sábado, 15 de janeiro de 2011

O PROBLEMA DA EDUCAÇÃO

               No jornal “Expresso Ilustrado”  do dia 07 deste mês, dois colunistas se referiram, em suas crônicas, à falta de educação  das crianças e de algumas pessoas adultas, um tema  que é muito comentado nos dias atuais.
              O meu amigo Márcio Brasil, a quem admiro por sua inteligência e capacidade, falou sobre “Filhos mal-educados, pais incompetentes”, tocando num ponto que parece ser a tônica dos problemas familiares e das instituições educacionais de alguns anos para cá, uma vez que os pais abdicaram da sua obrigação maior em relação aos filhos, que é a de educá-los para viver numa sociedade, num mundo que não é somente deles.
                Creio que tal fato começou a acontecer no momento em que pais e mães viram-se na obrigação de saírem de casa para trabalhar, a fim de proverem melhor as necessidades da família. Então, os filhos passaram a ficar sob a responsabilidade de terceiros, os quais muitas vezes se omitiram de orientá-los quanto a suas atitudes. E, mais ainda, quando os pais retornavam para casa, estavam cansados  e só queriam descansar, negligenciando a oportunidade de conversar com os filhos, saber de como foi o seu dia, elogiando-os pelas boas atitudes e repreendendo-os quando fizeram algo errado. E, pior ainda, sendo permissivos muitas vezes, dando-lhes o presente que queriam ou deixando-os fazer o que quisessem, numa espécie de compensação pela falta da presença paterna ou materna no dia a dia, ou, o mais grave, por ser mais fácil e dar menos incômodo satisfazer logo o desejo dos filhos.
                 Além disso, há pais que acreditam que amar o filho é perdoar-lhes todos os erros, dar-lhes tudo o que querem. Claro que, numa criança muito pequena, uma birra ou manha pode ser até engraçadinha. O problema é deixá-las persistir nisso e não fazê-las ver que está errada. Elas são vivas e logo veem que  “se eu chorar e gritar mamãe e papai me dão o que eu quero”. E é por aí que a falta de limites começa a se instalar, a criança passa a dominar a família e, depois,vai para a escola e quer fazer lá a mesma coisa, causando todos os problemas que vemos comentar seguidamente na mídia.  O maior erro dos pais é deixarem a permissividade se instalar na sua relação com os filhos.
                Outra face deste problema está nos pais que desejam manter seus filhos afastados dos problemas e os protegem excessivamente, facilitando-lhes a vida. Empenhados em fazer o melhor pelos filhos, os pais suprimem-lhes a liberdade do isolamento, a espontaneidade, o direito de escolha (errar ou acertar), colocando-os em uma “redoma de vidro”, longe de tudo e de todos, intocáveis, superprotegidos, tornando-os sérios candidatos ao insucesso, já que lhes é negada a oportunidade de conviver com a frustração e o fracasso que os riscos, crises e conflitos de uma  vida diária normal proporcionam. Isto se torna um verdadeiro “tiro no pé” destes pais que fazem um minucioso planejamento do que pensam ser o melhor para o futuro dos filhos e tiram deles a espontaneidade da infância, o direito de serem crianças, em nome do desenvolvimento de habilidades que julgam serem necessárias para que seus filhos sejam vencedores. E enchem-nos de aulas de línguas estrangeiras, de dança, de música, de cursos disso e daquilo, sem lhes deixar espaço para serem o que realmente são: crianças.  É  uma  geração que  cresce sob  a  tutela  excessiva  dos  pais,  incapaz   de   suportar   frustrações  e  acostumada   a   se  achar   merecedora   de   todas  as  facilidades  que  puder  arrebanhar    em  nome  do    seu  sucesso    pessoal, segundo a opinião de estudiosos do assunto.
                Segundo os psicólogos,  se os jovens não aprendem na prática que podem superar erros e conviver com as frustrações e o fracasso, passam a viver na defensiva e tornam-se também maus líderes, porque não sabem lidar com riscos, crises e conflitos.
                 ...  “Os pais têm a falsa noção de que a felicidade dos filhos está vinculada ao êxito profissional, mas os estudos mostram que ela depende da percepção de um sentido para a vida,” afirma a pedagoga Telma Vinha, professora da Unicamp e coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Moral da Unesp de Rio Claro (SP).
                Assim, a criança deixa de ter uma vida real para se transformar no projeto arquitetado de um adulto.  Sempre sob o olhar atento de professores, babás e profissionais  preocupados em mostrar  serviço e manter o pequeno ocupado.  “É um verdadeiro modelo invasivo de cuidados que só vem a prolongar a dependência e resulta em jovens tensos e irritados”, afirma  Telma. Não há tolerância, nem espaço para erros. Os insucessos são interpretados pelos pais  como falhas no planejamento  e se apressam a buscar soluções, como se a derrota e as frustrações não fizessem parte da vida. Se a criança tira nota baixa, pressiona-se a escola. Se vai mal sistematicamente, forçam-se diagnósticos que os favoreçam de algum modo.
                Estudos realizados por pesquisadores entre os  cada vez  mais precoces universitários, mostram  que não sabem o que querem realmente, não conseguem relacionar-se com os outros ou, num outro extremo da questão, mostram-se líderes autoritários e extremamente competitivos, voluntariosos e imaturos. A  antropóloga Ana Lúcia Pastore Schritzmeyer, professora da Universidade de São Paulo,  diz-se preocupada em ver  jovens profissionais tomarem decisões  que envolvem realidades que eles só conhecem pelas telas.
                  Como prova disso, está o estudo realizado pela psicóloga Suzy Zveibil, de São Paulo, que, amparando-se numa pesquisa  sobre estagiários e trainees realizada com 100 gestores, em 2009, afirma: “São bem-informados e polivalentes , apresentam competências e diferenciais que nenhuma outra geração possuiu. Mas também são arrogantes e imediatistas. Receberam dos pais muito mais do que alguém precisa para uma formação saudável e querem que tudo aconteça  do modo  deles, inclusive os relacionamentos profissionais.”
                   Segundo ela,  esses jovens são deprimidos, solitários e emocionalmente analfabetos. Este é o alto preço que as novas gerações estão pagando por não vivenciarem na infância o erro, o arrependimento, a fantasia.  Se não tiverem a chance de superar pequenas rejeições desde cedo, de que modo nossos filhos aprenderão a lidar com as grandes rejeições da vida adulta, como perder o emprego ou ser trocado pelo parceiro por outro amor?”
                   Estudos como este vêm a mostrar uma das conseqüências do que acontece quando  os pais, num excesso de proteção, ou num afã desnecessário de colocar seus filhos sempre na dianteira dos outros, acabam privando-os de etapas importantes de sua infância e adolescência, tornando-os pessoas frágeis e inseguras emocionalmente ao se defrontarem com situações  difíceis.
                      Assim, vemos que educar os filhos é algo  realmente difícil, que requer preparo dos pais para tal missão. É tão complexo e importante, que deveria ser necessário um diploma de um curso preparatório para se ter filhos!

Nenhum comentário:

Postar um comentário