O psicólogo
Marcos Nascirnento diz que a famíília se esqueceu de olhar para os meninos.
PATRÍCIA ZAiDAN
No
Encontro Global de Parcerias pelo Fim da
Violência Doméstica, que a ONG Vital Voices e o Instituto Avon realizaram
em Brasília, o psicólogo Marcos Nascimento, pesquisador de sexualidade e
direitos humanos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, observou que o
homem cresce se sentindo só e sem lugar para rever seus problemas.
Quando decidiu
trabalhar com a ala masculina?
Antes da psicologia, fiz engenharia com quatro
mulheres e 25 homens. As brincadeiras, cheias de sacanagem, davam o tom de como
as coisas funcionavam: um queria provar que era melhor, o outro desqualificava
a masculinidade do colega. No futebol, via beijo, abraço, choro e fúria. Fui me
interessando pelo comportamento do homem. Ele não fala da sua sexualidade, do
medo do fracasso, de filhos. Especialistas em gênero também não o veem; estudam
o feminino, o direito e o papel da mulher.
Por que usa
o futebol nos seus grupos?
É um campo de emoções como poucos. Numa ONG, após o
jogo, refletíamos com os jovens. Eles acabavam sentindo a capacidade de viver a
agressão e a amorosidade. Discutiam o sentido da violência. Em casa, não
ensinam ao garoto que não se deve ser rude com mulheres. Ele nem nota que foi
autoritário se rouba um beijo e força a menina a "ficar".
A família
tem dificuldade de ensinar?
É cultural. Enquanto o menino vê TV, a menina ajuda
na casa. Fica a ideia de que ela deve servi-Io. Outra mensagem que ela leva
para a vida adulta: o ciúme e o controle por parte do homem - duas atitudes que
geram violência - significam cuidado e proteção. Ao educar dessa forma, a
família naturaliza o perigo. Para alguns homens, não há como resolver uma
questão sem gritar ou agredir. Ele justifica: "Meu pai fazia assim, meu
avô e o meu sogro também".
O
menosprezo, o achincalhe, o xingamento são tidos como agressão?
O homem acha
que só o que deixa roxo é ataque. A pressão psicológica é até mais nociva. Só
percebe quando é sensibilizado por alguém que mostra que, com as brigas, os
filhos se prejudicam, todos perdem.
O que leva
um homem a grupos como esses?
Desejo de mudar, amadurecer, aprimorar relações
afetivas. Ou vai por pressão da mulher. Há ganhos nos dois casos - ele não
tinha com quem dividir o que sente e aprender. Uma vez, um rapaz contou que a
noiva o traíra. Os outros perguntaram se iria atrás do cara, se daria uns tapas
na moça. Ele disse que fez melhor: rompeu por quebra de confiança. E que
resolver conflitos com estupidez dava em mais problemas. Os outros foram para
casa pensando.
(Revista Claudia
, fevereiro de 2013)
Considero muito oportuna esta entrevista de Patrícia Zaidan com o psicólogo Marcos Nascimento. Fala-se a todo momento na necessidade de atendimento e proteção as mulheres vítimas de violência por parte de seus companheiros. É necessário, é ótimo? Mas quem se preocupa com os homens que têm esse comportamento? Eles certamente não nasceram assim! Em algum momento de suas vidas algo falhou em sua educação e eles adotaram tal comportamento. Está na hora de eles também receberem um atendimento psicológico que os torne capazes de ter uma vida normal. Não podem se tornar párias dentro da sociedade, ser proibidos de ter mulher, família, filhos. Somente cadeia não vai torná-los melhores! Necessitam ter a oportunidade de uma nova chance.