quinta-feira, 16 de junho de 2011

AS ELECTRAS DA POLÍTICA


        Elas  receberam uma herança diabólica e têm uma  árvore genealógica negra, mas amam  seus pais e pretendem construir uma carreira política.
              
            Quase todos nós já ouvimos falar sobre os chamados Complexo de Édipo e Complexo de Electra. O que nos interessa aqui é o segundo. Reza a mitologia grega que Agamenon, o rei grego, ao voltar da Guerra de Troia, foi assassinado por sua mulher, Clitemnestra. Sua filha Electra, por sua vez, matou a mãe para vingar a morte do pai, no que foi perdoada pelos deuses, por estar exercendo um legítimo direito de vingança. Daí para cá muitas Electras surgiram. Vejamos as deste comentário:
             Uma delas esteve recentemente na mídia nas recentes eleições no Peru: Keiko Fujimori. Como candidata da direita deu um grande susto no nacionalista Ollanta Humala, perdendo para ele por uma margem muito estreita.  O pai de Keiko é o antigo ditador Alberto Fujimori, que cumpre prisão de 25 anos por corrupção, violação dos direitos humanos e inúmeras execuções extrajudiciais  (entre elas a dos filhos de seus oponentes). Como se vê, uma “flor de pessoa”!
              Quando Keiko ainda estava na Universidade de Boston (1994), seus pais se separaram e ela tomou o partido do pai, “assassinando” simbolicamente a mãe. Ficou morando com o pai e assumiu o papel de primeira-dama, aos 19 anos.  Hoje, o pai se eclipsou (está numa dourada prisão) e a filha assumiu seu papel na política peruana. Com seu modo elegante de falar, seu rosto redondo e asiático, seus longos cabelos negros, está sempre sorrindo (como o pai, aliás) e tem conquistado as simpatias dos deserdados, que esquecem as crueldades de Fujimori para se lembrar de suas ações em favor dos pobres. Keiko diz que tem orgulho de ser filha de Alberto Fujimori, que é o melhor presidente que o Peru já teve e compartilha a ideologia dele. Os adversários apontam o perigo do retorno do tirano, por “detrás dos panos”, e da velha máfia dos anos 90. Keiko promete que não e sorri (como o pai).
              A outra Electra é a falastrona Marine Le Pen, filha de Jean-Marie Le Pen, o agitado e brilhante orador, chefe da extrema direita francesa, fascista fanático com claras tendências nazistas. Marine está se preparando para ser a candidata à Presidência da República da França, em 2012, e as pesquisas lhe dão 25% dos votos, mais do que o atual Sarkozy.
                  Quando a mulher de Le Pen não aguentou mais a vida ao lado dele e fugiu, as três filhas ficaram ao lado do pai e repudiaram publicamente a mãe.  Agora, a mais nova, Marine, lança-se na política, com o franco apoio do pai. E inquieta os adversários, pois é um fantástico “animal político”: presença brilhante, sorridente, feroz, eloquência fluida e iluminada.Com seu charme, domina os rivais, toma nas mãos o aparelho do partido.Será uma fantástica e inquietante candidata às eleições presidenciais de 2012: glorifica o pai, compartilha sua ideologia, mas envolve o presente num papel mais refinado. Abandonou o antissemitismo, mas  aponta outros temas afins: “a França está submersa em hordas de negros, de árabes e de ciganos que a poluem.” E  seu partido bombardeia os eleitores com essas idéias de Le Pen: xenofobia, volta à pena de morte, caça aos imigrantes, etc.
                 Como podemos ver, os “papaizinhos” se eclipsaram, mas continuam a mexer os cordões que fazem as filhas se mexerem. Temos de reconhecer que elas são corajosas ao se apresentarem com uma árvore genealógica como a de um pai corrupto e assassino, uma,  e um fascista no limite do nazismo, a outra. Elas colocaram uma pele de cordeiro sobre a carcaça de leão dos pais. Mas isso será aceito  e respeitado se forem eleitas? Elas são duas mulheres fascinantes, tiveram no berço os mesmos genes, dons e talentos. Mas também sofreram nos anos do colégio a mesma discriminação, as mesmas humilhações, a mesma vergonha e desprezo, por serem filhas de quem eram. Terá sido isso o que as impulsionou a buscarem os lugares mais altos?   Será desejo de vingança ou de redenção?
                                                  Fonte: revista LOLA, nº 9, junho de 2011.

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