segunda-feira, 18 de junho de 2012

E A GENTE ACREDITOU


  Texto publicado na seção Inspiração, Conversa com Danuza, revista Cláudia.

    Quantas mentiras nos contaram. Foram tantas que a gente bem cedo começa a se achar burra, incompetente e sem condições de fazer uma vida de sucesso, cheia de vitórias e felicidades. Uma das mentiras: que nós, mulheres, podemos conciliar perfeitamente as funções de mãe, esposa, companheira e amante e ainda por cima ter uma carreira profissional brilhante. É muito simples: não podemos.
     Se você se dedica de corpo e alma a seu filho recém-nascido, que na hora certa de mamar dorme e à noite, quando deveria estar dormindo, chora, com fome, é impossível estar sexy para cumprir um dos papéis considerados obrigatórios, o de amante. Aliás, nem o de companheira; quem consegue trocar uma ideia sobre política se não teve tempo de fazer as unhas?
      Mas a humanidade está aí, querendo convencer as mulheres - e os maridos - de que um peixinho com ervas ao forno com uma batatinha cozida al dente, acompanhado de um vinhozinho branco, é facílimo de fazer e que assim o casamento continuará tendo aquele toque de glamour de filme francês. Ah, quanta mentira.
      Outra diz respeito à mulher que trabalha; não à que faz de conta que trabalha, mas a que trabalha mesmo. No começo, ela até tenta se vestir no capricho, usar salto e estar sempre maquiada, mas cedo se vão as ilusões. Entre em qualquer local de trabalho às 4 da tarde e vai ver um bando de mulheres maltratadas, com o cabelo horrendo, sem um pingo do glamour da executivas da Madison (nos filmes). Dizer que o trabalho enobrece; isso pode até ser ver· dade. Mas ele também envelhece, resseca a pele. Não adianta: uma mulher glamourosa e pronta a fazer todos os charmes - aqueles que enlouquecem os homens - precisa, fundamentalmente, de duas coisas: tempo e dinheiro. Tempo para hidratar os cabelos, fazer mechas, praticar  musculação, comprar uma sandália nova, depilar; e dinheiro para tudo isso e ainda para pagar uma boa empregada, o que também custa dinheiro. 
       É interessante a imagem da mulher que depois do expediente, vai ao toalete - um toalete
cuja luz é insuportavelmente branca e fria, retoca a maquiagem, coloca os brincos e sai alegremente para a happy hour. Aliás, se as empresas trocassem a iluminação de seus ele vadores e banheiros por lâmpadas âmbar, os índices de produtividade iriam ao infinito; não há autoestima feminina que resista quando elas se olham nos espelhos desses recintos.   
      Felizes são as mulheres que têm cinco minutos - só cinco - para decidir a roupa que vão usar no trabalho. Na luta contra o relógio, o uniforme termina sendo preto ou bege para tudo combinar sem que um só minuto seja perdido. Mas tem as outras, com filhos já crescidos: Quando chegam em casa, têm de perguntar com foi o dia na escola, procurar entender por que  eles estão agressivos. 
     E ainda há aquelas que têm um namorado que apronta, mas acham  que não conseguem viver sem ele, apesar de um grande cientista ter descoberto que só existem três coisas sem as quais não se pode viver: ar,  água e pão. 
     Convenhamos que é difícil ser um mulher de verdade; impossível mesmo, eu diria.


                                                               (Revista CLAUDIA, junho de 2012.)

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