieta vegan , não comiam carne, leite ou ovos. Uma horta com vegetais, frutos e ervas, cuidada por toda a família,  garantia a alimentação da família.
     Diferente das esposas de celebridades e das chamadas “casadas com a tecnologia”, Laurene nunca desfilou para a mídia e preservou também os filhos. Formada em Economia, iniciou carreira no mercado financeiro trabalhando em bancos.  Depois de casada, iniciou uma empresa de alimentos orgânicos, Terravera.
      Anos depois, conhecendo a situação das comunidades negras e latinas de baixa renda que vivem nos bairros periféricos de Palo Alto, analisou a situação e verificou que cerca de 50% das desss comunidades abandonavam a escola logo após o colegial. Então, criou uma organização, a College Track, um programa extracurricular que dá suporte para que os alunos continuem os estudos até a universidade. A organização se expandiu para outras cidades.
         Hoje, Laurene faz parte do conselho de sete organizações dedicadas à educação, além de se envolver com a filantropia. Incansável, é fundadora também do Emerson Collective, organização que investe em trabalho de empreendedores que criam soluções inovadoras para reformas sociais, sobretudo nas escolas públicas dos Estados Unidos. No ano passado, foi escolhida por Obama para fazer parte do Conselho para Soluções Comunitárias da Casa Branca, que ajuda a apontar formas eficientes de turbinar o ensino e a criação de empregos no país.      
        Além de doar fundos para a campanha de Hilary Cinton, em 2005, Laurene  coliderou a arrecadação de 20 milhões de dólares para a organização Global Fund for Women, que investe em organizações locais nas áreas de saúde e educação pelo mundo. Hoje, ela também apoia  financeiramente a Eastern Congo Iniciative, dedicada exclusivamente a ajudar a Repúblia Democrática do Congo.
     Laurene é capaz de se envolver em tudo isso e, ao mesmo tempo, criar três filhos, além de ter cuidado de um marido devastado por um dos tipos mais cruéis e raros de câncer. Após a morte dele, ela o sepultou de maneira reservada, da forma como eles sempre viveram. 

domingo, 6 de novembro de 2011

OS QUATROS MAIORES

 VOCÊ  PODE DISCORDAR, MAS EU CONSIDERO UMA DAS CRÔNICAS MAIS LÚCIDAS  QUE  LI  NOS  ÚLTIMOS TEMPOS.
  AH, SOU  UMA  PESSOA  APARTIDÁRIA.
    
    Não tem para ninguém. Os quatro maiores presidentes da história do Brasil são Getúlio, JK, Jango e Lula. Avançamos de um nome, tratado, às vezes, pelo sobrenome, para uma sigla e finalmente chegamos aos apelidos. Sintomas de uma evolução da democracia. Deixamos para trás os sobrenomes pomposos da elite quatrocentona paulista.
     O povo saiu da planície para o Planalto. Lula está com câncer.
    Alguns abutres vibram sem muita discrição. Imaginam-no fora do jogo. Nunca poderão, no entanto, apagar a sua figura imensa da biografia do Brasil Getúlio e Lula são os maiores personagens políticos de todos os tempos em nossa história. Se Cabral descobriu o Brasil, se D. Pedro I o tornou independente, se D. Pedro II deu-lhe algum ar de civilização, se a República caiu no colo de Deodoro da Fonseca, Getúlio reinventou o Brasil. Arrancou-o do atraso mais profundo e imobilizador. Empurrou-o para a sua industrialização.
    Não conseguiu, contudo, nem na ditadura nem na democracia, arrumá-lo totalmente. As resistências foram poderosas. Enfrentou quatro inimigos: os "carcomidos" paulistas, derrotados de 1930, os comunistas, os integralistas e alguns dos seus aliados de primeira hora. 
    JK entrou no jogo como um campeão da modernidade, do dinamismo e da renovação tecnológica. Deu ao Brasil uma nova capital e uma nova maneira de se ver. Melhorou a nossa autoestima e fez-nos crer que o futuro havia chegado. Sempre tivemos a impressão de viver no passado. Com JK, passamos a viver no futuro. Jango tentou completar Getúlio e ir além de JK. Quis criar um presente satisfatório para os brasileiros. As reformas de base eram necessidades vitais. Como disse Darci Ribeiro, Jango caiu pelos seus acertos, não pelos seus erros. E perigoso demais estar certo antes do tempo. Jango pagou caro.
     Passaram-se 40 anos até um homem do povo ser eleito para retomar as iniciativas de Getúlio, JK e Jango. Conta-se com a ciência para curar Lula e mantê-lo firme e forte para os próximos combates. Aos que já o estão secando, salivando pelos cantos da boca, é preciso lembrar que hoje Dilma é o segundo chefe de Estado mais popular da América Latina. O Brasil só melhora realmente quando um presidente consegue distribuir renda, desconcentrar a riqueza e gerar inclusão. Um assessor de Tancredo Neves escreveu para ele discursar: "Esforçar-nos-emos para criar uma nação mais inclusiva". Tancredo traduziu: "Lutaremos por um pais em que ninguém fique de fora". 
      Jango tentou. JK nem tanto. Getúlio e Lula conseguiram. Não tudo. Mas um grande salto. Atenção aos corvos: isto não é um obituário. É um elogio em vida. Os grandes também adoecem. Felizmente a medicina evoluiu.
      Dentro de 500 anos, os historiadores ainda falarão de Getúlio, o maior de todos, de JK, o modernista, de Jango, o injustiçado, e de Lula, o metalúrgico desqualificado como semianalfabeto que, com seu apelido povão, fez mais e melhor do que a maioria dos doutores tratados por nome e sobrenome sonoros. 
       Ah, antes que alguém tenha essa ideia, não sou petista, nem pedetista.

   (Juremir Machado da Silva, Correio do Povo, 1º/11/2011)