segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A EVOLUÇÃO DE UM HOMEM

               Na postagem anterior, comentei sobre Dª Leopoldina, a primeira esposa de D. Pedro I. Nada mais justo do que falar sobre ele agora.
                O jovem príncipe, segundo Laurentino Gomes (“1822”) foi “um meteoro que cruzou os céus  da História numa noite turbulenta”. Poucos personagens passaram para a posteridade de maneira tão controvertida, mostrado ora de uma forma, ora de outra, como se pode ver em filmes, minisséries ou novelas de televisão.
                Nasceu em1798, no palácio de Queluz, Portugal, e chegou ao Brasil aos 9 anos, junto com toda a família real portuguesa. Embora fosse inteligente, teve uma educação irregular, pois, gostava música e matemática, mas na escrita evidenciava domínio precário da língua portuguesa, cometendo erros de ortografia, concordância e, principalmente, pontuação, a ponto de ser chamado à atenção por D. João VI, seu pai, em suas correspondências. Quanto à sua linguagem, era péssima para um príncipe. Vivendo a maior parte do dia junto com os lacaios e criados, ou dos filhos destes, usava a mesma gíria grosseira e obscena, entremeando na conversa expressões que nunca deveriam sair da boca de um homem bem-educado.
               Não tinha paciência com as regras e restrições do cerimonial, era genioso e explosivo como a mãe. Adorava cavalgar e disputar corridas, tendo sofrido várias quedas. Gostava de jogar,mas era mau perdedor, fazendo cenas péssimas quando perdia. Impulsivo, voluntarioso e volúvel, tinha súbitas alterações de humor e violentas e repentinas explosões, que dificultavam a convivência com ele. Talvez isso explique o episódio da agressão à Dª Leopoldina, a qual teria causado a morte da mesma. Além disso, sofria ataques de epilepsia, que o faziam rolar pelo chão em convulsões.
              Na política, evoluiu rapidamente: no começo indeciso sobre a causa dos brasileiros e até contrário a ela, devido à fidelidade ao pai, foi levado pelos acontecimentos. O primeiro foi a ordem de voltar imediatamente a Portugal; o segundo, foi a morte do filho primogênito, João Carlos, ainda bebê. A partir daí, predominou nele o homem determinado a seguir o caminho que o levaria até a Independência
              Sua vida privada foi intensa e tumultuada, povoada por farras, noitadas e amigos de má reputação e, claro, de mulheres. Seu grande parceiro e alcoviteiro nas aventuras era o português Francisco Gomes da Silva, o “Chalaça”.  Essa agitada vida noturna tornou D. Pedro pai de inúmeros filhos, tidos com as esposas e amantes.
             Tal vida agitada só se acalmou um pouco após a morte de Dª Leopoldina e o segundo casamento. Encarregado de procurar nas cortes européias uma outra princesa para casar com D. Pedro, o Marquês de Barbacena encontrou dificuldades, pois a fama do jovem príncipe não era  das melhores entre a nobreza da Europa, principalmente após a morte de Dª Leopoldina. Após  várias recusas, teve de se contentar com uma princesa de segunda linhagem: D. Amélia de Beauharnais Leuchtenberg,  a quarta filha do general Eugênio de Beauharnais e sua esposa, a princesa Augusta da Baviera. Eugênio era filho de Josefina Bonaparte e seu primeiro marido, o visconde Alexandre de Beauharnais, bem como filho adotivo de Napoleão Bonaparte, que o fez vice-rei da Itália.  Como estirpe, nem se comparavam com os Habsburgos austríacos!
           Dª Amélia foi uma compamheira dedicada e fiel até o fim da vida do marido. Deu-lhe uma flha, Maria Amélia (1831). Depois do seu casamento com D. Pedro, houve apenas vagas referências a romances passageiros do imperador.
