O
que, na minha ignorante opinião, tira um pouco da monotonia desse esporte são os obstáculos do
circuito. Um campo de golfe tem sempre pequenos lagos, colinas, depressões e
barrancos por onde a bolinha tem de cruzar em tacadas de longa distância. Mas,
pelo menos, na parte da competição que eu assisti, o que deu, de fato, alguma emoção
ao jogo, foi o comportamento de espectadores neófitos como eu.
Como
a área é muito grande, são 970 mil metros quadrados, o público fica circulando
a pé pelas margens do circuito. Têm umas cordinhas delimitando o acesso do público,
mas não é incomum ver alguém desavisado andar onde não deve. Uma senhora,
trazendo um poodle numa coleira, causou o maior alvoroço ao passear com o
bicho, tranquilamente, perto do buraco onde o americano Matt Kuchar, que viria
a ganhar a medalha de bronze, tentava acertar sua bolinha.
Eu
não sei por que as velhinhas gostam tanto de campos de golfe, mas o fato é que
o jogo teve de ser interrompido de novo quando outra senhora, provavelmente
cansada de andar sob o sol forte do descampado, resolveu sentar em um barranco
e balançar as pernas. Enquanto um irritado golfista suíço aguardava, um batalhão
de voluntários partiu em desabalada carreira para retirá-la.
Não
a culpe, leitor. Pode acontecer com qualquer um. Eu li as regras e me informei
satisfatoriamente para não fazer besteira. Mesmo assim fiz. Eu sabia que a bolinha
pode ser alçada para fora da área do circuito, e que mesmo assim a jogada vale.
Não se pode tocá-la. Mas foi mais forte do que eu.
Quando
vi, no meio da estrada, uma bolinha branca tão bonitinha, cheia de alvéolos,
não resisti e me abaixei para apanhá-la. Quase fui linchado por uma multidão de
aficionados enfurecidos.
Quando vi na televisão, que uma mulher fez o mesmo
que eu, logo perto do desfecho da grande final, com a bolinha do golfista que
ganhou a medalha de ouro, o britânico Justin Rose, senti um alivio imenso por
minha gafe ter sido com um golfista retardatário e sem chances de vitória,
pouco afortunado pelo interesse das câmeras. Pior do que mico ao vivo, via
satélite, só mesmo aguentar um jogo tão chato.
(MARCELO CANELLAS – Diário de Santa Maria, 21/08/2016)
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