terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O SABOR DA VINGANÇA

    Divirta-se  com um engraçado texto sobre as atitudes de vingança de mulheres desprezadas por  seus  homens!                 

       Quem nunca planejou uma vingança que atire a primeira pedra. -Se essa é a premissa, as pedras poderão descansar em paz. Confesse: ainda que você jamais tenha partido para o ataque propriamente dito, pelo menos uma vez na vida já rogou uma praga para o cara que a esnobou, não é mesmo?
      Felizmente, a maior parte das vinganças não é cruel e dramática. Elas são mais simples e mais rápidas. Até porque, hoje em dia, com tanta coisa para fazer, não há tempo a perder nem na hora de ir à desforra. Melhor do que guardar os rancores na geladeira ou esperar para comer o prato frio é seguir os impulsos latentes de vingança imediata. Agir enquanto as lágrimas ainda estão quentes e rolando face abaixo. "Vai que mais tarde a vontade de me vingar desapareça...", "Ele precisa sentir o poder da minha raiva na hora", "Deixar pra depois não tem a menor graça", "Ele merecia uma lição enquanto ainda lembrava claramente o que tinha feito comigo" - argumentavam algumas mulheres com as quais  autor conversou enquanto preparava este artigo.
       Se falta autocontrole para segurar os impulsos vingativos, parece que criatividade tem de sobra. Que o diga um coitado que acabou na seção de anúncios fúnebres do jornal. A história é verdadeira. A mulher de um conhecido fotógrafo de Porto Alegre ligou para todos os amigos do marido avisando que ele tinha acabado de morrer. Ataque cardíaco fulminante. Ela inclusive informou a capela e o cemitério. Colocou anúncio no rádio e nos jornais da cidade. Os amigos ainda estavam lamentando a morte prematura quando receberam uma nova ligação. Era o falecido. Não chamava do além, mas do próprio escritório explicando que era trote da ex-mulher. indignada com a separação recente. "Pra mim, ele morreu", justificaria depois a suposta "viúva".
     Outra história boa é de uma mulher que, ao descobrir a traição do marido, não contou nada, pegou o carro dele e passou várias vezes numa lombada eletrônica a 120 quilômetros por hora. Só sossegou quando teve certeza de que ele perderia a carteira. Fiquei sabendo também da tia de uma amiga que quebrou todos os  vidros do carro do ex com uma marreta. E da irmã de uma conhecida que, ao levar um fora do namorado, passou dois dias pedindo táxis e pizzas para entregar no endereço dele - sem pagamento. 
     E vodu, então? O que tem de bonequinho no mercado pra gente colocar o nome do namorado e encher de alfinete... nossa.
         Exagero? Talvez, mas de nada adianta dizer para uma mulher em surto vingativo que ela está ultrapassando a barreira do bom senso. Uma música inspirou o nome de um livro recente da autora gaúcha Claudia Tajes, Por Isso Eu Sou Vingativa (L&PM). "Não me baseei em fatos reais", mas ouvi histórias de relacionamentos complicados aqui e ali e fiquei pensando no que aconteceria se alguém fosse a campo em busca de desforra." Claudia, diferentemente da protagonista do livro, não se considera nem um pouco vingativa, mas confessa que, de todas as artimanhas que criou, a única que talvez colocasse em prática seria esta: depois de um Boa-noite Cinderela, a personagem principal veste uma de suas vítimas com uma camiseta do time de futebol que ele odeia, tira algumas fotos e espalha pela internet. "Vingança e futebol, misturados, são uma combinação terrível", observa, rindo, a escritora.
       Diferentemente dos homens, as mulheres crescem querendo ser eleitas amorosamente, como a Cinderela no baile do príncipe. Isso quer dizer que deixar de nos amar ou não corresponder aos nossos desejos e anseios é falta grave. A artista multimídia e escritora francesa Sophie Calle assim considerou o fora do namorado, o também escritor Grégoire Bouillier, e transformou a mágoa em mídia. Grégoire rompeu com ela por e-mail, em um texto que trazia clichês do  tipo "não é culpa sua, sou eu que estou confuso..." e terminava com "cuide de você". Indignada, a artista entregou a carta a 107 mulheres de diversas profissões, que dissecaram o conteúdo e até o caráter de Grégoire. O resultado foi uma mostra de arte e um livro com o título Cuide de Você (Prenez Soin de Vaus), que viajaram o mundo ,expondo Grégoire e suas fragilidades.
   Só fico me perguntando se não seria melhor dar a volta por cima, sair com as amigas, arrumar um novo namorado e, daí sim, fazer questão de dizer quanto o novo amor é mais incrível que o velho.
     Afinal, como escreveu o filósofo romano Sêneca, há mais de 2 mil anos, "a vingança é o reconhecimento da ofensa". Vingar-se significa demonstrar que a atitude do outro feriu. E também quer dizer valorizar o alvo da vingança em questão. "Vinganças em geral são destinadas a alguém que amamos ou admiramos, pois, se é necessário fazer menos dessa pessoa, é porque em algum aspecto ela foi mais para nós", explica Diana Corso. Realmente: você ouviu falar de alguma mulher que atazanou um homem que não significava nada para ela?
   Uma coisa, no entanto, é uma vingancinha aqui, outra acolá, algo que os terapeutas até consideram normal para exorcizar nossa desvalia e mostrar que, de vez em quando, somos poderosas. Outra são as mulheres que se alimentam de rancor e vivem criando situações nas quais se colocam no papel de vítima acreditando que sempre serão preteridas. Quanto menor a autoestima, maior o instinto de vingança.
     Mas será que também é maior o arrependimento do dia seguinte? Diana Corso explica que, para as viciadas em vingança, derrotar o inimigo traz um prazer instantâneo e nenhum remorso. Só renova o circuito de ódio. Para a maior parte da população feminina, que só pensa em se vingar de vez em quando, um arrependimentozinho até que bate. Conheço gente que depois foi pedir desculpas, dizer que agiu sem pensar. Algumas tiveram perdão. Outras nem se ajoelhando conseguiram clemência. Por isso, fica aqui meu conselho: reflita bastante antes. Respire fundo, tome um banho frio. Agora, se você tiver certeza de que ele merece, e se não for nada demais, por que não?
           (Condensado de Paula Taitelbaum, revista Lola, janeiro de 2012)


