segunda-feira, 1 de abril de 2013

QUEM SALVA O HOMEM?


O psicólogo Marcos Nascirnento diz que a famíília se esqueceu de olhar para os meninos. PATRÍCIA ZAiDAN

   No Encontro Global de Parcerias pelo Fim da Violência Doméstica, que a ONG Vital Voices e o Instituto Avon realizaram em Brasília, o psicólogo Marcos Nascimento, pesquisador de sexualidade e direitos humanos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, observou que o homem cresce se sentindo só e sem lugar para rever seus problemas.

Quando decidiu trabalhar com a ala masculina?
Antes da psicologia, fiz engenharia com quatro mulheres e 25 homens. As brincadeiras, cheias de sacanagem, davam o tom de como as coisas funcionavam: um queria provar que era melhor, o outro desqualificava a masculinidade do colega. No futebol, via beijo, abraço, choro e fúria. Fui me interessando pelo comportamento do homem. Ele não fala da sua sexualidade, do medo do fracasso, de filhos. Especialistas em gênero também não o veem; estudam o feminino, o direito e o papel da mulher.

Por que usa o futebol nos seus grupos?
É um campo de emoções como poucos. Numa ONG, após o jogo, refletíamos com os jovens. Eles acabavam sentindo a capacidade de viver a agressão e a amorosidade. Discutiam o sentido da violência. Em casa, não ensinam ao garoto que não se deve ser rude com mulheres. Ele nem nota que foi autoritário se rouba um beijo e força a menina a "ficar".

A família tem dificuldade de ensinar?
É cultural. Enquanto o menino vê TV, a menina ajuda na casa. Fica a ideia de que ela deve servi-Io. Outra mensagem que ela leva para a vida adulta: o ciúme e o controle por parte do homem - duas atitudes que geram violência - significam cuidado e proteção. Ao educar dessa forma, a família naturaliza o perigo. Para alguns homens, não há como resolver uma questão sem gritar ou agredir. Ele justifica: "Meu pai fazia assim, meu avô e o meu sogro também".

O menosprezo, o achincalhe, o xingamento são tidos como agressão?
 O homem acha que só o que deixa roxo é ataque. A pressão psicológica é até mais nociva. Só percebe quando é sensibilizado por alguém que mostra que, com as brigas, os filhos se prejudicam, todos perdem.

O que leva um homem a grupos como esses?
Desejo de mudar, amadurecer, aprimorar relações afetivas. Ou vai por pressão da mulher. Há ganhos nos dois casos - ele não tinha com quem dividir o que sente e aprender. Uma vez, um rapaz contou que a noiva o traíra. Os outros perguntaram se iria atrás do cara, se daria uns tapas na moça. Ele disse que fez melhor: rompeu por quebra de confiança. E que resolver conflitos com estupidez dava em mais problemas. Os outros foram para casa pensando.

               (Revista Claudia ,  fevereiro  de 2013)

  Considero muito oportuna esta entrevista de Patrícia Zaidan com o psicólogo  Marcos Nascimento. Fala-se a todo momento na necessidade de atendimento e proteção as mulheres vítimas de violência por parte de seus companheiros. É necessário, é ótimo? Mas quem se preocupa com os homens que têm esse comportamento? Eles certamente não nasceram assim! Em algum momento de suas vidas algo falhou em sua educação e eles adotaram tal comportamento. Está na hora de eles também receberem um atendimento psicológico que os torne capazes de ter uma vida normal. Não podem se tornar párias dentro da sociedade, ser proibidos de ter mulher, família, filhos. Somente cadeia não vai torná-los melhores! Necessitam ter a oportunidade de uma nova chance.