Sedentarismo,
dieta
errada, depressão e pouco treino intelectual influenciam
no (mau) funcionamento
do cérebro.
Veja
como
reverter
esses efeitos e turbinar sua capacidade de gravar informações.
O vencimento da fatura do cartão de crédito,
o nome daquela atriz (aquela, daquele filme), o título do
último livro que você leu ... Às vezes
parece que as informações são deletadas da sua cabeça sem aviso prévio? As
falhas da memória são consequência do passar do tempo, sim, mas não só.
"Diabetes, hipertensão e problemas da tireoide, assim como déficit
de vitaminas e depressão, se não
controlados, comprometem o desempenho cerebral", explica a
neurologista Sonia Brucki, professora
da Universidade de São Paulo. No entanto, pessoas saudáveis e com a mesma
idade podem ter comportamentos diferentes em relação às lembranças
- e, enquanto uma se recorda de
datas e detalhes, outra esquece o que estava vestindo ontem. "Somos
influenciados também por nossa alimentação, pela
prática de atividades físicas e intelectuais e, acredite, pelo
bom humor", completa Sonia. A genética
e a idade têm um peso de 25% a 30% no
desempenho cerebral. Já esses outros fatores respondem pela
maioria restante. Portanto, quem quer melhorar a memória
precisa manter a saúde em dia e se empenhar em treinar o cérebro - e esse
é um dos principais ensinamentos de Nelson Dellis,
quatro vezes campeão da memória nos Estados Unidos
(onde existe uma competição que mede o potencial de
recordação dos participantes). Dellis
esteve no Brasil em abril, quando contou a CLAUDIA sobre as técnicas que usa quando quer
gravar uma informação e confessou que também vive
esquecendo onde guardou as chaves, já que dá menos atenção a elas. "Para se
lembrar de algo, a pessoa precisa focar", alerta
o psiquiatra Luís Gustavo Buzian Brasil, da clínica
Maia, em São Paulo. A seguir, quatro dicas para turbinar a memória.
LEVE UMA VIDA SAUDÁVEL
Quem faz atividade física tem 35% menos
risco de declínio cognitivo do que os sedentários, aponta estudo publicado no Journal of Intemal Medicine. O prato também conta - e muito.
Alimentos como nozes, azeite e tomate
(típicos da dieta mediterrânea) são ricos em ômega 3, gordura monoinsaturada e
licopeno, respectivamente, que retardam a oxidação das células como um todo, inclusive
os neurônios. ''Vinho tinto de qualidade e sem exageros e alimentos integrais
também fazem diferença", complementa o nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da
Associação Brasileira de Nutrologia, Outro componente
especialmente benéfico para a memória, descobriu-se
recentemente, é o DHA, presente no ômega 3. Ele pode ser encontrado em peixes de água
fria, como salmão e atum, ou em
suplementos - com orientação médica.
"A
suplementação é contraindicada para quem tem problemas de coagulação", avisa
Ribas Filho.
DESAFIE
O RACIOCÍNIO SEMPRE
Leitura, palavras cruzadas, quebra-cabeças
e mesmo discussões sobre política
e atualidades exercitam nossa capacidade de guardar dados. "Se alguém
trabalhou como advogado a vida inteira e, depois da aposentadoria, deixa de
ter atividades intelectuais, a memória e a concentração são prejudicadas",
alerta Sonia Brucki. Quer dizer, para manter o cérebro em pleno funcionamento é
preciso desafiar o raciocínio constantemente. E, para
desenvolvê-lo, essas atividades são essenciais também, como notou o engenheiro
Antônio Carlos Guarini Perpétuo, fundador da Supera, rede de
escolas baseadas na "ginástica cerebral".
. O conceito
por trás dessa rede é estimular o cérebro por meio de exercícios que
permitem restabelecer e turbinar suas conexões. Perpétuo decidiu apostar nisso depois
que notou a diferença que o treino com o ábaco, calculadora
manual da
Antiguidade, tinha feito pela capacidade de concentração e aprendizado de seu filho, então
com 9 anos.
TREINE SEU CÉREBRO
Nelson Dellis, campeão
da memória, dá sua receita: "Quando
quer memorizar algo, o primeiro passo é prestar atenção",
afirma ele, que leva a sério as recomendações quanto
a alimentação, exercícios e bem-estar já mencionadas.
Em seguida, ele indica algumas de suas estratégias. Suponhamos que você
precise decorar o nome de alguém e suas feições. Crie uma história
entre elas - Isabel, digamos, que se parece com sua tia, detesta o próprio nome. Então
visualize-as discutindo sobre isso. Ela grita, brava:
"Detesto me chamar Isabel!" Use suas sensações: você fica
assustada com os gritos. Inverossímil? "É útil criar cenas exageradas.
Como aquela imagem se destaca das outras, é mais facilmente armazenada pelo cérebro", ele
diz. Também ajuda situar a cena imaginária em um cômodo da sua casa ou outro
ambiente familiar. Outra estratégia: aproveite momentos livres (como o
trânsito) para "repassar" dados que precisa guardar - como a apresentação de um projeto.
MANTENHA O ASTRAL ALTO
"A
depressão causa um rebaixamento da capacidade neuronal", alerta o
psiquiatra Luís Gustavo Buzian Brasil. Com isso, atividades
cerebrais, como memória e atenção, ficam . comprometidas
e a pessoa tem maior dificuldade de se lembrar de fatos antigos e (por causa da
atenção menor) recentes.
"Períodos de tristeza não patológica também prejudicam a
concentração", avisa o especialista. "A pessoa sente um desânimo que
acaba diminuindo sua capacidade de focar." Segundo ele, se a
sensação se prolonga por mais de três semanas, já é motivo para procurar um
médico - remédios e psicoterapia
podem
ajudar. Mas nem só os casos extremos influenciam no funcionamento do cérebro.
"Seguir
a vida com bom humor e leveza, assim como ver amigos com frequência e
participar de atividades em grupo, é importante para o bem-estar", aponta Sonia. Quanto melhor a pessoa estiver se sentindo, maiores as chances de
ter suas funções mentais a pleno vapor.
(LlLIANE PRATA, revista
CLAUDIA, julho de 2015)