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

COMO ELES FICAM CADA VEZ MAIS RICOS

    Celebridades do mundo do cinema, da música, da moda e até da medicina mostram seus outros talentos para empregarem seu dinheiro e ficarem ainda mais ricos.

SELVA RELAX
No comecinho dos anos 80, ainda exausto pelas desventuras e desastres no set de filmagem de Apocalipse Now, nas Filipinas, Francis Ford Coppola foi descansar em Belize. Lá, apaixonou-se pelo Blancaneaux Lodge, escondido no meio das Montanhas Maias, completamente abandonado pelo dono. Resolveu comprar a propriedade. Imaginou que pudesse ser uma futura locação, ou um bom esconderijo para escrever seus roteiros. De fato, durante mais de uma década o lugar foi o refúgio da família Coppola. Em 1993, o cineasta resolveu profissionalizar o lugar:transformou o Blancaneaux em um eco-resort. Desde a inauguração, recebe ecoilustres hóspedes, como Leonardo DiCaprio e Cameron Diaz. No meio de cachoeiras, piscinas e mata, o resort tem 20 suítes rústicas, porém luxuosíssimas.

CARMA  BUCÓLICO
A pouco mais de uma hora de Manhattan, na nobre região de Westchester, endereço de milionários do Estado de Nova York, o astro-galã Richard Gere e sua mulher, Carey Lowell, mantêm o bucólico Bedford Post Inn. O hotel, com cara de cenário de filme hollywoodiano, tem oito suítes de luxo e dois restaurantes. Para jantar no mais casual deles, The Barn, é preciso fazer urna reserva com dois meses de antecedência. Para o mais sofisticado, The Farmhouse, a espera é de um mês. Adepto de práticas de meditação, Gere fez questão de construir dentro das dependências o Voga Loft, estúdio que oferece aulas diárias de ioga, além de eventos e workshops zens. A senhora Gere e a decoradora Tiffany Vassilakis são as responsáveis pela decoração das suítes, muitas com vistas de tirar o fôlego.

