Sou noturno. Gosto de escrever até de madrugada. Entro na internet em horários variados. Há gente que, seja qual for o horário em que apareço, permanece on-line. Em todas as redes sociais ao mesmo tempo! Recentemente conversei pelo Facebook com um rapaz de Belo Horizonte, de 25 anos. Não consegue arrumar emprego nem amigos. Confessou: "Só falo da minha intimidade quando abro a webcam". Um diretor de uma multinacional, divorciado e sociável, lamentou-se:A maior parte dos meus antigos amigos hoje em dia só se relaciona pela internet.
O ciberviciado entra em síndrome de abstinência se não estiver plugado. É fácil reconhecê-lo: em locais públicos tecla nervosamente o celular à procura de uma conexão. Assume uma expressão de alívio quando consegue trocar duas ou três palavras com alguém que nem sequer conhece pessoalmente.
Eu mesmo já me aproximei perigosamente do cibervício. Houve uma fase em que sentava para escrever e passava horas trocando e-mails, no Twitter, MSN, Facebook. Reconheço um saldo positivo: são inúmeras as pessoas com quem estabeleci uma sólida amizade. Com um toque gastronômico, admito. Uma amiga mineira, outra paraense, senhoras do interior de São Paulo, todas habituaram-se a me enviar vidros de compota, bombons de cupuaçu e uma infinidade de delícias. Como conheceria damas tão dedicadas a me engordar sem o Twitter? Na época, porém, minha produção literária diminuiu fragorosamente. Ainda adoro as redes sociais, mas me contenho. Boa parte dos autores sofre a tendência. A palavra escrita é nosso meio de expressão. Nas redes sociais, eu me torno muito mais sedutor que ao vivo, com minha estatura mediana, barriga proeminente e óculos de míope.
O ciberviciado entra em síndrome de abstinência se não estiver plugado. É fácil reconhecê-lo: em locais públicos tecla nervosamente o celular à procura de uma conexão. Assume uma expressão de alívio quando consegue trocar duas ou três palavras com alguém que nem sequer conhece pessoalmente.
Eu mesmo já me aproximei perigosamente do cibervício. Houve uma fase em que sentava para escrever e passava horas trocando e-mails, no Twitter, MSN, Facebook. Reconheço um saldo positivo: são inúmeras as pessoas com quem estabeleci uma sólida amizade. Com um toque gastronômico, admito. Uma amiga mineira, outra paraense, senhoras do interior de São Paulo, todas habituaram-se a me enviar vidros de compota, bombons de cupuaçu e uma infinidade de delícias. Como conheceria damas tão dedicadas a me engordar sem o Twitter? Na época, porém, minha produção literária diminuiu fragorosamente. Ainda adoro as redes sociais, mas me contenho. Boa parte dos autores sofre a tendência. A palavra escrita é nosso meio de expressão. Nas redes sociais, eu me torno muito mais sedutor que ao vivo, com minha estatura mediana, barriga proeminente e óculos de míope.
Bate-papos na web, com todas as fantasias
decorrentes, são uma isca para os artistas. Tolstói não teria escrito Guerra e
paz nem Proust Em busca do tempo perdido se tivessem computador. Prefiro não
citar nomes, mas alguns escritores famosos que conheço leem e produzem menos do
que antes porque ficam se divertindo na web.
Para algumas pessoas, o uso contínuo da internet
tem impacto no trabalho, nas relações de amizade e também nas afetivas. A
pesquisadora americana Kimberly Young fundou o Center for Online Addiction, em
Bradford, na Pensilvânia, para tratar ciberviciados. Como nos EUA existem
grupos para tudo, lá funcionam os de apoio para ciberviúvas - esposas de viciados
em relações amorosas, pornografia ou apostas pela internet. A compulsão já é tratada
em vários outros centros especializados dos EUA. O fenômeno é mundial. O
hospital londrino Capio Nightinsale também oferece sessões de terapia a jovens
viciados ao computador. Na Coreia do Sul, o tratamento procura estimular as
relações face a face e trabalhos manuais, para criar outros interesses entre os
ciberviciados. Desde 2008 o Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo
iniciou o tratamento de jovens com dependência tecnológica, incluindo em
videogames.
Os casos mais sérios de que tive
conhecimento acontecem no Japão. Existem pessoas que moram em lan houses! Explico: em Tóquio, há lan houses com espaços
privativos. A pessoa chega de mochila.
Pendura-se no computador noite e dia. Dorme algumas horas num colchonete e
volta a viver no fantástico mundo da web. Quando sai, leva tudo o que tem na
mochila. Alimenta-se, arruma dinheiro de algum jeito e volta a se instalar na
lan house de sua preferência.
Muitos pais se negam a acreditar nos
perigos da internet porque, afinal, o adolescente está sob seus olhos, dando
uma falsa impressão de segurança. Foi o caso de uma amiga carioca. Sua filha
passava horas on-line. A mãe orgulhava-se do empenho da garota. "Talvez ela estude informática!",
dizia. Há dois meses a menina, menor de idade, fugiu de casa. Desesperada, a
mãe descobriu que ela estava num site de relacionamento com o sugestivo apelido
de Safadinha.
São
raros os pais que detectam quando o adolescente começa a usar drogas
tradicionais. O cibervício também é enganador. Pais tendem a acreditar que
mexer com computador é sinônimo de inteligência. Preferem o adolescente em casa
que na balada. É um erro. No mínimo, os ciberviciados afastam-se do convívio
social importante para sua formação. Há quem diga que o viver on-line é tão
perigoso quanto consumir cocaína ou qualquer outra droga. Talvez seja exagero.
Mas o cibervício pode afetar perigosamente a vida do dependente e destruir sua
qualidade de vida.
( Walcyr Carrasco é jornalista. autor de livros,peças
teatrais e novelas de televisão. Revista ÉPOCA, janeiro de 2012.)
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