O psiquiatra Flávio Gikovate diz que o cotidiano
hoje é marcado por egoísmo,
vaidade e compras. Por PATRÍCIA ZAIDAN
Por quatro horas, o psiquiatra e psicoterapeuta Flávio Gikovate e o filósofo Renato Janine Ribeiro falaram sobre a vida nestes tempos de vaidade e alto consumo. O resultado está no livro Nossa Sorte, Nosso Norte (Papirus 7 Mares), que sairá em DVD. Gikovate, que já publicou 25 títulos, tem programa na Rádio CBN e chegou a participar da novela Passione, comenta dilemas atuais.
Por que as pessoas têm hoje tanta necessidade
de ser vistas e de comprar coisas?
Esse é um dos graves reflexos da revolução sexual.
Achávamos que a liberação desarmaria os seres humanos, traria democracia, já
que todo mundo transaria com todo mundo. Mas virou uma corrida para chamar a
atenção do outro. Cresceu a busca pela aparência física, que é amiga íntima do
consumismo. Os hippies só queriam amor, sexo, paz e aconchego. Nada parecido
com auto erotismo e exibição no Facebook.
E o Facebook
atiça a inveja.
E mexe com a
frustração. Estar ali é como ser dono de uma revista de celebridade que publica
as próprias notícias. Você vai à praia e põe lá. Compra e posta. Quem não foi e
não tem baba. Olhar a vida alheia gera tensão. Não traz felicidade.
Como está a
família?
Há muito egoísmo. Gosta-se dela desde que se possa
receber mais do que dar. As alianças são feitas entre o generoso e o egoísta.
Mas quem só dá anda cansado desse papel. O desafio é equilibrar, alternar.
Por que
trabalhamos tanto?
A vida está
mais longa, precisamos de mais dinheiro para custeá-la. Além disso, profissão
virou identidade. Você conhece alguém e já quer saber o que ele faz. Nem
pergunta se ele ama, se tem filhos, um lazer ... O que é ruim. O Renato diz que
não haverá emprego para todos e que trabalharemos três dias por semana para sobrar
vaga para os outros. E, na folga, cultuaremos o prazer.
Mulheres se
queixam de assumir tudo em casa. É irreversível?
Elas não voltarão a lidar com a casa e continuarão
crescendo na carreira. O homem, cada vez mais folgado, mudará. Ele se acomoda
pelas facilidades eróticas. Não precisa mais fazer força para ter sexo: chega e
leva. O momento é de encrenca geral. Mas minha futurologia é otimista. Estamos
em transição: o homem crescerá, se envolverá com casa, filho ... Será bom para
todos.
(Revista CLAUDIA - dezembro 2012 )
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