COMPLEXO CABEÇA
Fundador do Festival de Sundance, em Utah, nos Estados Unidos, o ator Robert Redford também é o dono desde 1969 do Sundance Resort, um dos locais que abrigam o maior festival de cinema independente do mundo. Localizado a 55 minutos do aeroporto da capital, Salt Lake City, e a 45 minutos de Park City, o complexo hoteleiro é também um polo ecológico, de lazer e esportivo ao pé das montanhas, premiado diversas vezes por publicações especializadas em turismo. Tem um ar despojado, rústico, mas tudo com muito conforto. É um destino perfeito para quem curte natureza e para os adeptos de esqui. Além do festival, que acontece entre os dias 19 e 29 deste mês, o lugar abriga eventos literários, teatrais e espaços para exposições de arte itinerantes.

LEGÍTIMO  IRLANDÊS
Uma das parcerias mais famosas do rock, Bono Vox e The Edge, da banda irlandesa U2, também estão juntos em negócios nem tão pop. Os dois são donos do The Clarence Hotel, uma das construções históricas de Dublin, de 1852. O hotel, com 49 quartos, foi comprado em 1992 pela dupla, que obteve autorização do governo para reformá-lo com um projeto de Norman Foster, que desenhou o novo Estádio de Wembley e o 30 St. Mary Axe, em Londres. A ideia é triplicar o número de quartos e abrir um spa no hotel, que fica às margens do Rio Liffey e tem uma linha de decoração clássica. Em uma das principais suítes, uma Penthouse, os hóspedes têm uma vista incrível da cidade. Para o drinque pós-city tour, o hotel abriga o Octagon Bar, muito frequentado pelos próprios donos.

CLASSE  AAA
A italiana Donatella Versace não gosta de coisas discretas. Depois de inaugurar o Palazzo Versace, na Austrália, a empresária-estilista segue o mesmo padrão de ostentação no segundo Palazzo, que será aberto neste ano em Dubai, um dos sete Emirados Árabes Unidos. O empreendimento é dividido em um setor hoteleiro, com 213 suítes ultraluxuosas, e outro residencial, com 169 apartamentos, a serem vendidos a milionários viajantes. O hotel é todo decorado com móveis e objetos da grife e conta com um restaurante italiano cinco-estrelas. Tem também piscinas, bares, ginásio de esportes e, como não pode faltar, um spa equipado com aparelhos e produtos de primeira linha. Para atrair clientes AAA, o Palazzo tem uma marina particular, para que os hóspedes façam uma entrada triunfal, chegando com seus gigantescos iates.

MÍNIMO  ARROJADO
O estilista italiano Giorgio Armani e seus empreendimentos são praticamente patrimônios de Milão: estão por toda parte, são até pontos turísticos. Além das inúmeras lojas, que vão de roupas de alta costura a itens de decoração para casa e iates, Armani abriu, no fim de 2011, o Armani Hotel Milano, no coração da capital mundial da moda. O empreendimento tem 95 quartos - os mais espaçosos da cidade -, além de um spa, com 1200 metros quadrados, no topo do prédio. Como era de esperar, a decoração minimalista fica toda por conta do estilista, com objetos arrojados de sua própria marca distribuídos em ambientes de cores discretas. É o segundo hotel de Armani. Em 2010, ele fez sua primeira investida no negócio do turismo em seis andares da Torre Burj Khalifa, em Dubai a mais alta do mundo.


ESTÉTICA  E  ESQUI
Um caso à parte no negócio e no oficio é o de Ivo Pitanguy, O disputadíssimo cirurgião plástico foi aos dois extremos: no calor de 40 graus do Rio de Janeiro, mantém a sede de sua renomada clínica; no frio dos Alpes Suíços, arrumou um cantinho no Hotel Guarda Golf para montar sua Clínica Ivo Pitanguy Spa, Localizada na estação de esqui de Crans-Montana, o espaço é um centro todo chique de tratamentos estéticos ultramodernos, Possui quatro salas, uma piscina aquecida e o tradicional                                                                                                     , o banho turco, um tipo de relaxamento com esfoliação, O complexo hoteleiro foi aberto em dezembro de 2009 e tem 19 quartos e seis suítes, cada cômodo decorado com uma obra de arte, Para quem curte atividades ao ar livre e pratica golfe de verdade, o lugar é um paraíso,

                                                                                                 (Revista Lola, janeiro  de 2012)

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

FÉRIAS!! FÉRIAS??

Divirta-se com mais uma crônica de Danuza Leão, desta vez sobre a dona de casa  na praia.

