quarta-feira, 23 de março de 2011

LINGUAGEM E APRENDIZAGEM


      Que a maioria das crianças e jovens têm dificuldade de se expressarem oralmente e, mais ainda, por escrito, é uma constatação feita há muito tempo pelas pessoas que com eles convivem. Usam uma tal variedade de gírias, gestos, maneirismos, que os leva a não “alinhavarem”  uma frase coerente e inteligível. Fico arrepiada quando, por acaso, tenho oportunidade de ler  alguma conversa dos meus netos com os amigos no MSN, ou leio mensagens trocadas por eles no Orkut!
       Isto causa uma enorme dificuldade na aprendizagem e na realização dos trabalhos escolares, porque , possuindo um vocabulário reduzido, não conseguem entender o que os livros didáticos e os textos dos sites da internet  contêm e, muito menos, colocarem suas idéias por escrito. Por que isto ocorre?
      O economista Cláudio de  Moura Castro aborda esse problema da competência, partindo, inclusive, do conhecido conto de Rudyard Kipling, "Mogli, o menino-lobo", em que o personagem foi criado por uma loba, em meio a uma alcateia, e só foi aprender a fala humana depois de grande.  Ele analisa o tema, a partir de conclusões de antropólogos e faz interessantes colocações.            
         "Vivemos em um mundo de palavras", diz o celebrado antropólogo Richard Leakey. "Nossos pensamentos, o mundo de nossa imaginação, nossas comunicaçõess e nossa rica cultura são tecidos nos teares da linguagem ... A linguagem é o nosso meio ... É a linguagem que separa os humanos do resto da natureza." Para o neuropaleontólogo Harry Jerison, precisamos de um cérebro grande (três vezes maior do que o de outros primatas) para lidar com as exigências da linguagem.
          Portanto, se pensamos com palavras e com as conexões entre elas, a nossa capacidade de usar palavras tem muito a ver com a nossa capacidade de pensar. Dito de outra forma, pensar bem é o resultado de saber lidar com palavras e com a sintaxe que conecta uma com a outra. O psicólogo Howard Gardner, com sua tese sobre as múltiplas inteligências, talvez diga que Garrincha tinha uma "inteligência futebolística" que não transitava por palavras. Mas grande parte do nosso mundo moderno requer a inteligência que se estrutura por intermédio das palavras. Quem não aprendeu bem a usar palavras, não sabe pensar. No limite, quem sabe poucas palavras ou as usa mal, tem um pensamento encolhido.
           Talvez veredicto mais brutal sobre o assumo tenha sido oferecido pelo filósofo Ludwig Wingensstein: "Os limites da minha linguagem são também os limites do meu pensamento. Simplificando urn pouco, o bem pensar quase que se confunde com a competência de bem usar as palavras. Nesse particular não temos dúvidas: a educação tem muitíssimo a ver com o desenvolvimento da nossa capacidade de usar a linguagem. Portanto,  o bom ensino tem como alvo número um a competência linguística.
           Pelos testes do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, (Saeb), na 4ª série 50% dos brasileiros são funcionalmente analfabetos. Segundo o Programa lnternacional de Avaliação de Alunos (Pisa), a capacidade linguística do aluno brasileiro corresponde a de um europeu com quatro anos a menos de escolaridade. Sendo assim., o nosso processo educativo deve se preocupar centralmente com as falhas na capacidade de compreensão e expressão verbal dos alunos.
            Ao estudar a Inconfidência Mineira,  a teoria  da Evolução das Espécies ou os afluentes do Amazonas, o aprendizado mais importante se dá no manejo da língua. É ler com fluência e entender o que está  escrito. É expressar-se por escrito com precisão e elegância. É transitar na relação rigorosa entre palavra e significados.
           Nossa juventude estará mal preparada para a sociedade civilizada se insistirmos em uma educação que produz uma competência linguística pouco melhor do que a de meninos-Iobo.
            E o problema é agravado porque, com as modernas tecnologias, as nossas crianças e jovens, estão o tempo todo envolvidos com celulares, computadores e outros recursos, nos quais empregam uma linguagem reduzida, abreviada, simplificada, sem observância mínima de regras, que só limitam cada vez mais sua capacidade de pensar, entender e escrever.
            Então, se os governos não investirem muito mais em técnicas, recursos e pessoas qualificadas para uma educação de qualidade, a escola nunca poderá competir com essa tecnologia massificante que aí está absorvendo o interesse das crianças e jovens.
             É preciso insistir muito na leitura, interpretação e produção de textos. Quem é capaz de ler e entender o que leu, é capaz de aprender qualquer coisa depois. O problema maior, na minha opinião é que os alunos não entendem a linguagem dos textos dos livros didáticos e dos textos que pesquisam na internet. Então, apenas copiam e nada fica do conteúdo em suas memórias. E o pior é que a maioria dos professores não se preocupa (ou não quer ter trabalho, ou não se interessa ou não tem tempo) em “traduzir” para eles o conteúdo, em colocar em “linguagem de gente” (expressão minha) o que eles precisam entender. A partir daí se configura todo o problema.
             Outro aspecto que preocupa, é esta aparente incapacidade de memorizar, de reter na memória o que estudam, que parece grassar no meio estudantil    de alguns anos para cá. No tempo em que eu cursei o que hoje corresponde ao Ensino fundamental e ao Ensino Médio, nós éramos treinados para a memorização. Nós tínhamos que decorar e decorávamos! E aí me fica esta interrogação: se nós éramos capazes de memorizar, por que os alunos de hoje não retêm o mínimo que seja daquilo que aprendem?   Gostaria de ler uma pesquisa sobre este tema!

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