quinta-feira, 24 de março de 2016

A PÁSCOA DOS INVISÍVEIS

    
    Como num passe de mágica eles(as) aparecem na semana da Páscoa. Como num filme relâmpago assistimos suas figuras deslizando em fila pelas calçadas. Como num túnel do tempo suas figuras miúdas reaparecem no coração da seIva de pedra. Como num pesadelo matinal os vemos fazendo parcas refeições, sentados nos umbrais das casas antigas e nas calçadas.
  Como num conto de literatura surrealista vemos crianças descalças, dentes podres, roupas amarfanhadas e sorriso ingênuo, penduradas nas costas das mães ou na cintura dos pais. Como num tobogã imaginário vemos crianças escorregando pelas calçadas, entre os canteiros, sob os bancos da praça e aos pés dos passantes apressados e pré-ocupados.
     Como num documentário inconveniente somos obrigados a vê-Ias. Somos desafiados a enxergá-Ias. Plantados, de olhos esbugalhados de admiração, frente às vitrinas lindamente decorados com motivos de Páscoa dos shopping centers. São homens, mulheres e crianças. É o que restou dos cerca de 2000 povos que nesta terra brasilis viviam quando aqui chegaram os portugueses nos idos de 1500. São os nativos que insistimos em chamar de índios – como se fossem todos iguais.
     É hora de vê-Ias. É hora de pensar em Paz, fraternidade, . de celebração da Páscoa. Por alguns dias eles ficarão visíveis. Logo voltarão a ficar invisíveis. Ninguém mais os verá. Voltarão a ser invisíveis aos nossos olhos cristãos e sempre tão preocupados com a violência que cada vez mais nos tira o sono. Como diz uma professora minha : que mundo é esse?
                      (Valdo Barcelos - Prof. e escritor-UFSM)


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