Como num
conto de literatura surrealista vemos crianças descalças, dentes podres,
roupas amarfanhadas e sorriso ingênuo, penduradas nas costas das mães ou na
cintura dos pais. Como num tobogã imaginário vemos crianças escorregando pelas
calçadas, entre os canteiros, sob os bancos da praça e aos pés dos passantes
apressados e pré-ocupados.
Como num
documentário inconveniente somos obrigados a vê-Ias. Somos desafiados a
enxergá-Ias. Plantados, de olhos esbugalhados de admiração, frente às vitrinas
lindamente decorados com motivos de Páscoa dos shopping centers. São homens,
mulheres e crianças. É o que restou dos cerca de 2000 povos que nesta terra brasilis viviam quando aqui
chegaram os portugueses nos idos de 1500. São os nativos que insistimos em
chamar de índios – como se fossem todos iguais.
É hora de
vê-Ias. É hora de pensar em Paz, fraternidade, . de celebração da Páscoa. Por
alguns dias eles ficarão visíveis. Logo voltarão a ficar invisíveis. Ninguém
mais os verá. Voltarão a ser invisíveis aos nossos olhos cristãos e sempre tão
preocupados com a violência que cada vez mais nos tira o sono. Como diz uma
professora minha : que mundo é esse?
(Valdo Barcelos - Prof. e escritor-UFSM)
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