terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O HOMEM SÁBIO

             Outro dos capítulos de que gostei, no livro “1822”, é o que fala sobre José Bonifácio de Andrada e Silva, pois os livros didáticos pouco comentam sobre ele, a não ser como o Patriarca da Independência. Mas, de como chegou lá, pouco se fala.
            Natural de Santos, foi para a Europa aos 20 anos, formando-se em Direito, Filosofia e Matemática pela Universidade de Coimbra. Depois, viajou por vários países europeus para estudar Química e Mineralogia. Logo tornou-se um cientista conhecido e respeitado. Presenciou a Revolução Francesa e participou da luta em Portugal invadido por Napoleão. Tornou-se, então, um funcionário graduado da Coroa Portuguesa, onde trabalhou por muito tempo. Aos 56 anos, pediu licença a D. João para retornar ao Brasil, pois se encontrava cansado e queria passar seus últimos anos na terra natal, Santos, junto com os seus familiares.Obtida a autorização, chegou ao Brasil em 1819, acompanhado da esposa, a irlandesa Narcisa Elvira O’Leary, e três filhas.
              Todavia, o que ele não sabia era que estava destinado a desempenhar um grande papel na História do Brasil, como o principal conselheiro do príncipe D. Pedro, num momento importantíssimo como o da construção da Independência do Brasil!
              Embora fossem diferentes no saber, na experiência e na idade, Bonifácio e D. Pedro eram parecidos na forma inquieta de viver, embora a História o retratasse como um homem sisudo e austero, numa visão errada. Bonifácio era boêmio e bom de copo, gostava duma farra, era poeta e bom contador de histórias, amava as mulheres e teve várias amantes,que lhe deram dois filhos bastardos. Também era exímio no manejo da espada e dizem que matou quatro homens em duelos.
              O estilo desassombrado de viver fez D. Pedro ficar fascinado por Bonifácio, quando se encontraram no início de 1822. Após ter sido procurado por um emissário do Rio de Janeiro, que trazia as notícias das exigências cada vez maiores das cortes portuguesas, Bonifácio  chegou ao Rio, no dia 18 de janeiro de 1822, junto com os deputados de São Paulo e já nomeado ministro, mesmo contra sua vontade. Dª Leopoldina já fora encontrá-lo a meio caminho, preocupada com o impulsivo e inexperiente marido, D. Pedro, que precisava de apoio e orientação naquele momento tão difícil e importante. 
              Recebidos no palácio, Bonifácio relutava em aceitar o cargo, só o fazendo depois de uma conversa a sós com D. Pedro. O que conversaram não se soube, mas provavelmente Bonifácio teria exigido de D. Pedro a promessa solene de que não sairia do Brasil em hipótese alguma, já que o projeto de governo de Bonifácio era a Independência com o Brasil unido em torno de D. Pedro, numa monarquia constitucional. Tinha outros planos, tais como uma profunda reforma na estrutura social e econômica, com a extinção do tráfico de escravos e uma gradual abolição da escravatura, reforma agrária e educação para todos, planos esses surgidos da sua vivência na Europa por muitos anos. Todavia, não conseguiu realizar estes, devido ao conflito de interesses eao pouco tempo que permaneceu no ministério.
               Bonifácio esteve à frente do  ministério de D. Pedro por apenas 18 meses, de janeiro de 1822 a julho de 1823, mas nenhum outro homem público brasileiro realizou tanto em tão pouco tempo. Na época, havia diversos grupos de interesses dentro da sociedade brasileira, D. Pedro oscilava entre as exigências das cortes portuguesas e a pressão dos grupos radicais da maçonaria, além da influência dos amigos boêmios e oportunistas, como o famoso Chalaça. Bonifácio afastou os oportunistas e tornou-se um elo, uma solda entre os vários interesses e o príncipe.
              Apoiado e incentivado por Dª Leopoldina, por ocasião da famosa viagem de D. Pedro a São Paulo, Bonifácio não teve dúvidas em escrever a proclamação da Independência, que foi assinada pela princesa, e enviá-la, junto com as últimas cartas chegadas de Portugal, ao jovem príncipe que, enraivecido e incentivado, fez a proclamação histórica às margens do riacho Ipiranga. Isso o transformou no Patriarca da Independência, o mais importante personagem da Independência do Brasil ao lado do próprio D. Pedro.
              Mais tarde, as divergências entre os dois, principalmente depois da dissolução da primeira constituinte brasileira, em novembro de 1823, Bonifácio foi preso e deportado para a França e se converteu num áspero crítico de D. Pedro. Todavia, voltou do exílio seis anos depois e reencontrou um D. Pedro amadurecido pelas lutas políticas. E, com surpresa, viu o imperador nomeá-lo responsável pela educação dos filhos, entre eles o futuro D. Pedro II, antes de abdicar do trono e retornar à Europa, em 1831. Nos anos seguintes, foi alvo de perseguições e tramas políticas de adversários que não o desejavam perto do herdeiro, sendo afastado da tutoria de D. Pedro II em 1833.
               Bonifácio morreu  em 6 de abril de 1838, na ilha de Paquetá, na baía da Guanabara, onde se recolhera em exílio voluntário, desiludido com os rumos da política brasileira. Hoje os seus restos mortais estão depositados no Panteão dos Andradas, monumento erguido em memória à família do Patriarca, na cidade de Santos, pelos serviços prestados à Pátria por ele e seus irmãos Antônio Carlos e Martim Francisco.

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