Quantas mentiras nos contaram. Foram tantas que a
gente bem cedo começa a se achar burra, incompetente e sem condições de fazer
uma vida de sucesso, cheia de vitórias e felicidades. Uma das mentiras: que
nós, mulheres, podemos conciliar perfeitamente as funções de mãe, esposa,
companheira e amante e ainda por cima ter uma carreira profissional brilhante.
É muito simples: não podemos.
Se você se dedica de corpo e alma a seu filho
recém-nascido, que na hora certa de mamar dorme e à noite, quando deveria estar
dormindo, chora, com fome, é impossível estar sexy para cumprir um dos papéis
considerados obrigatórios, o de amante. Aliás, nem o de companheira; quem
consegue trocar uma ideia sobre política se não teve tempo de fazer as unhas?
Mas a humanidade está aí, querendo convencer as
mulheres - e os maridos - de que um peixinho com ervas ao forno com uma
batatinha cozida al dente, acompanhado de um vinhozinho branco, é facílimo de
fazer e que assim o casamento continuará tendo aquele toque de glamour de filme
francês. Ah, quanta mentira.
Outra diz respeito à mulher que trabalha; não à que
faz de conta que trabalha, mas a que trabalha mesmo. No começo, ela até tenta
se vestir no capricho, usar salto e estar sempre maquiada, mas cedo se vão as
ilusões. Entre em qualquer local de trabalho às 4 da tarde e vai ver um bando
de mulheres maltratadas, com o cabelo horrendo, sem um pingo do glamour da executivas da Madison (nos filmes). Dizer que o trabalho enobrece; isso pode
até ser ver· dade. Mas ele também envelhece, resseca a pele. Não adianta: uma
mulher glamourosa e pronta a fazer todos os charmes - aqueles que enlouquecem
os homens - precisa, fundamentalmente, de duas coisas: tempo e dinheiro. Tempo para hidratar os cabelos, fazer mechas, praticar musculação, comprar uma
sandália nova, depilar; e dinheiro para tudo isso e ainda para pagar uma boa empregada, o que também custa dinheiro.
É
interessante a imagem da mulher que depois do expediente, vai ao toalete - um
toalete
cuja luz é insuportavelmente branca e fria,
retoca a maquiagem, coloca os brincos e sai alegremente para a happy hour.
Aliás, se as empresas trocassem a iluminação de seus ele vadores e banheiros
por lâmpadas âmbar, os índices de produtividade iriam ao infinito; não há
autoestima feminina que resista quando elas se olham nos espelhos desses
recintos.
Felizes são as mulheres que têm cinco minutos - só cinco - para decidir
a roupa que vão usar no trabalho. Na luta contra o relógio, o uniforme termina
sendo preto ou bege para tudo combinar sem que um só minuto seja perdido. Mas
tem as outras, com filhos já crescidos: Quando chegam em casa, têm de perguntar com foi o
dia na escola, procurar entender por que eles estão agressivos.
E ainda há
aquelas que têm um namorado que apronta, mas acham que não conseguem viver sem ele,
apesar de um grande cientista ter descoberto que só existem três coisas sem as
quais não se pode viver: ar, água e pão.
Convenhamos que é difícil ser um mulher
de verdade; impossível mesmo, eu diria.
(Revista CLAUDIA, junho de 2012.)
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