Em vez disso, a semana que passou nos
deu a noção exata do grau de mediocridade da fornada de políticos mais tacanha
e obtusa que o Brasil já produziu. Três episódios foram especialmente
constrangedores, e têm apenas a vantagem de desmascarar seus protagonistas. A carta
do vice-presidente da República, fingindo beicinho para conspirar, as manobras protelatórias
do presidente da Câmara Federal, usando seu cargo para inviabilizar a
investigação contra ele no Conselho de Ética da casa; e a escaramuça dos
deputados durante a votação secreta para a eleição da comissão do impeachment,
com troca de insultos, empurrões, sopapos e cabeçadas entre suas excelências.
É importante deixar claro que a contraposição
entre a pequena política e a grande política nada tem a ver com a distinção
entre progressistas e retrógrados, ou entre esquerda e direita. O que se
compara aqui é a ocultação de interesses e a disposição sincera ao diálogo, a
indigência teórica e o brilho de novas formulações, a mera técnica de obtenção
de maioria parlamentar e a elaboração de projetos de país. A vitória da pequena
política tem um pouco a ver com a distinção feita por Max Weber entre os políticos
que vivem "para a política" e os que vivem "da política".
Basta olhar para o que se transformou, hoje, o PMDB. Um partido que já foi protagonista
da mais alta política, sob o comando de líderes da estatura de um Ulysses
Guimarães ou de um Miguel Arraes, é hoje capitaneado
por
figuras como Eduardo Cunha e Renan Calheiros.
O
partido da presidente Dilma padece do mesmo mal. Para quem já teve um Florestan
Fernandes ou um Plínio de Arruda Sampaio em seus quadros parlamentares, dá
vontade
de
chorar ao ouvir a retórica de "líderes" como Siba Machado e Delcídio
do Amaral que, aliás, já saiu de cena pelas razões conhecidas. Ao aceitar as
regras do jogo parlamentar do troca-troca, aderindo à pequena política como
estratégia para governar, o PT de Dilma renunciou a qualquer projeto de
transformação social, submetendo-se ao contrapeso de aliados interessados em
perpetuar o atraso histórico que nos mantém atados à desigualdade iníqua que
aprofunda o abismo entre ricos e pobres. É o preço que a presidente tem de
pagar. Mesmo sem ter nenhuma prova contra ela, corre o risco de enfrentar um processo
de impeachment. A não ser que se convença, finalmente, de que
só
a grande política pode salvá-la.
(Marcelo Canellas - Diário de Santa Maria, 13/12/2015)
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