sábado, 13 de agosto de 2011

A ARTE DA SONSICE

               Este é o título de uma interessante matéria da jornalista Mônica Waldvogel, publicada na revista Lola, nº 9, em que a autora, baseada nos bate-papos com amigas, relata as artimanhas que muitas mulheres poderosas, duronas e bem-sucedidas profissionalmente, usam para driblar os problemas que poderiam enfrentar com maridos, namorados, colegas de trabalho, chefes.
                É da rotina da autora encontrar-se com amigas nos  finais de tarde  para tomarem um drinque e conversarem.  E,  do que ouviu nessas conversas, nasceu o material para a referida publicação, pois nessas  ocasiões muitas das  mulheres presentes  comentavam  os seus  problemas em administrar uma carreira  bem sucedida com as possíveis  mágoas de companheiros e colegas de trabalho,  que poderiam se tornarem  hostis por  ciúme  do  seu sucesso.
               As  queixas eram sempre as mesmas:  os  homens não aguentam as mulheres fortes, as que resolvem  suas questões, ganham dinheiro, são donas da própria vida. Algumas  nem querem discutir o problema, querem apenas desabafar.
             Mas há uma outra turma, as que estão muito convictas de que, para ganhar o jogo com os homens, é preciso dominar a arte da sonsice. Elas descrevem orgulhosamente como jamais contaram para maridos ou namorados, por exemplo, que ganharam um cartão de crédito da empresa em que trabalham. Ou jamais comentam os elogios que sua performance costuma receber. Enfatizam as dificuldades, fazem grandes dramas sobre o mau humor do chefe e sempre, sempre dizem que estão sem dinheiro.
              Morrem de rir quando contam isso tudo e são muito dispostas a ensinar suas manhas requintadas s amigas preocupadas com o aumento que receberam e terão de dizer, mais cedo ou mais tarde, ao marido que anda numa fase tão difícil no trabalho. A malicia feminina pode ser bem engraçada, conforme o talento da narradora das peripécias. Mas também soa meio patética, pois é assim  que  um  consenso idiota vai se formando.
           Outro dia, no cabeleireiro, uma moça loira muito bonita exibia seus talentos de atriz para mostrar como aprendeu a se fazer de aflita quando chegava em casa e encontrava o marido mal-humorado.  Inventava um  problema acontecido no trabalho, fingia uma crise de choro, até que o marido, penalizado, se acalmava e vinha consolá-la.
              Contei a ela sobre uma mulher que conheço que se aperfeiçoou tanto nesse tipo de artimanha que, sendo dessas chefes duronas que fazem todo mundo tremer à volta dela, consegue abrir uma torneira de lágrimas quando conveniente. Trata-se do que ela chama de “choro preventivo.” Quando percebe que tudo o planejou vai dar errad,  em  casa ou no   trabalho, minha amiga some de cena. Começam a procurá-la por toda parte,vaté que a encontram, normalmente no banheiro, aos prantos. Aí, ela representa com muita segurança seu desespero diante do fracasso iminente. É então que os caras não resistem e lhe dão o que estava pedindo – consolo e absolvição prévia pelos equívocos. E quando o evento termina, o marido ou o chefe ainda vem dizer: "Viu como deu tudo certo?".
                 Será essa a feminilidade?
                Se feminilidade é coisa que se tem de adquirir pelo aprendizado ou com o cartão de crédito, talvez tenhamos perdido alguma coisa quando estávamos nos preparando para o vestibular ou fazendo o MBA. Agora que andam dizendo que isso  algo que a mulher tem de recuperar d qualquer jeito se quiser manter aquele homem que chama de seu, percebe-se que não bastam os sapatos, a ginástica, os finalizadores de cabelos e as controladores de apetite. Há a feminilidade que faz um homem se sentir viril, e esta está perdida. Onde é que a gente compra? Vende online?
               As mulheres passam uma vida oscilando entre as dois imperativos categóricos desta era. O primeiro é o item número 1 dos manuais do sucesso na carreira profissional: o foco nos objetivos. O outro é brandido pelos especialistas que apontam a dedo para o abandono da feminilidade como a causa primeira do naufrágio dos relacionamentos amorosos.
             É como se a mulher precisasse ter uma chave mental  que ligue o foco quando se passa o crachá na  catraca da empresa e troque o modo de funcionamento quando  vira a chave na porta de casa. Dois mundos habitando a mesma alma feminina ou duas almas para cada um dos dois mundos, eis a questão.
             Talvez fosse a caso de olhar para aquelas mulheres que conseguiram resolver o dilema sem amargura ou fria estratégia. Há nelas um não sei quê capaz de dar conta de ir  bem no trabalho, lidar com o sucesso e ainda desfrutar de uma boa vida amorosa. Sei  pouco sobre elas. Mas, numa rápida olhada, observo duas coisas.
                A primeira é que elas têm uma dignidade que vem do conforto de se sentirem bem por suas  escolhas. A segunda é que uma dessas escolhas fez toda a diferença: a de um homem suficientemente bom a ponto de aceitá-las com sua pesada carga de remuneração excelente, ótimas perspectivas no trabalho e alegria em realizá-las. A chave do enigma consiste em desvendar se elas escolheram homens assim porque são  que são, ou foi o contrário.
           Esses rapazes que identificam mulheres femininas deixando-se iludir pela falsa fragilidade, precisam ficar mais espertos, tirar esse atraso, correr mais um pouco. Têm de chegar junto dessas garotas que miram bem lá na frente. Essas que se fazem de fracas e tontas devem saber que esse é um truque ruim. Mais cedo ou mais tarde, a fraude será revelada porque, já disse alguém, ninguém consegue mentir sobre algo tão essencial o tempo todo - ainda mais alguém que se sente uma fortaleza.
              E aquelas queixosas que vivem repetindo que os homens abandonam as mulheres poderosas, por favor, tomem muito, muito cuidado. Não dá mais para ouvir essa conversa. É um papo muito chato que já mostra um problema: se a gente que é amiga não aguenta mais, por que um sujeito legal iria suportar?

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