      Este ano decidi alugar uma casa na praia por 15 dias para não fazer nada a não ser tomar sol e mergulhar no mar azul, comendo só peixe e camarão. Depois de pesquisar os classificados, encontrei uma casinha de pescador, modesta e caríssima, mas um sonho: seria uma temporada sem jornais nem televisão, que maravilha! Convidei alguns amigos queridos e, depois de três horas de viagem, com um trânsito de cão, chegamos, todos ansiosos para começar as atividades tomando uma caipirinha - menos eu, claro, que tive que organizar a casa, a geladeira etc.
     No dia seguinte, enquanto a turma estava na praia, fui providenciar o almoço. Como tinha ouvido falar que na maioria das praias peixe é coisa rara (e, quando aparece, é pelo dobro do preço das cidades grandes), por precaução levei frango, carne e legumes - em lata. Ao tirar o frango do freezer, me arrepiei, pois nunca tinha tocado num frango cru. É horrível. Como uma desgraça nunca vem sozinha, senti, no tornozelo, a presença de um mosquito. Eles surgem quando o vento para, o que significa também a chegada do calor. Férias, como é bom
      Lá pelas 4, chegou a turma contando as aventuras, abrindo a geladeira e perguntando: "E aí, vamos beliscar o quê?" - e esse é um dos mais trágicos capítulos da vida doméstica. As amigas dizendo, da boca para fora: "Quer uma ajuda?", e eu respondendo: "Não, não precisa". Ah, que saudade da solidão da minha casa, onde encomendava por telefone uma pizza e uma Coca.
       Tira-gostos dão mais trabalho do que um banquete de casamento, e é nessa hora que se vê o que é a humanidade. Não adianta oferecer queijos finíssimos, salaminho italiano, patê francês trufado, uma cestinha de biscoitos e faquinhas. O que todo mundo quer são canapês feitos na hora, com queijinho derretido e, se possível, com uma cereja em cima. Mas tudo bem, estamos de férias e firmemente decididos a sermos felizes.
Na primeira semana, os víveres acabaram, e foi feito um sorteio para saber quem iria fazer as compras na cidadezinha mais próxima; bem pertinho, só 40 quilômetros de distância. No próximo ano, pensei, contrato uma empregada por 5 mil reais para ter o direito de não a fazer nada, ou melhor: vou para um hotel, e sozinha.
     Com seis pessoas numa casa pequena, sem ar-condicionado, rolou muito stress, claro, e pela cabeça de cada uma delas passou, pelo menos uma vez, o pensamento: "Ah, como eu queria estar na minha casa".
       Chega, enfim, o dia de voltar. As despedidas são calorosas - nunca existiram pessoas tão felizes, e a estrada  rumo ao lar, ouvindo um CD de João Gilberto, é a própria imagem do paraíso. Que delícia, pensei, botar um sapato alto, ir trabalhar e de novo fazer parte do mundo.
       Voltei exausta e totalmente defasada; sem ler jornal, . o não entendi a crise do euro. Estava 3 quilos mais gorda e com a obrigação de achar que foi tudo maravilhoso. E isso depois de ter passado dias cozinhando e encarando uma pia cheia de louça. Uma casa na praia é ótima,  desde que sejamos hóspedes. Foi quando percebi que estava precisando, urgentemente, de férias! 

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

AGORA, ELA É O CARA!

                Quando Angela  Merkel  se  tornou  a  primeira   mulher  chanceler  da  Alemanha,  em  2005,   ninguém poderia  imaginar  que ela viria a se tornar a mulher mais poderosa do mundo.
       
