quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

AGORA, ELA É O CARA!

                Quando Angela  Merkel  se  tornou  a  primeira   mulher  chanceler  da  Alemanha,  em  2005,   ninguém poderia  imaginar  que ela viria a se tornar a mulher mais poderosa do mundo.
       
       Sim, hoje ela discute de igual para igual com os donos do mundo: Barack  Obama, Nicolas Sarkozy  e David Cameron. E, o mais importante, ela impõe a sua vontade!
      Mas como, afinal, essa  discreta alemã, com cara de discreta dona de casa e cabelos de tigela chegou onde está?
      De origem simples, pai pastor e mãe professora, ela nasceu  em Hamburgo, mas foi criada num vilarejo da Alemanha Oriental, levando vida desconfortável, praticando o protestantismo de Lutero e destacando-se na escola, onde aprendeu a falar um excelente russo.
     Com a queda do muro de Berlim,  aderiu á União Democrática Cristã (CDU) e acabou sendo eleita deputada  no Bundesbag, o parlamento alemão, onde sua atuação veio a chamar a atenção do então chanceler Helmut Kohl, também da CDU, que a trouxe para sua equipe.  Ela o enternecia com o seu jeito de garotinha desajeitada. Fez dela uma ministra.
       A grande chance de Angela chegou em 1999, quando a CDU  foi manchada pelo caso das caixas pretas de contribuições financeiras ilegais. Kohl balançou e ela o ajudou a cair, publicando num jornal um artigo demolidor sobre o assunto. Angela “matou” o pai e, de quebra, levou alguns tiozinhos também. E assumiu a presidência da CDU.
      E alguns anos mais tarde, em 2005, a comum, mal vestida e oradora medíocre  venceu o brilhante chefe dos socialistas Gerhard Schöreder, tornando-se a chefe da Alemanha.
       Porém, como age esta senhora , qual é a sua arte política? Segundo os observadores, ela usa o tempo em seu jogo: é prudente, desconfiada, lenta, invisível, até que dá o golpe final para atingir os seus objetivos. Em suma, deixar-se subestimar é sua arma secreta: faz crer aos outros que são eles que tomam as decisões, enquanto, na realidade, é ela quem  as dita.  Com seu estilo  discreto (costumes sóbrios, rosto aberto e simples, vestidos e calças simples, meios sorrisos), ela exercita a paciência: hesita, informa-se, pensa, confia mais nas mulheres do que nos homens. Tem sangue-frio, nervos de aço, suas reações são frias. No fundo dessa mulher existe fero.
        Ela mesma disse a um confidente: “Eu não sou vaidosa. Mas sei utilizar a vaidade dos homens.” Uma prova disso é sua atitude para com Sarkozy. Segundo Gilles Lapouge,  quando tornou-se presidente da França, o “pequeno personagem de desenho animado, agitado, enérgico, volúvel, vulgar, divertido, emotivo, que tem uma necessidade visceral de tocar o corpo dos seus interlocutores”  fez de tudo para fascinar Angela, chegando a ser cômico e um pouco triste: jogava-se no pescoço dela, beijava-a, dirigia-lhe piscadelas. 
       Os mais perspicazes viam que essas exuberâncias  eram insuportáveis para Angela. Outra mulher menos controlada teria colocado o homenzinho em seu devido lugar, mas ela permaneceu impassível. Com o tempo, Angela relaxou e, quando Sarkozy começa com as suas, ela responde com um sorriso indulgente, daqueles que se dá a uma criança agitada.  E Sarkozy fica contente, mas não aprende nada. Tanto que tentou se virar como um doido para ditar sua conduta a Angela na crise que sacode a zona do euro. Mas ela apenas sorriu seu estranho sorriso e fez o que lhe deu na cabeça. Quer dizer, ela decide e o francês vai atrás!
       Angela é pouco ideológica, pragmática, sendo capaz de mudar de posição se a lógica pede. Mas não transige em seus princípios. Tanto que, há alguns anos, escandalizou os políticos católicos que fazem parte da CDU: deu uma bronca no papa Bento XVI, quando ele reabilitou um político negacionista (esses que negam a existência das câmaras de gás na Alemanha nazista)!
       Mas, apesar de sua dureza, Angela Mekel não é uma dama de ferro como foi Margareth  thatcher, que era de uma crueldade absoluta. Não, Angela  só bate nos grandes, poderosos, vaidosos, nunca nos fracos.
      Na vida pessoal é discreta como na política. Nos finais de semana, vai com seu segundo marido ( o primeiro foi ainda muito jovem, com um físico,  durou pouco) para sua casa de campo na antiga Alemanha Oriental. Nas férias, vai para Ischia, na Itália ou para as montanhas. Não tem filhos.
      Agora  , ela está enfrentando uma fase ruim com os problemas do euro.  Alguns machões da política alemã a apelidaram de “Mutti”, que quer dizer mamãezinha, tentando enfraquecê-la. Mas é difícil, há dez anos ela desfaz todas as armações deles. Como diz Lapouge, “...por que não Mutti? Afinal, passar  em 20 anos do estado de mocinha e de garota que toma chá de cadeira nos bailes ao estado de Mutti não é um destino medíocre.”
                                                 (Revista Lola,  janeiro de 2012)


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