"Por
raiva e ódio, as pessoas seguem em frente só para dar um bom troco"
Quando
alguém nos magoa e nos faz sofrer, o que acontece? Ou se fica magoada e se
sofre, o que em grande parte das vezes termina em depressão, ou se fica com
muita raiva. Mas a raiva - foi o que nos ensinaram - é um sentimento feio, baixo,
que pessoas superiores não devem ter. Vamos discordar: uma boa raiva pode ser
saudável e faz muito bem à pele, ao coração e à alma. Além de que, em certas
horas, ninguém está fazendo a menor
questão de ser superior.
Conseguir
ter raiva e passar recibo do que está sentindo é excelente para a saúde física
e mental; a depressão leva a gente para a cama, tira a vontade de tudo e conduz à inércia. Já a raiva leva a
gente a fazer coisas, mesmo que sejam coisas erradas. Na depressão, você não se
levanta nem para ir ao cabeleireiro; já na hora da raiva, você pinta o cabelo
de vermelho e, ainda que fique péssimo, é bem mais bacana que ficar prostrada olhando para o teto.
Exemplos são sempre ótimos: se uma mulher é abandonada por um homem. entre o
desespero e o ódio, o que é melhor? O ódio, claro.
Por
raiva e ódio, as pessoas seguem em frente só para dar um bom troco e mostrar
que não é qualquer coisa - como um mal de amor - que as derruba. Quem foi o
sábio que disse que viver bem é a vingança mais eficiente?
A
primeira providência de uma mulher com raiva é pensar: "Como é que vou me
vingar?" Para começar, mostrando que não está sofrendo. Para isso, é preciso estar na sua melhor forma, razão
mais do que suficiente para perder aqueles 3 quilinhos, comprar um vestido
novo, voltar a usar salto alto. Parece bobagem? Pois não é. Dificilmente você
vai ver uma mulher se equilibrando num salto oito com depressão. De salto, automaticamente
se encolhe a barriga, se levanta o queixo e os ombros ficam na posição certa, desafiando
o mundo. E não é perfeito estar assim, em vez de arrasada?
Uma
coisa leva a outra: por sentimentos nobres, como o amor-próprio, o orgulho e a
vaidade - e a raiva - não se deixa a peteca cair em público, e com isso vem o
hábito de não deixar a peteca cair nunca. Reflita: se você é normal, deve ter
raiva de alguém. O que pode fazer para irritar esse alguém? Ficar linda, ter
sucesso, ser vista sorrindo, vibrando - ser feliz, enfim. Digamos que você seja
uma desenhista de moda e que esteja sem a menor inspiração para criar a próxima
coleção. Faz o quê? Pense numa pessoa que você detesta - por justa causa, é
claro - e imagine que glória realizar um trabalho que seja elogiado, que faça
com que você se torne a melhor de todas. Só de fantasiar esse delicioso prazer,
toda a criação vai fluir fácil, como nunca aconteceu - só de raiva.
A cada
vez que for ao jornaleiro da esquina, lembre que pode se encontrar com ele -
aquele que fez você sofrer tanto. E ele vai ver como você está muito mais linda
agora, sem ele; deve estar sendo bem tratada, vai cogitar. E pode ser o máximo
encontrar na esquina outro alguém que a faça "feliz para sempre",
pelo menos por uns tempos. Ou não?
Por
isso, querida, quando vier aquela raiva cega, aquela vontade de gritar, de
xingar, de matar, transforme toda essa energia a seu favor. Assim como o amor
constrói para a eternidade, a raiva pode construir a prazo bem mais curto - e
de superior e inferior, afinal, todos nós temos um pouco. É uma delícia ter uma
boa raiva; sobretudo, muito construtivo.
(Revista LOLA,
setembro de 2012.)
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