quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

PERDAS COM GANHOS

   Segundo a autora Tatiana Bonuma, derrotas, além de inevitáveis na vida de qualquer um, são degraus para o crescimento. Aprender a lidar com elas fortalece, traz autoconhecimento e encurta o caminho em direção às conquistas.

       Muitos empresários bem  sucedidos faliram, investiram em um ramo errado ou tiveram que desistir de uma ideia antes de chegar ao sucesso. Seja nos negócios, no amor, seja na carreira, o que vemos hoje é uma grande dificuldade em falar de fracassos. Há uma intolerância em relação aos perdedores. Ninguém quer ser loser nem admitir que não é bom o bastante.
         No mundo das celebridades, faz sucesso o pacote: conta corrente recheada, namorado dos sonhos, filhos lindos, corpão. No Facebook, pega bem postar fotos de viagens incríveis, falar de lugares badalados, mostrar trabalhos que mereçam reconhecimento. "Viciada" em consumir felicidade, a sociedade atual só quer saber de vitórias. Como se pudéssemos viver apenas de êxitos. Cair faz parte da vida - e é essencial para a evolução de cada um. "Socialmente, o fracasso tem sido condenado e rejeitado. Ele, porém, nos acompanha ao longo do tempo. Quem nunca tirou uma nota baixa, perdeu um jogo, foi rejeitado por um amigo ou por um paquera?", questiona a psicoterapeuta Teresa Avolio, de São Paulo. "Tais episódios, na infância ou na vida adulta,devem ser entendidos com naturalidade. Eles trazem sofrimento, mas são exercícios importantes para o desenvolvimento emocional. Quando bem conduzidos, resultam em crescimento", afirma a psicoterapeuta.
       A questão está justamente aí: por situações adversas, todos passam. O que faz a diferença é a forma de lidar com elas. Pessoas extremamente perfeccionistas, que não se perdoam por erros, ou aquelas com baixa autoconfiança tendem a se deixar abater mais por situações desfavoráveis, além de considerar fracasso o que é só um evento menos positivo. "Diante da derrota, há duas opções: sucumbir e paralisar ou aprender e evoluir", diz Miguel Vizioli, psicólogo e consultor de recursos humanos, de São Paulo.
           Tristeza faz crescer. Olhar no espelho e assumir que errou requer coragem, humildade, resiliência. Não existe, porém, melhor maneira de se conhecer do que ficar cara a cara com as próprias falhas. "Percebi que, a cada resposta negativa no trabalho, eu perdia a força e me considerava fracassada. Para meus colegas, um “não” era ouvido com tranquilidade. Para mim, era difícil superar", lembra Solange Nascimento, 42 anos, publicitária e gerente de vendas, de Belo Horizonte. A solução foi buscar uma terapia. "Descobri que estava investindo numa área que não era o meu forte. Precisei ganhar mais consciência de quem sou, do que quero e do que posso. Fui para o setor de criação e estou segura, menos suscetível às adversidades."
           O amadurecimento de Solange só foi possível porque ela admitiu suas falhas. Tristeza, decepção, frustração, desânimo, culpa e, às vezes, sentimento de inferioridade são normais nessa fase. "Se não nos deixamos passar por tudo isso, nos distanciamos do autoconhecimento, o único caminho para fazer escolhas mais saudáveis. Quem não enxerga que errou continuará a falhar nas mesmas situações e dificilmente progredirá", explica a psicoterapeuta Teresa Avolio.
     Para o psicólogo Antonio Carlos Amador Pereira, professor da PUC-SP, o autoconhecimento no momento pós-queda ajuda a entender os próprios limites. Só isso, porém, não leva a lugar algum. É o jogo de cintura que vai indicar novas possibilidades. "Considero essencial ter flexibilidade para navegar em outras direções quando os ventos mudam. Ficar obcecada por um único  rumo e persisirnele sem bom senso pode resultar em novo fracasso", alerta.
            O especialista em desenvolvimento de carreiras Renato Grinberg, de São Paulo, sabe o que isso significa. "Meu sonho era ser músico e investi pesado: estudei violão clássico, fiz parcerias com outros artistas e até turnês fora do Brasil. Mas me sentia derrotado, porque essa opção profissional não me trazia retomo financeiro nem reconhecimento social", conta. Renato então fez uma alteração corajosa no seu projeto. Foi estudar marketing, especializou-se no exterior e trabalhou em grandes companhias, como a Sony Pictures e a Wamer Bros., nos Estados Unidos, conseguindo a estabilidade que desejava. "As derrotas nos preparam para um salto maior", afirma ele. De volta ao Brasil, escreveu o livro A Estratégia do Olho do Tigre (Gente), que ensina, justamente, a ser bem-sucedido no universo corporativo.
           Quando o assunto é amor, refletir parece ser o melhor conselho também quando a perda é amorosa. Rever o relacionamento e localizar a sua parcela de culpa faz uma enorme diferença para o que virá. "O ponto não é, necessariamente, consertar a relação que acabou, mas se preparar para ter mais sucesso nas próximas. Quem aprende com o passado tem mais chances de conquistar bons resultados no futuro", afirma o psicólogo Antonio Carlos. Sim, é preciso fazer tudo isso, mas, muitas vezes, a reflexão só é possível depois que a poeira abaixa.
          "Quando decidi me separar, conseguia ver apenas o que me incomodava no casamento; não enxergava meus erros. Foi só no momento em que a tristeza amenizou que pude olhar para o fracasso da relação de maneira mais objetiva. Aí me perguntei: 'Por que aconteceu comigo?', 'Por que eu não consegui agir a tempo?' ", conta Beatriz Monte, 31 anos, administradora de empresas, do Rio de Janeiro. Num diálogo íntimo, com sinceridade, ela se reavaliou, achou as respostas e hoje mudou de atitude. "Aprendi a não depositar tantas expectativas nos outros e a procurar a minha felicidade por recursos próprios. Assim, fica mais fácil não fracassar no relacionamento. Também entendi que teria de olhar para o outro com mais atenção e ser mais solícita às necessidades de quem me cerca. O susto do fim do casamento fez de mim uma pessoa mais consciente e generosa. Aplico tudo que aprendi sendo uma mãe muito mais completa para o meu filho".

Ladeira acima
       Logo após a queda, é normal sentir-se incapaz, enfraquecida e até mesmo envergonhada. Os pensamentos a seguir podem ajudar a retomar a autoestima.
* Viver um fracasso não faz de você uma fracassada. Reveja sua trajetória e lembre-se das vitórias que conquistou.
* Não dê espaço para a autopiedade. Todos cometemos erros, e o sucesso está em saber lidar com eles, nunca em negá-los.
* No momento da dor, não se julgue nem tome decisões precipitadas. Há um tempo para sofrer e outro para avaliar objetivamente o que houve. Só então decida como agir.
* Não negue sua participação na derrota, mas também não a assuma por completo, principalmente em se tratando de um relacionamento amoroso. Se deseja uma relação melhor, em vez de esperar o outro mudar, aprimore-se e aguarde para ver o reflexo disso no casamento. Quando um muda, normalmente o parceiro traz respostas positivas.
* No passado não se mexe. Portanto, foque no futuro.
Reflita sobre o que pode aprender com o fiasco e tenha certeza de que, se a situação se repetir, você se sairá melhor.
* Avalie se não está ultrapassando seus limites, assumindo tarefas demais ou cultivando expectativas inatingíveis.
         (Revista CLÁUDIA – novembro de 2011)

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