          No que se refere à vida política, D. Pedro continuava envolvido com os problemas para a consolidação da Independência, agravados com a morte de D. João VI, em Portugal, que o levou a ter de solucionar os problemas de dois reinos. FoI rei de Portugal, com o nome de Pedro IV, entre março e maio de 1826, quando abdicou em nome da filha mais velha Maria da Glória, o que o tornou um avalista do processo político português, pois teria que assegurar os direitos da filha até que ela atingisse a maioridade e assumisse o trono. Na prática, governava dois reinos: Brasil e Portugal.  Essa situação o induspunha cada vez mais com os políticos e o povo brasileiro, que estavam sempre desconfiando dele. Até que, em abril de 1831, levado pelos tumultos que tomavam as ruas do Rio de Janeiro, abdicou do trono brasleiro em favor de seu filho D. Pedro II, deixando-o, e às irmãs, sob a tutela de José Bonifácio de Andrada e Silva.
                Já em Portugal, em 1832, precisou enfrentar, durante dois anos, uma guerra civil longa e sangrenta contra seu irmão D. Miguel pelo trono de Portugal. Os dois irmão eram diferentes em tudo: Pedro herdara o caráter da mãe, era ativo, irrequieto, aventureiro, namorador; Miguel tinha o caráter do pai, era apegado á etiqueta, à tradição e ao protocolo. Seus traços delicados e bonitos levantavam suspeitas sobre sua filiação: corriam rumores de que seria filho do marquês de Marialva, e até de que seu pai seria filho de um caseiro da quinta onde Carlota Joaquina gostava de veranear em Portugal.
              As diferenças entre os irmãos eram profundas até na política: Pedro era liberal e modernizador, Miguel era conservador e adepto do absolutismo. MigueL traiu a proposta do irmão de assumir a regência provisória, jurar a constitição e casar-se com a sobrinham, entregando-lhe o poder quando atinigisse a maioridade. Fingindo aceitar, chegou a Portugal, assumiu a regência, dissolveu as câmaras, convocou as cortes que o declararam rei, anulando tudo o que D. Pedro havia feito. Instalou-se o terror: prisões, enforcamentos, deportações, confisco de propriedades, etc.
              Após a abdicação, em 1831, D. Pedro foi para a Europa buscar apoio da França e da Inglaterra para lutar contra o irmão usurpador. Não conseguindo, lançou mão de sua própria fortuna pra organizar a luta. A partir da ilha Terceira, nos Açores, organizou-se um ataque a Portugal, que aconteceu em 1832, com a tomada da cidade do Porto, operação que se tornou sofrida e difícil, pois as tropas de D. Pedro ficaram cercadas na cidade. D. Pedro revelou-se um chefe militar dedicado e carismático, estando presente em todos os momentos e lugares.
        O término do cerco dos liberais na cidade do Porto e a vitória de D. Pedro só aconteceram porque a Inglaterra resolveu ajudar e forneceu navios, armamentos  e homens bem treinados, que desembarcaram em Portugal e ajudaram na luta. Finalmente, em maio de 1834, assinou-se o tratado de rendição e D. Miguel partiu para o exílio definitivo.
         Mas os três anos de luta por Portugal terminaram com a já precária saúde de D. Pedro, que já não era boa, devido à vida desregrada que levara durante anos. Tomado pela tuberculose, entrou em colapso e faleceu em 24 de dezembro de 1834, poucos dias antes de completar 36 anos.Uma vida curta, agitada, mas que deixou marcas profundas nos dois países pelos quais lutou.
         Foi sepultado na Igrejade São Vicente de Fora, em Lisboa, mas seus restos foram trazidos para o Brasil em 1972, no Sesquicentenário da da Independência, e estão no Mausoléu da Independência, em São Paulo. Seu coração, porém, por determinação dele, foi retirado e colocado numa ânfora, que permanece guardada na Igreja da Lapa, na cidade do Porto, em Portugal, que tanto significou para ele na vitória sobre o irmão usurpador.

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