terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A IMPORTÂNCIA DA FÉ E DA RELIGIÃO (continuação)

     Na entrevista que concedeu à revista Lola, o filósofo suíço Alain de Botton comenta algumas idéias que apresenta em seu livro “Religião para Ateus”, tais como, embora não creia na existência de Deus, considerar perigoso o fato de se tentar retirar das pessoas a liberdade de ter uma religião.
  Outros perigos que ele aponta é o de colocar o ser humano no centro de tudo; o do perfeccionismo tecnológico, de acreditar que a ciência e a tecnologia podem superar todos os problemas humanos.  Também  aponta que sem uma crença é  mais fácil perder a perspectiva da vida: esquecer a brevidade do presente e deixar de apreciar, no bom sentido, a natureza minúscula de nossas próprias realizações. E, finalmente, sem fé, existe o perigo de negligenciar  a necessidade de empatia e comportamento ético. Agora, é importante ressaltar que é possível não acreditar em nada e lembrar-se de todas essas lições.
      Ele se considera verdadeiramente um ateu. Mas isso não significa que não tenha interesse em sabedoria, consolação, comunidade, rituais ou arte. Na verdade, ama todas essas coisas, e considera a missão do seu livro argumentar que os ateus precisam desses elementos tanto quanto"as pessoas religiosas.O problema do homem sem religião é que ele se esquece. Todos  sabemos, em teoria, o que devemos  fazer para ser bons., mas esquecemos. É aí que entram as religiões. Elas dão lembretes diários do que é preciso fazer, às vezes até de hora em hora. Isso é o que são os rituais: são tentativas de manter vivas as coisas que já sabemos, mas que esquecemos. Religiões também servem para nos vermos como mais do que apenas mentes racionais; somos criaturas emocionais e físicas e, portanto, precisamos ser seduzidos por nosso corpo e nossos sentidos também.
   “Não quero atacar as pessoas religiosas. Eu sou ateu, mas sou gentil. Não sinto a necessidade de debochar de quem acredita. E realmente discordo do tom duro de alguns ateus que tratam a religião como apenas um conto de fadas bobo. Sou profundamente respeitoso em relação à religião, mas não acredito em nenhum de seus aspectos sobrenaturais. Então, minha posição é talvez pouco usual: sou, ao mesmo tempo, muito respeitoso e totalmente irreverente”.
    Segundo ele,  a religião cumpre o mesmo papel que a psicanálise tem para alguns e a filosofia para outros. Todas são maneiras de tentar achar um sentido para a vida.
O ponto de partida da religião é que somos filhos e precisamos de orientação. Mas  muitas pessoas  não aceitam isso, acham que todos são adultos e não precisam de orientação  e instrução moral.  Querem   tratar todos  como seres muito racionais e razoáveis. Na verdade, estamos muito mais desesperados; estamos à beira do pânico e do terror praticamente o tempo todo - e as religiões reconhecem isso.
    “ Para mim, as religiões são fascinantes, porque são máquinas gigantes para tomar ideias vivas e reais na vida das pessoas: ideias sobre bondade, morte, família e comunidade. Hoje em dia, tendemos a acreditar que as pessoas que têm ideias vívidas são artistas e importantes figuras culturais. Mas isso é um pensamento muito pequeno em resposta a um conjunto enorme de problemas. Então, estou profundamente interessado na maneira como, no fim, as religiões são grandes instituições, máquinas gigantes, organizações, empenhadas em gerir a nossa vida interior. Não há nada como isso no mundo secular, e isso é uma pena enorme.”
      As pessoas têm tanta atração por conceitos orientais, como o budismo, o taoísmo porque os filósofos orientais eram particularmente bons em expressar nosso anseio por calma e nossa insatisfação com o materialismo.No mundo moderno, isso é natural e profundamente atraente para muitas pessoas.
     Botton não acredita na existência da alma, mas  acredita que cabe a todos olhar para a religião, ver os pedaços que podemos roubar dela e colocá-los no mundo moderno. Todos nós podemos contribuir para a construção de novos templos. A salvação da alma individual continua a ser um problema sério - mesmo quando rejeitamos Deus. No século 20, o capitalismo realmente resolveu (no Ocidente laico) os problemas materiais de uma parcela significativa da humanidade. Mas a vida espiritual ainda está um caos, e as religiões estão deixando de atender a essa necessidade.
   “ É por isso que eu escrevi meu livro, para mostrar que continua a haver uma maneira nova: uma forma de preencher o mundo moderno com tantas lições importantes da religião, e ainda não precisar retomar a qualquer tipo de espiritualidade ocultista.”
        (Entrevista publicada na revista Lola, nº 15, dezembro de 2011)

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