Um dia desses, levada talvez pelo clima da época ( encerramento de um ano e começo de outro), propícia a reflexões, estive pensando sobre a amizade e sua importância e reflexos na vida das pessoas. Foi aí que lembrei de uma reportagem que li sobre Ingrid Betancourt e Clara Rojas, cuja grande amizade se transformou em inimizade durante o longo cativeiro que viveram na selva colombiana.As duas se consideravam irmãs, íntimas a ponto de Clara ser a coordenadora de campanha de Ingrid, que se candidatara à presidência. Foi aí que elas resolveram fazer uma viagem pelo interior da Colômbia, acompanhadas por uma equipe que incluía cinegrafista e jornalista. Tal viagem acabou ocasionando o sequestro de ambas pelas FARC. Aliás, eu me pergunto por que andavam “passeando no bosque” essas duas senhoras, que sabiam ser lá o domínio dos guerrilheiros? Será que não buscavam isso mesmo, o seqüestro, como forma de alavancar a campanha de Ingrid, já meio capenga? Se era essa a intenção, o tiro saiu pela culatra, pois ficaram seis anos em poder deles.
Foi então que a amizade desandou. Surgiram os olhares de desconfiança, os longos silêncios, as picuinhas por qualquer coisa, a ponto de brigarem até por um varal de secar roupas. A coisa se deteriorou tanto, que os chefes dos guerrilheiros procuraram intervir para melhorar o comportamento das duas, que se desentendiam por qualquer bobagem.
Finalmente, Clara foi libertada em janeiro de 2008, seis meses antes da bombástica e mal explicada libertação de Ingrid por um grupo de militares. Acho que acordos e dinheiro rolaram nos bastidores. Como Ingrid e um grupo de guerrilheiros se achavam num lugar tão oportuno e providencial para o grupo de salvadores? E, quando ela desembarcou da aeronave, estava muito lépida e fagueira para quem a mídia alardeava encontrar-se em péssimo estado de saúde e às portas da morte, se não fosse logo libertada!
Hoje, Clara vive em Bogotá, com o filho que teve no cativeiro e lançou um livro, “Eu prisioneira das Farc”. Já Ingrid vive em Paris, numa casa cercada por montanhas nevadas (diz não suportar a paisagem verde das matas) e lançou o livro “Não há silêncio que não termine”, que dizem ser impactante. As duas nunca mais se falaram.
O que explica um fato desses? A amizade das duas não era tão verdadeira e sólida a ponto de se tornar apoio, solidariedade, conforto, num momento em que as vaidades pessoais foram postas à prova? Ou uma situação-limite como a que viveram é capaz de transformar em uma usina de ressentimentos qualquer amizade? Fica a dúvida.
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