sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

EM MINHA OPINIÃO


   Defender as nossas ideias sem deixar de respeitar a dos outros é difícil. Exige senso ético e abertura para mudar. Mas é do diálogo que nasce o entendimento, e é através de sua prática que ideias são ampliadas.  POR_EUGENIO MUSSAK 

  Eu penso diferente de você, mas vou defender até a morte seu direito de ter sua própria opinião. 
  Esta frase é atribuída a Voltaire, provavelmente dita para Rousseau, um misto de amigo . e oponente intelectual do filósofo francês. Mas, mesmo que não seja dele, a frase tem seu impacto, porque é o tipo de pensamento que se toma maior que seu autor. Ela envolve três questões que, quando caminham juntas, criam a trilha do mundo civilizado: a liberdade, o respeito e o discernimento. 
  Infelizmente com frequência falta uma das três nos mais diferentes tipos de relações humanas e, quando isso acontece, alguém será prejudicado, quando não todos os envolvidos. Quando falta liberdade a pessoa não se manifesta; quando falta respeito ela inibe a outra; e quando falta discernimento a conversa não tem valor. 
   O que é uma pena, pois, como se sabe, é do diálogo que nasce o entendimento, e é através de sua prática que as ideias são ampliadas. A liberdade para expressar sua opinião pressupõe o respeito 
do outro em ouvi-Ia, ainda que não mude a sua em um milímetro sequer. E é esse exercício que colabora para o aumento do discernimento, da clareza do pensamento a respeito de um fato qualquer. 
   Debater e defender ideias define a qualidade do intelectual, aquele que está sempre atento a novos aprendizados e sabe que a conversa é uma fonte tão grande de conhecimento quanto um bom livro. Mas não pode ser uma conversa qualquer. Primeiro, tem que ter conteúdo; segundo, tem que ter fluxo, ser um diálogo. Não há nada mais maçante do que um monólogo a dois. 
  Nas escolas americanas, há uma atividade extracurricular que já está começando a ser praticada no Brasil e que já é comum em faculdades de direito: o clube de debate. O tema está muito bem explorado no filme Debate pela Li berdade, com o Denzel \Vashington. Vale a pena vel: 
  Por que levar o debate para o ambiente escolar? 
  Ora, porque ele prepara o estudante para os embates da vida. Não serão poucas as vezes em que esse jovem terá que expor suas ideias para atingir seus objetivos e para ser respeitado. E, nesse caso, não valerá só a qualidade do argumento, mas também a força da argumentação, a capacidade de defender suas convicções, com lógica e com paixão. 
  A diferença entre um debate estruturado como se pratica nas escolas e o que acontece na vida real é que no mundo acadêmico algumas regras fundamentais são seguidas, como o respeito, a disposição para ouvir e o direito a réplicas. Tudo isso acompanhado de perto por um moderador, em geral mais velho, frequentemente um professor. 
  Na vida como ela é, não vai haver esse moderador educado e firme. As pessoas acabam cumprindo o duplo papel de debatedores e moderadores, o que é extremamente difícil. São necessários um bocado de senso ético, principalmente o respeito pelo direito de o outro ter sua própria opinião, e a abertura para mudar a sua, desde que movida pelo argumento da lógica. 
  Quem habita o selvagem mundo das empresas, para usar o exemplo mais evidente, sabe que unm executivo precisa desenvolver válias competências além de conhecer o business, e entre elas está a capacidade de negociar utilizando argumentos válidos. Não valem mais nem a força nem o engano. É preciso saber argumentar com base na lógica, e a lógica engorda quando se alimenta do argumento do outro. 
  Definitivamente não se sobrevive no ambiente corporativo sem a capacidade de ter e defender sua opinião. Há dois tipos que são malvistos nas empresas: os maria vai com as outras, que parecem não ter opinião e sempre adotam a dos outros, variando de acordo com o momento; e os donos da verdade, os truculentos que se consideram acima dos mortais comuns, que sempre sabem tudo e que precisam se afirmar a partir da força, talvez para esconder um complexo de inferioridade subjacente. Não há nada mais maçante do que um arrogante intelectual. 
  E não é só no trabalho que esses gladiadores verbais se apresentam em sua melhor forma Eles estão em todos os lugares. Talvez uma das arenas mais frequentes seja aquela que deveria ser um espaço de paz: o casamento. Conhece algum exemplo? 
   Recentemente encontrei um amigo em um bar. 
  Alias, esse sim é um lugar para debater qualquer coisa, pois todas as opiniões são bem-vindas, principalmente aquelas que apimentam a discussão acompanhada por cevada, malte ou uvas fermentadas. Os antigos gregos discutiam filosofia tomando vinho, daí a palavra simpósio, que significa exatamente beber junto, aproveitando para filosofar, claro. 
  Voltando ao meu amigo, ele estava naquele lugar exatamente afogando as mágoas pelo fim de seu casamento. Quando conversamos, ele desabafou e, respondendo à minha pergunta sobre o motivo principal da separação, ele explicou: 
   - No começo, discutíamos tentando encontrar uma solução. Com o tempo, passamos a discutir querendo ter razão. Foi quando tudo desandou ...  

(Revista LOLA)

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