quinta-feira, 14 de maio de 2015

RAZÕES PARA CASAR

       Divertida crônica de Danuza Leão sobre motivos para uma casamento.
     

     Existem razões fortes para que uma mulher se case. Pela ordem: uma paixão louca, interesse, considerar que uma mulher sozinha não é nada, a festa.
     Se o caso é de paixão, não há nada a dizer. A não ser que, com o tempo, se aprende que toda paixão passa.
    O segundo motivo, a ser encarado com o devido respeito, é arrumar um marido rico. Antes de manifestar qualquer sinal de reprovação, vamos falar a verdade: um homem rico não é necessariamente feio, grosseiro, mal-educado, insensível, muito menos um gângster. Tem uns até bem simpáticos, convenhamos. E, como todos sabemos, a vida é dura. Essas ressalvas só não valem se você achar que mulher deve ser absolutamente independente e dividir não só as contas do restaurante como também as do condomínio, da luz, do gás e da internet. Em geral, essas desprezam homens ricos que mandam flores, chocolates e até joias nas datas importantes - o que, aliás, é muito louvável. Mas será que não dá para ser um pouquinho menos radical? E, se no futuro ele for envolvido num escândalo daqueles, com fotos no jornal e tudo, esse já é outro assunto.
    Há também as que não conseguem ficar sozinhas, para não ter que entrar em um restaurante ou em uma festa desacompanhadas. Para elas, esse é o sinal mais evidente do fracasso que é sua vida. Afinal, se não tiver um homem
ao lado, uma mulher vai achar graça de quê? Mesmo que ele seja desagradável, galinha, beba mal e, além de contar piadas, repita cons-tantemente as mesmas, é sempre bom ter um por perto. Ainda que ele entre em casa todas as noites, à mesma hora, dizendo exatamente a mesma frase, com exatamente a mesma entonação, não é uma maravilha saber que não se
está sozinha na vida? Por incrível que pareça, muitas acham que sim.
      E existem aquelas que se casam pela festa. Quanto tempo levam os preparativos para um casamento daqueles? Anos; e o vestido é o menor dos problemas. Começa com a escolha do cerimonialista, que ajuda a decidir tudo, menos o noivo (por enquanto). A escolha da igreja, do local da festa e das dezenas de profissionais envolvidos: fotógrafo, decorador, florista, responsáveis pelos convites, bufê, bolo, doces caramelados - cada um desses três últimos itens encomendados a um fornecedor diferente -, mais o vestido das madrinhas, as damas de honra e por aí vai. E as lembrancinhas para cada convidado, mais os doces embrulhados em tule com lacinho de fita para recordação de um momento tão importante.
       O melhor de tudo é o que ninguém vê: as brigas das famílias. Se os pais da noiva ou do noivo são separados, quais nomes devem vir impressos nos convites? O novo cônjuge pode se acomodar no altar ou é relegado a um banco da igreja, como qualquer mortal? Quem fica à esquerda e quem fica à di-
reita? Quem vai estar mais bem-vestida, a 1 atual ou a ex? E se a separação foi dolorosa e escandalosa, o pivô de todo aquele drama tem direito a estar no meio da família como se nada fosse? Quem paga as despesas de toda a parafernália: o pai da noiva ou é tudo dividido? Como e a que horas se combina tudo isso? E se as famílias não estiverem de acordo e acharem que a brincadeira, como  diria Joaquim Levy, está muito cara?      

         Mas o amor, o amor? Ah, é mesmo; e o amor?

                                      (Revista CLÁUDIA, maio 2015)