quinta-feira, 13 de outubro de 2016

DIFERENÇAS ENTRE GERAÇÕES

“A  ATUAL  ESTÁ  ESTAFADA”
  

  Os pais, em nome da capacidade de proteção, acabam desprotegendo e enfraquecendo seus filhos. É curioso quando os pais falam "poxa, eu não quero que meu filho passe pelo que eu passei". Fico imaginando: o que esse pai e essa mãe passaram? Tiveram de fazer comida? Limpar a casa? Cortar lenha, como o meu caso? Qual é o nível de sofrimento dessas tarefas? Ao meu ver, pelo contrário faziam parte da partilha de tarefas. Hoje, não mais. Durante muito tempo, a geração adulta cuidava de si mesma e dos filhos. Quando os filhos cresciam, os pais diziam: "Bom, agora você vai e cuida da sua vida. A atual geração de adultos cuida de si mesma. Se tiver filhos, cuida dos filhos. Às vezes, cuida também dos pais, com plano de saúde, atendimento. E, no caso de alguns, até dos netos. A atual geração que tem entre 35 e 40 anos cuida de três gerações. Ela está estafada, cansada, vive em estado de sonolência e deseja, de maneira repetida, libertar-se disso. E só há uma maneira de fazer isso: a procura contínua pela partilha das tarefas. Neste sentido, a educação escolar é uma parte que ajuda nesta questão. Mas ela depende também do coletivo, não apenas da escola. As novas gerações não podem crescer como adultos em férias, que vão ao cinema, passeiam, comem fora ... Só não trabalham. Essa condição é malévola. Pode ser até gostoso oferecer isso aos filhos, mas produz um enfraquecimento da capacidade do esforço mais adiante. Não é fazer o filho sofrer, mas viver de uma maneira mais partilhada o desgaste e o esforço.

“E  A  NOVA  É  MAL    EDUCADA”

   
    A nova geração não tem problema de formação. Ela é ligada à conectividade. Tem um nível de escolaridade que, mesmo que fragilizado, ainda consegue ser ultrapassado ... Mas ela chega mal educada no mundo do trabalho, sem percepção de hierarquia. Está acostu- mada a ser quem subordina os adultos em casa, tanto que há pais e mães que vivem em função dos filhos. Ao mesmo tempo, esta geração não tem, necessariamente, compro-misso com meta e prazo. Abandona coisas com facilidade. É comum ouvir falar hoje de jovem que começa uma faculdade e passa para outra. Ele descobre que não é o que quer, aí vai estudar mecânica, depois vai para a metalurgia, e passa para a gastronomia. Isso não é excesso de opção, é confusão mental. É ausência de clareza de onde se quer che-gar. E essa mesma geração é rica e exuberante naquilo que consegue, que é a criatividade. Se você observar as startups, são inéditas. Mas de quem são? Daqueles que vão fazer um esforço. As coisas não são automáticas, não acontecem sozinhas. Há um esforço imenso a ser feito para que as coisas tenham concretização. E a gente observa que o jovem, muitas vezes, chega até uma nova empresa e supõe que a chefia dele é como um pai e uma mãe, que têm de resolver as coisas para ele. ( ... ) Há uma expressão que precisa ser lembrada: o amor verdadeiro é aquele que não aceita tudo. Não podemos deixar que esta nova geração acredite em uma coisa, que é muito perigosa para a vida coletiva: confundir desejos com direitos.

(MÁRIO  CORTELLA - filósofo e escritor, em trechos de uma entrevista a Zero Hora)

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