       Sim, hoje ela discute de igual para igual com os donos do mundo: Barack  Obama, Nicolas Sarkozy  e David Cameron. E, o mais importante, ela impõe a sua vontade!
      Mas como, afinal, essa  discreta alemã, com cara de discreta dona de casa e cabelos de tigela chegou onde está?
      De origem simples, pai pastor e mãe professora, ela nasceu  em Hamburgo, mas foi criada num vilarejo da Alemanha Oriental, levando vida desconfortável, praticando o protestantismo de Lutero e destacando-se na escola, onde aprendeu a falar um excelente russo.
     Com a queda do muro de Berlim,  aderiu á União Democrática Cristã (CDU) e acabou sendo eleita deputada  no Bundesbag, o parlamento alemão, onde sua atuação veio a chamar a atenção do então chanceler Helmut Kohl, também da CDU, que a trouxe para sua equipe.  Ela o enternecia com o seu jeito de garotinha desajeitada. Fez dela uma ministra.
       A grande chance de Angela chegou em 1999, quando a CDU  foi manchada pelo caso das caixas pretas de contribuições financeiras ilegais. Kohl balançou e ela o ajudou a cair, publicando num jornal um artigo demolidor sobre o assunto. Angela “matou” o pai e, de quebra, levou alguns tiozinhos também. E assumiu a presidência da CDU.
      E alguns anos mais tarde, em 2005, a comum, mal vestida e oradora medíocre  venceu o brilhante chefe dos socialistas Gerhard Schöreder, tornando-se a chefe da Alemanha.
       Porém, como age esta senhora , qual é a sua arte política? Segundo os observadores, ela usa o tempo em seu jogo: é prudente, desconfiada, lenta, invisível, até que dá o golpe final para atingir os seus objetivos. Em suma, deixar-se subestimar é sua arma secreta: faz crer aos outros que são eles que tomam as decisões, enquanto, na realidade, é ela quem  as dita.  Com seu estilo  discreto (costumes sóbrios, rosto aberto e simples, vestidos e calças simples, meios sorrisos), ela exercita a paciência: hesita, informa-se, pensa, confia mais nas mulheres do que nos homens. Tem sangue-frio, nervos de aço, suas reações são frias. No fundo dessa mulher existe fero.
        Ela mesma disse a um confidente: “Eu não sou vaidosa. Mas sei utilizar a vaidade dos homens.” Uma prova disso é sua atitude para com Sarkozy. Segundo Gilles Lapouge,  quando tornou-se presidente da França, o “pequeno personagem de desenho animado, agitado, enérgico, volúvel, vulgar, divertido, emotivo, que tem uma necessidade visceral de tocar o corpo dos seus interlocutores”  fez de tudo para fascinar Angela, chegando a ser cômico e um pouco triste: jogava-se no pescoço dela, beijava-a, dirigia-lhe piscadelas. 
       Os mais perspicazes viam que essas exuberâncias  eram insuportáveis para Angela. Outra mulher menos controlada teria colocado o homenzinho em seu devido lugar, mas ela permaneceu impassível. Com o tempo, Angela relaxou e, quando Sarkozy começa com as suas, ela responde com um sorriso indulgente, daqueles que se dá a uma criança agitada.  E Sarkozy fica contente, mas não aprende nada. Tanto que tentou se virar como um doido para ditar sua conduta a Angela na crise que sacode a zona do euro. Mas ela apenas sorriu seu estranho sorriso e fez o que lhe deu na cabeça. Quer dizer, ela decide e o francês vai atrás!
       Angela é pouco ideológica, pragmática, sendo capaz de mudar de posição se a lógica pede. Mas não transige em seus princípios. Tanto que, há alguns anos, escandalizou os políticos católicos que fazem parte da CDU: deu uma bronca no papa Bento XVI, quando ele reabilitou um político negacionista (esses que negam a existência das câmaras de gás na Alemanha nazista)!
       Mas, apesar de sua dureza, Angela Mekel não é uma dama de ferro como foi Margareth  thatcher, que era de uma crueldade absoluta. Não, Angela  só bate nos grandes, poderosos, vaidosos, nunca nos fracos.
      Na vida pessoal é discreta como na política. Nos finais de semana, vai com seu segundo marido ( o primeiro foi ainda muito jovem, com um físico,  durou pouco) para sua casa de campo na antiga Alemanha Oriental. Nas férias, vai para Ischia, na Itália ou para as montanhas. Não tem filhos.
      Agora  , ela está enfrentando uma fase ruim com os problemas do euro.  Alguns machões da política alemã a apelidaram de “Mutti”, que quer dizer mamãezinha, tentando enfraquecê-la. Mas é difícil, há dez anos ela desfaz todas as armações deles. Como diz Lapouge, “...por que não Mutti? Afinal, passar  em 20 anos do estado de mocinha e de garota que toma chá de cadeira nos bailes ao estado de Mutti não é um destino medíocre.”
                                                 (Revista Lola,  janeiro de 2012)