quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A PRINCESA TRISTE

                  Este foi  o título que Laurentino Gomes, em seu livro “1822”, deu ao capítulo em que fala sobre Dª Maria Leopoldina de Habsburgo, a primeira Imperatriz do Brasil, esposa de D. Pedro I. É um trecho do livro que nos deixa penalizados por essa jovem princesa que viveu tão pouco, mas deixou sua marca na História do Brasil, graças ao papel fundamental que teve na Independência. Sim, porque foi ela, junto com José Bonifácio, que a arquitetaram: Bonifácio escreveu a declaração de Independência e Leopoldina a assinou e enviou a D. Pedro, que ainda estava em São Paulo. “Ou seja, do ponto de vista formal, a Independência foi feita por Leopoldina e Bonifácio, cabendo ao príncipe apenas o papel teatral de encená-la na colina do Ipiranga.”(1822, p. 136).
                  Leopoldina nascera “no berço mais dourado da época, a corte da Áustria,uma das mais ilustres e educadas da Europa”. Era filha do imperador Francisco I, sobrinha da rainha Maria Antonieta, da França, e irmã de Maria Luísa, segunda esposa de Napoleão Bonaparte. Aos 20 anos, casou por procuração com o príncipe D. Pedro (representado pelo marquês de Marialva) e chegou ao Brasil em 1817, para conhecer seu marido e iniciar sua vida de casada.
                  A jovem princesa,na visão de historiadores da época, reunia um conjunto de virtudes notáveis: era inteligente, culta, educada, tinha boas maneiras  e era sensata; mas não tinha o fundamental para o jovem marido: beleza e sensualidade. Era “uma louraça feiarona”, sem garbo de princesa. E, por isso, talvez, acabou tendo o destino da mulher certa casada com o homem errado!
                  Chegou ao Brasil cheia de sonhos e curiosidade pelo novo país, de devotamento ao marido e boa vontade para com a nova família. Acostumada à vida de estudos, passeios, à cultura de Viena, caiu aqui numa corte “conservadora, carola, triste e cheia de intrigas”, de gente rude, grosseira. O ambiente era o pior possível: um calor sufocante, mosquitos que infernizavam, os arredores do palácio eram um depósito dos dejetos de seus habitantes, o que causava um mau cheiro pavoroso. A vida cultural era mínima e pobre.
                   Nos primeiros anos, manteve as ilusões através do estudo e dos passeios com o marido. Mas, à medida que o tempo passava e as gravidezes e partos ocorriam (teve nove, um a cada ano, delas sobrevivendo 7 filhos), Leopoldina tornou-se uma matrona gorda, rosada e de olhos azuis. Não gostava de usar espartilho, o que deixava à mostra o corpo flácido e de curvas exageradas. Um cronista francês chegou a descrevê-la como “uma cigana malvestida, com os cabelos desalinhados, que pareciam não ter sido penteados havia mais de uma semana”. Também era descuidada nas roupas, muitas vezes velhas, surradas e pouco limpas.
                   À medida que Leopoldina se descuidava da aparência, D.Pedro ficava mais abusado em suas aventuras extraconjugais, antes bem dissimuladas. Envolvida com as questões políticas que fervilhavam, vendo as atitudes do marido, sofrendo com seu gênio grosseiro e explosivo, tornou-se uma mulher adulta que encarava a vida sem ilusões. Desiludida com o marido, com a vida social medíocre do Rio de Janeiro e a resignação de que nunca mais voltaria à Europa, começou a entrar em depressão, agravada pelas humilhações públicas das constantes atenções de D. Pedro em relação a Domitila de Castro, sua amante favorita.
                  Leopoldina chegou ao ponto de passar dificuldades financeiras e viver de empréstimos junto a agiotas, pois não recebia regularmente a mesada para seu sustento e dos filhos, e também, sendo muito caridosa,  gastava demais socorrendo pessoas necessitadas. Chegou ao ponto de, ao morrer, o parlamento precisar votar uma dotação orçamentária de emergência para pagar os seus credores.
                   No dia 29 de novembro de 1826, doente e deprimida, presidiu uma reunião do conselho de ministros. Logo depois, começou a ter febre alta e crises de convulsão. No dia 2 de dezembro abortou o feto de um menino (sua nona gravidez) e morreu no dia 11 de dezembro, um mês antes de completar 30 anos.
                   As circunstâncias que envolveram sua morte nunca foram bem esclarecidas. Os boatos da corte e uma carta  que escreveu à sua irmã Maria Luísa, três dias antes de morrer, em que faz alusões veladas a um “atentado horroroso”, indicam que teria tido uma discussão violenta com D. Pedro, na presença de Domitila, e que este a teria agredido com um pontapé no abdômen.
                   A notícia de sua morte comoveu toda a cidade, especialmente o povo, que a amava. Assim, terminou de maneira trágica a vida da jovem princesa austríaca que viera para o Brasil cheia de sonhos. Mas ela não viveu em vão. Apesar de morrer com  incompletos 30 anos, deixou ao país o legado da sua independência, que ela arquitetou e ajudou a consolidar, com cartas escritas ao pai e ao sogro,  intercedendo pelo reconhecimento desta. Quem hoje em dia conseguiria tanto? Só os predestinados!

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